Xylobag e as sacolas de plástico
* Ecio Rodrigues
Diante
da proibição de distribuição gratuita das sacolas de plástico, devido ao
impacto ambiental que elas causam, os supermercados estão tentando empurrar ao
consumidor - como sempre, a parte mais prejudicada na história - as próprias
sacolas de plástico, ou de PVC, que podem ser compradas, ou as bolsas de lona,
das que se usavam antigamente nas feiras.
Inacreditável
essa primeira opção. Além de não resolver nada, parece que o problema era a
distribuição gratuita da dita sacola, e não o seu uso em si. Gratuita, não!,
pois nada nesse nosso capitalismo primitivo é grátis. Evidentemente que as
sacolas, a água, o café, o ar condicionado, a iluminação, os atendentes, a
limpeza das prateleiras e da mercadoria, entre outros benefícios, têm um custo
que é pago pelo consumidor - o que explica em parte a diferença de preços que
existe entre os supermercados.
Já a
segunda opção, a das sacolas de lona - que, claro, também devem ser compradas
pelo consumidor -, em breve irá entrar para o rol das coisas nocivas à saúde
pelo crivo da vigilância sanitária. Todos hão de convir que encher uma sacola
de lona com verduras, frutas e outros itens in natura não é lá algo muito
salubre.
Por
outro lado, muitas pessoas, indignadas com a proibição das sacolinhas, argumentam
que não adianta se coibirem as sacolas, enquanto o isopor e outros plásticos
abundam no supermercado. É o caso das embalagens que protegem absolutamente
todos os produtos industrializados, do arroz ao papel higiênico, passando por frios,
absorventes e até as hortaliças.
Certíssimo.
Essas embalagens deverão ser os próximos alvos, mas era preciso começar por
alguma coisa, e as sacolas de plástico são usadas em quantidade absurdamente
maior. Estima-se que cada pessoa use 100 sacolas por ano, o que significa um
consumo de 500 bilhões a um trilhão de sacolas por ano. Por isso, é chegada a
vez delas.
Todavia,
a saída obviamente não pode ficar nas mãos do consumidor (com o perdão do
trocadilho). Vale dizer, os consumidores não podem simplesmente sair do
supermercado com as mãos cheias de mercadorias, ou usando uma bolsa perigosa
para a saúde pública, ou ainda, o que é mais grave, comprando sacolas de
plástico, seja dos próprios estabelecimentos, seja de ambulantes, que já-já estarão
instalados na porta dos supermercados.
O
problema não se refere ao uso ou não da sacola, mas ao fato de que essa sacola
é produzida com petróleo, uma matéria-prima que não é renovável, e que não se
degrada no ambiente - ou seja, que não é biodegradável; a solução, portanto,
está em se encontrar uma alternativa ao uso das sacolas oriundas do plástico de
petróleo.
Simples
assim. E - como sempre que se consegue ver os problemas onde eles realmente estão,
as soluções aparecem -, a empresa Cyclewood Solutions licenciou uma tecnologia
concebida pela Universidade de Minnesota, que possibilita a fabricação de
sacolas à base de lignina. Trata-se de um polímero encontrado na madeira, e
que, conforme assegurado pela revista Ideia Sustentável (edição de março de
2012), é descartado às toneladas por algumas indústrias, como as de papel, por
exemplo.
Denominadas
de Xylobag, as sacolas de supermercado originadas da madeira degradam-se, ou
melhor, desaparecem do meio ambiente em apenas 150 dias. Mais importante ainda,
como a lignina está disponível no pátio da indústria, uma vez que saiu da
madeira que virou papel, o custo médio das sacolas é equivalente a US$0,01. Um
custo que as torna competitivas frente às sacolas de petróleo.
São
iniciativas dessa monta que reduzem o emprego do petróleo e ampliam o uso da
madeira - produto que, repita-se, é renovável -, no cotidiano das pessoas. E é
dessa forma que uma nova economia, dita de Baixo Carbono, irá se concretizar.
O
futuro aponta para a conquista do que se poderia chamar de Sustentabilidade do
Dia a dia, e a matéria-prima madeira terá muito a contribuir para isso.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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