Distritão acaba com
deputado eleito sem voto. Não é melhor assim?
* Ecio Rodrigues
Sem
que haja uma explicação razoável, setores da imprensa vêm chamando de “Distritão”
a proposta de eleição majoritária para vereadores e deputados, a ser
implementada já em 2018.
Pulando
a parte sobre o exercício incompetente do trabalho de difusão da informação neste
país, pois certamente ninguém duvida disso, o ponto central da discussão se encontra
no significado do termo Distritão.
Acontece
que a Proposta de Emenda à Constituição (a chamada PEC) que trata da reforma política
– cuja discussão no parlamento, por sinal, deveria ter sido iniciada após as
reivindicações de junho de 2013 – deposita maior ênfase na alteração do atual
sistema eleitoral.
Desde
1990, quando da realização das primeiras eleições pós-regime militar, não foram
poucas as vezes em que os especialistas alertaram quanto ao risco que
representava para o regime democrático as regras até hoje vigentes no país para
a escolha de deputados e vereadores.
Quando
o candidato Enéas Carneiro bateu o recorde de votação, recebendo mais de 1,5
milhão de votos em São Paulo, tornou-se evidente a afronta à democracia: esses
votos elegeram, além do famoso “Meu nome é Enéas!”, mais 5 candidatos completamente
inexpressivos, que não chegaram a obter, individualmente, nem sequer 1.000
votos.
A
afirmação de que o eleitor “não lembra em quem votou na última eleição”, que
costuma ser reiterada como se verdade fosse, sugerindo um suposto desleixo do
brasileiro para com a democracia, encontra explicação nesse esdrúxulo e perigoso
sistema, que reconhece parlamentares eleitos sem voto.
Os
que se posicionam favoravelmente à eleição de deputados sem votos assentam sua
defesa em três premissas: amadurecimento da democracia, renovação na política e
fortalecimento dos partidos políticos.
Para
eles, um ordenamento prevendo a eleição dos candidatos mais votados pelos
eleitores, de forma sucessiva, até a ocupação de todas as vagas disponíveis nas
câmaras de deputados e de vereadores, é característico de democracias rudimentares,
cujos sistemas eleitorais são incapazes de fazer retratar no parlamento a
diversidade presente na sociedade.
Pode
até ser, e a discussão acerca de mecanismos que aprimorem a representação
parlamentar da sociedade é mais que salutar, entretanto, de que maneira o
deputado eleito sem voto melhora esse quadro é questão que ninguém logra explicar.
Repetindo
enunciados panfletários, como o que apregoa que “velhas raposas continuarão
cuidando dos galinheiros”, os críticos do Distritão argumentam ainda que esse
procedimento irá privilegiar os candidatos que são mais conhecidos pelo povo.
O debate
sobre processos de renovação que possibilitem o surgimento de novas expressões políticas,
tanto no Legislativo quanto no Executivo, é deveras importante. Contudo, parece
óbvio que privilegiar o deputado eleito sem voto não é o caminho.
Finalmente,
os detratores do Distritão alegam que a eleição majoritária de deputados vai enfraquecer
os partidos políticos.
Ora,
convenhamos que, depois da criação da Rede, do Partido da Mulher, do Partido Ecológico
e de outros tantos, chegando-se à absurda quantidade de 35 partidos em
atividade no país (sem contar a dezena que se encontra em processo de criação),
não há sistema eleitoral que tenha condições de evitar a falência desse tipo de
agremiação.
Com
o Distritão será o fim do deputado eleito sem voto. Se a reforma política alcançar
esse feito para 2018, está de bom tamanho.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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