A revolução do Uber já começou!
* Ecio Rodrigues
No
Brasil, a licença concedida aos taxistas – ou, como se define na administração
estatal, a permissão para operar o serviço de táxi – foi alçada à condição de bem
transmitido por sucessão hereditária, do tipo que passa de pai para filho ou de
marido para viúva.
Com
efeito, há quatro anos – num arroubo de populismo desvairado, tão característicos
destas plagas ao sul do Equador –, o Congresso aprovou e a então presidente sancionou
a Lei 12.865/2013, que garantiu que o direito de explorar o serviço de
táxi fosse legado aos herdeiros dos beneficiários.
Em outras palavras, a lei transformou um
instrumento de permissão num acervo patrimonial, numa espécie de título de
nobreza passível de ser hereditariamente transmitido.
Se as transações comerciais envolvendo as licenças
de taxistas já eram um absurdo, pelo menos (a despeito de ser correntemente
toleradas) eram efetuadas de forma extralegal, ao arrepio da lei. Mas o que
dizer quando é o próprio Congresso quem legitima esse tipo de antijuridicidade?
É bem
verdade que, muito antes da promulgação da mencionada norma, as cidades, uma
após outra – num arroubo de populismo desvairado, tão característico destas
plagas ao sul do Equador –, se deitaram a outorgar também aos motoqueiros a
permissão para o transporte individual de passageiros.
A anomalia
chamada serviço de mototáxi foi institucionalizada, engrossando ainda mais as lamentáveis
estatísticas de mortes no trânsito e lotando ainda mais os insuficientes leitos
de UTI.
Não é
preciso ser nenhum expert em ciências sociais para compreender que esse empenho,
por parte dos políticos, em amparar os condutores de táxi (e, agora, também de
mototáxi) tem uma razão de ser.
Acontece que
aqui no Brasil, entre tantas outras idiossincrasias tipicamente tupiniquins, o taxista
foi convertido num ator político e social importante – muitas vezes considerado
decisivo no universo eleitoral.
Em todas
as eleições, em especial no caso dos pleitos municipais, o apoio da categoria
dos taxistas é disputado pelos candidatos. Reza o senso comum que essa classe
de trabalhadores autônomos – apesar de não ser muito estimada pela população –
exerce influência sobre o voto popular, principalmente quando a disputa se dá
em torno dos cargos de vereador e prefeito.
Não à
toa, nos municípios brasileiros, inclusive em metrópoles poderosas como Rio de
Janeiro e São Paulo, os pontos de táxi, além de ocupar áreas nobres de
logradouros e de instalações como aeroportos e rodoviárias, contam com “sedes”
e comodidades (como aparelhos de tv) pagas com o dinheiro público.
A
presença de fileiras e mais fileiras de táxis e mototáxis ociosos, atravancando
espaços públicos, tal como as favelas, é uma cena bastante comum na nossa
paisagem urbana.
Mas nada
como uma boa dose de inovação tecnológica para transformar o cotidiano e pôr
fim aos anacronismos. Com o avanço da comunicação e transmissão remota de dados
em rede, e com o advento dos smartphones, uma reinvenção do serviço urbano de
transporte individual está em andamento.
Possuindo
várias denominações, porém com hegemonia reconhecida da marca Uber, surgiram os
aplicativos que unem a demanda dos que precisam de condução pessoal à oferta dos
que têm carro próprio e disponibilidade de tempo.
O Uber é
uma revolução, e como todas as revoluções, pôs abaixo tudo o que se tinha como
convencional no transporte individual de passageiros: desde a forma de
pagamento até a suposição de que esse tipo de transporte configuraria serviço
público, requisitando licenciamento para ser exercido.
O Uber é
uma revolução, e como todas as revoluções, requer a adesão da população, mas prescinde
do apoio de políticos e governos.
Agora é
só tentar imaginar o fim dos pontos de táxi, num cenário em que nem o taxista tem
importância política, nem sua licença tem valor econômico.
A
revolução do Uber está acontecendo no mundo e vai acontecer no Brasil. A
sociedade já se posicionou, e isso é o que importa.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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