segunda-feira, 30 de julho de 2012


Xylobag e as sacolas de plástico
* Ecio Rodrigues
Diante da proibição de distribuição gratuita das sacolas de plástico, devido ao impacto ambiental que elas causam, os supermercados estão tentando empurrar ao consumidor - como sempre, a parte mais prejudicada na história - as próprias sacolas de plástico, ou de PVC, que podem ser compradas, ou as bolsas de lona, das que se usavam antigamente nas feiras.
Inacreditável essa primeira opção. Além de não resolver nada, parece que o problema era a distribuição gratuita da dita sacola, e não o seu uso em si. Gratuita, não!, pois nada nesse nosso capitalismo primitivo é grátis. Evidentemente que as sacolas, a água, o café, o ar condicionado, a iluminação, os atendentes, a limpeza das prateleiras e da mercadoria, entre outros benefícios, têm um custo que é pago pelo consumidor - o que explica em parte a diferença de preços que existe entre os supermercados.
Já a segunda opção, a das sacolas de lona - que, claro, também devem ser compradas pelo consumidor -, em breve irá entrar para o rol das coisas nocivas à saúde pelo crivo da vigilância sanitária. Todos hão de convir que encher uma sacola de lona com verduras, frutas e outros itens in natura não é lá algo muito salubre.
Por outro lado, muitas pessoas, indignadas com a proibição das sacolinhas, argumentam que não adianta se coibirem as sacolas, enquanto o isopor e outros plásticos abundam no supermercado. É o caso das embalagens que protegem absolutamente todos os produtos industrializados, do arroz ao papel higiênico, passando por frios, absorventes e até as hortaliças.
Certíssimo. Essas embalagens deverão ser os próximos alvos, mas era preciso começar por alguma coisa, e as sacolas de plástico são usadas em quantidade absurdamente maior. Estima-se que cada pessoa use 100 sacolas por ano, o que significa um consumo de 500 bilhões a um trilhão de sacolas por ano. Por isso, é chegada a vez delas.
Todavia, a saída obviamente não pode ficar nas mãos do consumidor (com o perdão do trocadilho). Vale dizer, os consumidores não podem simplesmente sair do supermercado com as mãos cheias de mercadorias, ou usando uma bolsa perigosa para a saúde pública, ou ainda, o que é mais grave, comprando sacolas de plástico, seja dos próprios estabelecimentos, seja de ambulantes, que já-já estarão instalados na porta dos supermercados.
O problema não se refere ao uso ou não da sacola, mas ao fato de que essa sacola é produzida com petróleo, uma matéria-prima que não é renovável, e que não se degrada no ambiente - ou seja, que não é biodegradável; a solução, portanto, está em se encontrar uma alternativa ao uso das sacolas oriundas do plástico de petróleo.
Simples assim. E - como sempre que se consegue ver os problemas onde eles realmente estão, as soluções aparecem -, a empresa Cyclewood Solutions licenciou uma tecnologia concebida pela Universidade de Minnesota, que possibilita a fabricação de sacolas à base de lignina. Trata-se de um polímero encontrado na madeira, e que, conforme assegurado pela revista Ideia Sustentável (edição de março de 2012), é descartado às toneladas por algumas indústrias, como as de papel, por exemplo.
Denominadas de Xylobag, as sacolas de supermercado originadas da madeira degradam-se, ou melhor, desaparecem do meio ambiente em apenas 150 dias. Mais importante ainda, como a lignina está disponível no pátio da indústria, uma vez que saiu da madeira que virou papel, o custo médio das sacolas é equivalente a US$0,01. Um custo que as torna competitivas frente às sacolas de petróleo.
São iniciativas dessa monta que reduzem o emprego do petróleo e ampliam o uso da madeira - produto que, repita-se, é renovável -, no cotidiano das pessoas. E é dessa forma que uma nova economia, dita de Baixo Carbono, irá se concretizar.
O futuro aponta para a conquista do que se poderia chamar de Sustentabilidade do Dia a dia, e a matéria-prima madeira terá muito a contribuir para isso.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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