terça-feira, 27 de setembro de 2011

Projeto Ciliar Só-Rio na fase da Extensão Florestal
* Ecio Rodrigues
É chegada a hora de levar a público o resultado de três anos de estudos realizados na mata ciliar dos oito municípios cortados pelo rio Acre em território estadual.
Na contramão da ideia de que o circuito acadêmico mantém sua atuação alheia à realidade que o cerca, o Projeto Ciliar Só-Rio Acre representa um esforço da Academia, em especial da UFAC e da Unesp, para a definição de coeficientes técnicos relacionados à bacia hidrográfica do Rio Acre.
Os indicadores científicos fornecidos pela pesquisa poderão embasar, em âmbito estadual e municipal, futuras atuações públicas no sentido de se reverter o atual quadro de degradação do rio, que coloca em risco o abastecimento urbano de água.
Contando com orçamento de 200.000 reais oriundos do CNPq, foi realizada uma série de estudos, com foco na compreensão da relação existente entre a mata ciliar e o equilíbrio hidrológico do rio, e cujos resultados – é sempre bom divulgar – estão disponíveis para consulta e cópia no blog mantido pelo projeto há mais de dez meses.
Os recursos possibilitaram, entre outros produtos, a elaboração de dois conjuntos de oito mapas que forneceram uma percepção clara do índice de desmatamento da marta ciliar nos oito municípios, indicando os trechos críticos que necessitam de recuperação em caráter emergencial.
Foi realizado ainda um vultoso Inventário Florestal, que abrangeu todo o perímetro da mata ciliar entre Porto Acre e Assis Brasil, e no qual foi efetuada a medição de mais de 10 mil árvores. O Inventário permitiu a definição de um coeficiente – a que se denominou Índice de Valor de Importância para Mata Ciliar (IVI-Mata Ciliar) -, que uma vez calculado, resulta na indicação das espécies florestais de maior importância para a mata ciliar dos municípios cortados pelo rio Acre.
Dessa forma, já é possível recomendarem-se as espécies que devem ser usadas numa futura restauração florestal dos trechos críticos de perturbação antrópica já mapeados. O aproveitamento de espécies que são endêmicas na própria mata ciliar atende ao previsto na Resolução 429/2011, do Conselho Nacional de Meio Ambiente - Conama.
Mediante os resultados do mapeamento via satélite e do Inventário Florestal, os pesquisadores se debruçaram no desenvolvimento de uma metodologia específica para a delimitação técnica da largura mínima que deve ter a mata ciliar em cada município, a fim de garantirem-se tanto a integridade do rio, quanto a qualidade do abastecimento de água.
A concepção dessa técnica, que pode ser aplicada em outras realidades na Amazônia, certamente se configura na mais importante inovação tecnológica obtida pelo projeto.
Com efeito, uma metodologia científica para a determinação da largura das matas ciliares na Amazônia é mais que oportuna, num momento em que o país assiste às discussões em torno da lamentável proposta de alteração do Código Florestal - a ser votada no Senado e já aprovada pela Câmara Federal -, que prevê a redução das matas ciliares a meros 15 metros de largura.
Conscientizar e convencer os vereadores dos respectivos municípios abrangidos pela pesquisa a adotarem as respostas trazidas pelo Ciliar Só-Rio Acre é o objetivo principal da derradeira fase do projeto. Após o encerramento, previsto para dezembro próximo, é a vez de um amplo programa de extensão florestal que se valerá das importantes informações obtidas.
Afinal, tudo terá sido em vão se o conhecimento obtido não for transformado em diretrizes municipais.
Com a palavra, então, os ilustres vereadores.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Projeto Ciliar Só-Rio Acre presenteará banners para Câmaras de Vereadores

Alana Chocorosqui Fernandes*

Primeiro município visitado.
Segundo município visitado pelo projeto
Após visitar três municípios localizados na bacia hidrográfica do Rio Acre, o projeto Ciliar Só Rio Acre voltará a cada um desses para a entrega de um banner que sintetiza as informações obtidas através das pesquisas do projeto. A idéia é que ao visualizar o banner pendurado na parede o parlamentar se lembre do importante papel desempenhado pela Câmara de Vereadores neste projeto, uma vez que é do parlamento que deverá sair a Lei Municipal da Mata Ciliar. O banner trará fotos da equipe, a lista das espécies florestais com maior IVI-Mata Ciliar, mapa com trecho critico e largura da mata ciliar adequada para cada  município. As próximas visitas da equipe levará também aos demais municípios ainda não visitados esse material. Agora e continuar as audiências e torcer para que cada Câmara de Vereadores possa pensar e trabalhar com esta ideia.

Município visitado no ultimo dia 14.


*Bolsista do projeto e acadêmica de Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Acre 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Projeto Ciliar Só Rio Acre e recebido em Capixaba

Alana Chocorosqui Fernandes*

Nesta quarta-feira, 14 de setembro, por volta das 10h da manhã, o projeto Ciliar Só Rio Acre chegou a mais um município. Desta vez foi Capixaba, que corresponde a uma área de 1713,412 Km² do estado do Acre, que recebeu na Câmara de Vereadores, a equipe de pesquisadores do projeto.
Desde janeiro de 2008 o projeto realizou um conjunto de pesquisas sobre a mata ciliar nos oito municípios cortados pelo Rio Acre. Hoje conta com uma importante experiência sendo, talvez, o projeto com maior acúmulo de dados sobre a mata ciliar do Rio Acre.
Para levar essas informações aos interessados, ou seja, os parlamentares das Câmaras de Vereadores das cidades foram elaborados uma variedade de materiais de Extensão Florestal composto por: cartilhas, folder, banner, livreto, apresentação em slaids, entre outros. Todos concebidos especificamente para cada um dos municípios. Através deste material, foi possível visualizar a triste realidade que se encontra nossa bacia hidrográfica, e como esses tomadores de decisão podem ajudar a minimizar esses impactos.
A Câmara do município fica agora com a tarefa de discutir melhor o tema, buscar modos de juntar o conhecimento cientifico advindo da academia, através do curso de Engenharia Florestal da UFAC, com a política pública, através da elaboração da lei.


 (*) Alana Chocorosqui Fernandes e bolsista do projeto e acadêmica do curso de Engenharia Florestal.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Calculo da largura da mata ciliar do Rio Acre
Município de Capixaba


A base para o cálculo da mata ciliar do Rio Acre empregado pelo projeto Ciliar-Só Rio Acre, levou em consideração características geomorfológicas, pedológicas e de qualidade da água, usando metodologia desenvolvida por pesquisadores do projeto.     

Zona 1
Caráter Meândrico
Zona 2
Turbidez
Zona 3
Caract. de solo
Σ Zonas
Fator de Ajuste Meândrico (FAM)
102,82
96,29
47,08
246,19
0,68
Largura da mata ciliar para o município de Capixaba: 167,41 m

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lista de espécies de maior Valor de Importância do município de Capixaba

Família
Nome Científico
Nome Vulgar
MORACEAE
Pseudolmedia murure Standl.
pama-amarela
ARECACEAE
Astrocaryum murumuru Mart.
murmuru
CECROPIACEAE
Cecropia leucoma Miq.
embaúba-branca
ARECACEAE
Attalea phalerata Mart. Ex Spreng.
ouricurí
EUPHORBIACEAE
Hura crepitans L.
açacu
MORACEAE
Brosimum alicastrum Sw.
inharé
FABACEAE
Alexa grandiflora Ducke.
melancieiro
SAPOTACEAE
Micropholis cylindrocarpa (Poepp. & Endl.) Pierre
abiú-letra
BOMBACACEAE
Ochroma pyramidale Urb.
algodoeiro
STERCULIACEAE
Sterculia pruriens Aubl.
xixá
COMBRETACEAE
Terminalia sp.
mirindiba-branca
MORACEAE
Brosimum acutifolium Hub.
mururé
MIMOSACEAE
Acacia polyphylla A.DC.
quari-quara-boliviana
ARECACEAE
Attalea butyracea(Mutis ex. L. f) Wees Boer
jaci
EUPHORBIACEAE
Hevea brasiliensis Muell. Arg.
seringueira
ANACARDIACEAE
Spondias lutea L.
cajá
APOCYNACEAE
Aspidosperma vargasii  A. DC.
amarelão
ARECACEAE
Copernicia prunifera (Miller.) H. E. Moore.
carnaubinha
CAESALPINIACEAE
Bauhinia sp.
capa-bode
CECROPIACEAE
Cecropia sciadophylla Mart.
embaúba-vermelha

domingo, 11 de setembro de 2011


Ciliar Só-Rio Acre será debatido com Vereadores de Capixaba

Depois de ser discutido com os vereadores de Porto Acre e do Quinary o projeto Ciliar Só-Rio Acre será apresentado para avaliação dos vereadores do município de Capixaba. O projeto é fruto de uma parceria com a Unesp e conta com orçamento de 200 mil reais oriundos do CNPq.
Com esse recurso foi possível mapear, com emprego de imagens de satélite atualizadas, a realidade da mata ciliar em cada uma das oito cidades
abastecidas pelo rio.
Foram produzidos um conjunto de 16 mapas, sendo dois para cada cidade. O primeiro mapa fornece uma idéia do grau de desmatamento existente na margem do rio e o segundo define os trechos, considerados mais críticos, para restauração florestal imediata.
Também foi possível realizar um inédito Inventário Florestal em toda vegetação existente na mata ciliar, para se calcular as 20 espécies de maior IVI-Mata Ciliar, um indicador, igualmente inédito, concebido pela equipe de
pesquisadores e que define quais as espécies florestais nativas deverão ser
usadas em projetos de restauração florestal.
Finalmente, o projeto prevê a realização de um amplo Programa de Extensão Florestal para discutir com os vereadores a elaboração e aprovação de uma Lei Municipal da Mata Ciliar, com objetivo de levar para as administrações municipais a atuação com mata ciliar.
Na próxima quarta-feira, dia 14 de setembro, pela manhã em Capixaba será o momento oportuno para conhecer as informações que os pesquisadores da UFAC têm sobre a mata ciliar do Rio Acre em Capixaba. Vale a pena conferir.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Novamente, o Rio Acre assusta a população.

*Alana Chocorosqui Fernandes

Com a falta de água, não da chuva mais de água mesmo, o Rio Acre atingiu nesta semana um nível de vazão muito baixa, não visto a muitos anos, nem mesmo na triste seca de 2005, considerada a mais grave da história recente do rio. Interessante que há alguns meses, março último, a imprensa anunciava as enchentes que deixavam inúmeras pessoas desabrigadas em nosso estado. Noticias bem diferentes, mais um mesmo ator, o Rio Acre.
Apesar de tamanha preocupação com o rio nesses momentos, pouca coisa e feita. Até quando será melhor colocarmos bombas flutuantes que conseguem retirar gotas de água do meio de grãos de areia para a captação de água não comprometer o abastecimento da cidade? Será que esta é a melhor solução?
Ações emergenciais são importantes em crises (de água, como podemos ter se o nível do rio não subir), porém não resolvem os problemas, são meros curativos em um problema gigantesco: Ainda tratamos nosso rio como esgoto e retiramos suas matas ciliares, expondo-o a degradação ambiental. A recuperação das matas ciliares é uma forma de mudar essa realidade, e preciso cuidar melhor deste manancial tal importante no nosso estado.
A degradação da vegetação ao redor da bacia hidrográfica do Rio Acre e feita para a introdução da agricultura, em especial a banana, em muitos dos nossos municípios, sem contar a pecuária, que também é presente. Essas áreas que legalmente deveriam permanecer com floresta natural são suprimidas com a justificativa da subsistência das populações. Tal justificativa comove, de fato, porém a população do Acre não se alimenta somente, também bebe e precisa diariamente de água.
As intervenções em todo o mundo nas florestas e cursos d’água tem aumentado a ocorrência de fenômenos naturais como secas e enchentes, e isso já pode ser percebido pela polução a cada dia, com o sobe e desce das águas do Rio Acre. Enquanto não assumirmos que temos um grande problema e que atitudes minimalistas não resolverão, continuaremos sofrendo as reações do meio ambiente.
Leis podem até reduzir a mata ciliar, governos podem até autorizar o desmatamento de áreas ciliares, prefeitos podem até incentivar plantio nos barrancos do rio, porque somos nós que fazemos as leis e tomamos as decisões. A grande questão é que a natureza não sabe ler, não respeita leis ou e parada por decisões politicas, ela simplesmente age.

*Alana Chocorosqui Fernandes é acadêmica do 10 período do curso de engenharia florestal e bolsista do projeto Ciliar Só Rio Acre.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Largura da mata ciliar deve refletir 
realidade local

  
Foto: Inventário Florestal
É de saber popular que a natureza é por si complexa e, por isso, não é chegada às padronizações, ou seja, nada ou quase nada é igual. Tudo sofre variações, quer sejam em tamanhos, quantidades, formatos e assim por diante. Padronizar é coisa do homem que tenta enquadrar a natureza no seu universo de domesticação.

Veja bem, somos animais da espécie Homo sapiens, não há na natureza seres iguais mesmo quando são da mesma espécie, a menos que sejam gêmeos univitelinos, mas mesmo assim, são quase iguais, pois diferem, por exemplo, em suas digitais.

Assim, é fácil supor que todos os aspectos relacionados à natureza não podem ser igualados, homogenizados e domesticados. É uma questão lógica, pois vive-se em um mundo repleto de diferenças e que, nos dias atuais, jamais se aceitaria a padronização em determinados campos da sociedade. Mas, o homem e capaz de impor a igualdade às diversas formas de manifestação da natureza, por meio de suas políticas, com leis, decretos, medidas provisórias, etc. Regulações, que afetam diretamente a relação homem e o meio Ambiente.

É o que acontece, por exemplo, com os cursos d’água como os rios, lagos, igarapés e nascentes. Todos sem distinção estão submetidos a uma padronização por determinação legal,, conforme estabelecido no Código Florestal. Uma dessas padronizações, bastante grave diga-se, se refere à determinação da largura da mata ciliar em função da largura de margem a margem do rio. Isto é, determina-se a largura de mata ciliar ao longo de toda extensão do curso d’água dependendo da largura do rio.

Essa definição legal está sujeita a uma série de críticas, que geralmente são acompanhadas de boas defesas, uma discussão sem fim, alguns pró muitos contra, e ratramente se apresenta uma solução.

O que abre lacunas para as pesquisas e os estudos sobre o assunto que, quando bem sucedidos, por sua vez, costumam não ser absorvidos, pois são realizados apenas para constar na literatura, e não, para pelo menos tentar mudar a realidade na qual se insere.

Esse é um dos diversos pontos positivo do projeto Ciliar Só-Rio Acre, que além de estudar a alteração, de formular uma proposta convincente que tenha argumentos cabíveis ainda entra na batalha pra tentar mudar o panorama da padronização da largura da mata ciliar para o caso do Rio Acre.

Tão grande é a ousadia e confiança no belíssimo trabalho desempenhado que não a espaço para temer o debate de seus propostos.

É evidente que nestes debates que estão sendo desencadeados junto às câmaras municipais nas oito cidades abastecidas pelo rio (de Porto Acre até Assis Brasil), o alvo mais severo das criticas é a que trata da definição das várias larguras de mata ciliar, uma específica para cada um dos municípios.

A proposta de cálculo da largura apresentada pela equipe de pesquisadores do Ciliar Só-Rio Acre, resumidamente, propõe um aumento em no mínimo 68% da largura da mata ciliar com relação ao que é estabelecido no Código Florestal.

Não é fácil convencer alguém com um argumento desses, muito menos aprovar uma lei municipal que em seu conteúdo haja uma proposta de aumento da largura da mata ciliar. Diversas são as recusas fundadas nas populações ribeirinhas, as criticas que ostentam o declínio da economia do local que já é baixa e um agravante que, talvez seja o pior para o rio, de que a terra nas margens dispõe de uma alta capacidade de ciclagem de nutriente, ou seja, solos férteis aptos a agropecuária em geral.

Para derrubar esse tipo de argumento, que chantageia com a fome de excluídos, tem que ter um bom argumento, certo? Talvez não o que seria impossível sair vitorioso, precisa-se sim de um bom ou quem sabe um excelente argumento, só assim quem sabe o rio vencerá.

É evidente que a atividade exploratória nas margens do Rio Acre ocorre de maneira devastadora e como principal conseqüência dessas práticas é a seca que por inteiro ou parcial do rio no período de estiagem de cada ano, e isso muito mais forte que economia local, que pode ser remanejada para outras áreas, que a população em si, que na necessidade dá água vai à busca desta onde tiver. Se o produtor precisa comer como alegam muitos também precisa beber água, e do jeito que vai ...

É como diz o provérbio popular: “só percebemos o valor da água depois que a fonte seca” e você vai esperar fonte secar?

Antonio T. S. Oliveira
Graduando em Eng. Florestal 


Livro Ciliar Só Rio Acre

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