Cluster florestal na Amazônia: única saída
* Ecio Rodrigues
Muitos economistas
notáveis já ressaltaram as vantagens trazidas pela especialização produtiva regional
– vale dizer, a especialização de uma localidade ou região num determinado setor
produtivo, visando-se, entre outras coisas, a obter redução de custos, economia
de escala e, o mais importante, competitividade.
Parece,
decerto, uma ideia um tanto óbvia. Todavia, trata-se de um modelo de
planejamento produtivo que, embora lastreado em consagrada literatura, encerra
grande complexidade para ser concretizado.
Distritos
industriais foram criados em praticamente todas as médias e grandes cidades da
Amazônia. Contudo, e sem entrar no mérito dos problemas enfrentados na maioria
deles, principalmente ausência de urbanização e de estrutura de logística, o
fato é que poucos apresentaram resultado.
A
experiência demonstra que agrupar empresas em áreas afastadas dos centros
urbanos traz uma série de vantagens e pode resolver transtornos relacionados à
dispersão de fumaça e ao tráfego de caminhões, entretanto, não se configura em
solução para melhorar a competitividade.
É que juntar empresas é uma coisa
razoavelmente simples, que envolve mecanismos de atração, como isenção de tributos;
mas fazê-las atuar num setor específico da economia é outra coisa, bem
diferente.
Se um distrito
industrial se concentra, por exemplo, no processamento de produtos à base de
madeira, reunindo serrarias, marcenarias, movelarias e assim por diante, as
chances de sucesso desses empreendimentos aumentam consideravelmente.
Juntar e
especializar empresas é fundamental, mas ainda não é suficiente para distinguir
uma determinada região e torná-la referência num setor produtivo. Para promover
o surgimento e manter competitividade, os especialistas apontam como ponto-chave
a organização de aglomerados econômicos.
Cadeia
produtiva e arranjo produtivo local são conceitos que, de maneira incipiente e
preliminar, remetem à noção de aglomerado econômico.
Fosse
possível estabelecer um processo evolutivo para a conquista de competitividade
no setor produtivo, o distrito industrial seria o estágio mais primitivo; e o
aglomerado econômico organizado na forma de cluster, o mais avançado.
Além dos
empreendimentos característicos do setor produtivo, o cluster também compreende
empresas correlatas e de apoio.
Continuando
no exemplo acima, o cluster incluiria todo um complexo de negócios direcionados
à produção e comercialização de uma cadeia de bens e serviços relacionados com
a madeira.
Desde empresas
de design de produtos em madeira, até estabelecimentos de ensino voltados para a
formação e qualificação de profissionais nos diversos campos surgidos a partir da
especialização em madeira tropical.
A organização
dessa extrema especialização regional na forma de cluster exige a criação de um
aparato institucional próprio, envolvendo tanto o âmbito privado quanto o estatal
e o paraestatal (como o Sistema S, que se dedicaria a capacitar trabalhadores e
assessorar empreendedores para operar na indústria da madeira).
Eventualmente,
outros produtos florestais, além da madeira, poderiam ser abarcados por esse
aglomerado econômico, que, desse modo, se transformaria num cluster florestal.
Tal qual o
Vale do Silício, o maior cluster de informática do mundo, que foi criado num
deserto praticamente do nada, o “Cluster Florestal da Amazônia” teria que ser instituído
por política pública, mediante categórica ação do Estado.
Mas
contaria com um importante diferencial: a chance de aproveitar a vocação
florestal da região e toda a diversidade presente no ecossistema florestal da
Amazônia, que ainda cobre mais da metade do território.
Mais do
que uma opção de desenvolvimento, a estruturação de um cluster florestal na
Amazônia é a única saída econômica para a região. Considerando-se, porém, que a
persistente taxa anual de desmatamento pode alterar essa competitiva realidade,
é melhor pensar nessa saída enquanto há tempo.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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