Acordo de Paris, garantia de futuro
* Ecio Rodrigues
Quando a Convenção das Mudanças no Clima foi
assinada, durante a conferência da Organização das Nações Unidas realizada no
Rio de Janeiro em 1992, houve quem duvidasse dos frutos que esse tratado
produziria.
E um
bocado de gente também demonstrou ceticismo em relação ao Protocolo de Kyoto –
tanto por ocasião da celebração desse pacto, em 1997, quanto à época de sua
entrada em vigor, em 2005.
Agora,
contudo, os descrentes já não têm mais pretextos para duvidar. O Acordo de
Paris foi assinado em dezembro de 2015 por praticamente todos os países do
globo e passou a viger (antecipadamente) a partir de 2016, trazendo metas aferíveis
de redução de carbono, a serem alcançadas até 2020.
O
aquecimento do planeta tornou-se verdade científica irrefutável; da mesma
forma, foi comprovado que o aumento que vem ocorrendo na temperatura se deve ao
atual modelo de desenvolvimento adotado pela humanidade, baseado em petróleo e
combustíveis não renováveis. O mundo inteiro reivindica dos gestores públicos a
adoção de providencias, necessárias e urgentes.
Por
isso, os países se comprometeram a levar a efeito uma série de iniciativas voltadas
para reduzir a quantidade de carbono anualmente lançada aos céus. Trata-se de
um conjunto de ações complexas, que, para serem alcançadas, vão exigir sacrifícios
de cada povo.
De
um lado, os países industrializados terão que alterar suas respectivas matrizes
energéticas – vale dizer, as fontes que geram a energia elétrica necessária
para manter a escala de produção e de emprego nas indústrias; de outro lado, os
países cuja economia se baseia no agronegócio, como o Brasil, vão ter que
manter a escala de produção e emprego em suas terras rurais sem aumentar o
desmatamento nas florestas nativas.
Os
compromissos assumidos pelo Brasil, ratificados pelo Congresso em 2016, podem
ser resumidos, grosso modo, em três objetivos: construir novas hidrelétricas;
restaurar áreas de florestas degradadas; e zerar o desmatamento ilegal na
Amazônia.
Existem,
hoje, aproximadamente 130 hidrelétricas em funcionamento em território nacional.
A construção de cerca de 30 novas usinas ampliará a participação da força das
águas para 80% de toda a energia elétrica gerada no país – o que, além de
atender à demanda por energia elétrica, reduzirá a quantidade de carbono
expelida pelas termoelétricas movidas a óleo diesel.
Florestas
consideradas especiais, como as formações presentes nas margens dos rios, denominadas
mata ciliar, deverão ser restauradas, já que são cruciais para conservar o
equilíbrio hidrológico e reduzir os impactos de secas e alagações.
Finalmente,
a meta de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia, mais do que um compromisso
perante o mundo, é questão de honra para os brasileiros. Primeiro, porque se
trata de meramente fazer cumprir a lei, e um país que não consegue impor a
observância da lei a seus produtores rurais não pode se ver como nação.
Segundo,
porque a floresta amazônica é importante demais para ser sacrificada em favor
de uma atividade cuja existência não tem justificativa econômica. Preste
atenção: sem falar da destruição florestal que provoca, a pecuária na Amazônia apresenta
entraves agronômicos que comprometem sua viabilidade. Não é insano?
Por
sinal, o compromisso a ser honrado pelo Brasil deveria ser o de zerar o
desmatamento legalizado.
Acontece
que, a despeito de ser permitido pelo Código Florestal, o desmatamento
legalizado é tão inadmissível quanto o ilegal, com um agravante: existe saída
tecnológica que possibilita a exploração da biodiversidade e, por conseguinte,
a geração de riqueza sem a devastação da floresta.
Além
de apresentar viabilidade econômica inquestionável, a saída pelo uso econômico
da biodiversidade é adequada aos preceitos de sustentabilidade exigidos pelo
planeta e acordados pelos países.
É ou
não é o futuro?
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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