Fundo Amazônia vai apoiar Cluster Florestal
* Ecio Rodrigues
Sob um
calendário que prevê a apresentação de projetos até dia 26 de julho de 2012, o
Fundo Amazônia irá selecionar e apoiar, mediante edital de chamada pública, iniciativas
que busquem o uso sustentável do potencial da biodiversidade existente no
ecossistema amazônico. Contemplando um atrativo orçamento, superior a 2 milhões
de reais, as propostas deverão promover a estruturação de arranjos produtivos
ancorados na tecnologia do manejo florestal de uso múltiplo.
Para
quem não se lembra, o Fundo Amazônia foi instituído em 2007, por iniciativa do
Ministério do Meio Ambiente, no intuito de se captarem recursos internacionais
para aplicação na Amazônia, ou melhor, na transformação da sua imensa diversidade
biológica em emprego e renda.
Com o
argumento principal de reduzir a taxa de desmatamento, o Fundo Amazônia recebe
doações de países ricos, destinadas a ajudar o Brasil a reduzir as emissões de carbono
oriundas dos desmatamentos e queimadas que anualmente acontecem na Amazônia.
Como
o Ministério do Meio Ambiente possui dificuldades constantes na gestão de
fundos, e o melhor exemplo disso é a falência do Fundo Nacional de Meio
Ambiente iniciada em 2003, coube ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social, o BNDES, o gerenciamento do Fundo Amazônia.
A
julgar pela elaboração do recente edital apoiando clusters florestais, o
desempenho do BNDES é mais que promissor.
O
edital inova em dois pontos que merecem todo o crédito. Primeiro, ao identificar,
na condição de proponentes, organizações da sociedade civil reunidas em
consórcios de projetos (um mínimo de 4 projetos), com valor de 500 mil reais
cada um. E segundo, por promover a implantação de arranjos produtivos na forma
de clusters.
Cluster
é uma palavra de origem inglesa, sem tradução para o português, aplicada aos aglomerados
econômicos - tanto para os que surgem naturalmente numa determinada cidade ou
região, quanto para os que são instituídos por meio de políticas públicas.
Esses aglomerados são sempre altamente especializados n’algum setor produtivo ou
segmento de mercado. Um cluster reconhecido mundialmente é o do Vale do Silício,
nos Estados Unidos, que é especializado em informática, e que foi instituído
por força da ação do Estado.
No Brasil,
possuem reconhecimento o cluster de confecção de roupa íntima e de banho,
localizado em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, o de cachaça, na região de
Salinas, em Minas Gerais, e o de sapatos, situado em Franca, São Paulo.
Há
uma diferença conceitual entre cluster e arranjo produtivo local (APL). Grosso
modo, o cluster depreca um processo de crescimento e de evolução na
especialização produtiva que vai além do APL, na medida em que envolve um leque
mais abrangente de relacionamentos e de diversificação entre as instituições
especializadas.
A
capacidade de alçar a competição selvagem à condição de cooperação solidária,
uma vez que todos os envolvidos são favorecidos, mediante o crescimento de cada
um, é o que faz do cluster uma opção de organização produtiva buscada por
vários países.
Numa
região como a Amazônia, e num setor produtivo como o florestal, a organização de
um cluster para a exploração sustentável da diversidade biológica tem sido
apontada como a melhor solução para a implantação de um processo de ocupação
social e econômica que respeite os ideais de sustentabilidade preconizados
mundo afora.
Além
de ser ousado, o edital do Fundo Amazônia se presta a demonstrar que, quando a
ação pública é baseada na técnica e na demanda social, as coisas podem dar
certo.
Parabéns
ao BNDES pela iniciativa, e que surjam o Cluster Florestal da Paca, o da
Semente, o das Biojóias, o Fitoterápico, o da Madeira - enfim, o Cluster do Uso
Múltiplo da Floresta.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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