Greve de professores federais expõe apagão técnico na
Amazônia
* Ecio Rodrigues
Os
professores das universidades federais vinham, desde o final do ano passado,
tentando alertar os dirigentes que cuidam da pasta da Educação que os acordos
feitos no governo anterior teriam que ser honrados. Além do fato de o mesmo
grupo político ter permanecido no poder - o que por si só deveria justificar o
cumprimento das obrigações assumidas -, os acordos foram assinados mediante o
comprometimento de receitas futuras do governo federal.
Em
março deste ano de 2012 venceu o prazo que o governo tinha para cumprir um dos
pontos do acordo, relacionado ao reajuste salarial (quase insignificante, diga-se,
de 4%) dos professores, o que não aconteceu. As entidades de representação dos
professores tentaram organizar reuniões com o governo, que se fez de mouco,
alegando que ainda não havia nomeado um representante - isso mesmo, um
representante! -, para realizar a negociação com os professores.
Na
maioria das universidades federais, o movimento de greve viria a ser
desencadeado apenas em 17 de maio. Até esse momento, passados mais de 70 dias
do descumprimento do acordo, o governo não se movimentou para evitar a greve, o
que requeria somente um pouco de vontade política.
Por
outro lado, os professores universitários aceitaram, no final de 2008, o
argumento do governo de que, diante da impossibilidade orçamentária para um
reajuste decente em um só exercício fiscal, seria preciso comprometer
orçamentos futuros da União para a recuperação das perdas salariais.
Argumento
que se mostrou, no mínimo, questionável, em vista da fartura de recursos que
foram aplicados na instalação de mais de 200 Institutos Federais de Ciência e
Tecnologia, que pululam país afora, oferecendo cursos de nível técnico e superior,
e dispondo-se a competir, como no caso do Acre e outros estados amazônicos, com
a atuação da própria universidade federal, que o governo parece ter esquecido.
Com a
paralização das universidades amazônicas, a carência de profissionais que elevem
a dinâmica econômica na região amplia o que já estava no limite. Quando o tema
é o aproveitamento da diversidade biológica do ecossistema florestal, uma
vocação produtiva natural da região, aí nem se fala.
Ao
que parece, existe uma distância enorme entre o discurso da prioridade e a
prática da prioridade. Para o governo federal, a Educação é uma daquelas
prioridades menos prioritárias que as demais. Vem depois de asfaltamento,
pontes, hidrelétricas, estádios, e assim por diante.
Na
área de Ciência e Tecnologia não é diferente. A bem da verdade, os dois temas
disputam entre si para ver qual das duas prioridades é menos prioritária. Faz
tempo que o Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq,
não publica editais que denotem a existência de algum empenho público, no que
diz respeito à geração de conhecimento.
Mediante o Programa Ciência sem Fronteiras, o diminuto
orçamento do CNPq tem sido destinado a financiar, até 2015, o intercâmbio 7.000
graduandos, mestrandos e doutorandos no exterior. É como se nenhum dirigente
público atentasse para o fato de que, por meio da iniciativa privada (famílias
e empresas), mais de 200 mil brasileiros já vão para o exterior todos os anos
em intercâmbios. Ou seja, qual o sentido de um programa como o Ciência sem
Fronteiras, e em que ele ajuda o país?
Parece
evidente que as decisões de investimento público, na área de Educação e na
geração de conhecimento, têm sido determinadas por fins políticos eleitorais, e
não por prioridades – motivações que, nem é preciso mencionar, são incompatíveis
entre si. E, ademais, se a prioridade é a eleição de ex-ministros da pasta
respectiva, talvez fosse mais proveitoso pôr os eventuais candidatos para
construir estádios de futebol.
Voltando
à Amazônia, diga-se que nessa região, onde a dependência do orçamento público é
bem maior, os efeitos da falta de prioridade para as universidades federais são
sentidos no cotidiano das pessoas. A despeito de o governo federal não
acreditar nisso.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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