Sustentabilidade
do dia a dia: rolha de cortiça
* Ecio Rodrigues
Cunhado durante a Conferência
da Organização das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em 1992, o
conceito de Desenvolvimento Sustentável, até hoje, não foi inteiramente assimilado
pela população.
Enquanto os empresários se
apressaram em rotular de verde, ecológico e sustentável tudo o que produziam, na
tentativa de não perder o bonde e as oportunidades de mercado, os
ambientalistas, por seu turno, se esforçaram para atribuir ao conceito de
sustentabilidade características inalcançáveis.
De maneira geral, para os
ambientalistas, um produto sustentável tem que ter relação direta com a
produção de pequena escala (quanto menor a escala, melhor) e o emprego de
tecnologias rudimentares (quanto mais artesanal, melhor). Noções incompatíveis
com uma demanda crescente e uma população mundial que vai beirar os 10 bilhões
em 2020. Ah, sim, eles também acreditam que o mundo tem gente demais, por isso
o controle de natalidade seria imperioso.
Todavia, sustentabilidade, ou
desenvolvimento sustentável, diz respeito à capacidade de atender às demandas
das gerações atuais sem comprometer a demanda das gerações futuras. Algo um
tanto óbvio, mas de difícil tradução no dia a dia das empresas, famílias e
governos.
A cada instante, são tomadas incontáveis
decisões de consumo, que, embora tenham importância reduzida quando
consideradas isoladamente, em conjunto podem levar o planeta para o rumo da
sustentabilidade ou, por outro lado, para o agravamento da atual crise
ecológica. Decisões simplórias, que podem ampliar o risco de ocorrência de
tsunamis e tempestades violentas (como a recente Sandy, que devastou Nova
Iorque) ou que podem trazer o tão esperado equilíbrio ecológico.
Decisões elementares de consumo,
como escolher entre um vinho que foi engarrafado com uma rolha de cortiça e um
vinho selado com rolha de plástico, seja gaseificado ou não.
A cortiça, uma matéria-prima de
excelente poder de vedação e isolamento acústico, pode ser empregada em
diversos produtos além da tradicional rolha, pelo que é mais conhecida. Na
construção civil, em peças de decoração e utensílios domésticos, e até na
poderosa indústria do automóvel, a cortiça tem utilidades sem fim.
A cortiça é produzida na
Península Ibérica, no Sul da Itália e da França, e no Norte da África – regiões
de influência do Mar Mediterrâneo, onde ocorrem os denominados Montados de
Sobreiro. Os Montados são o resultado de um sistema de cultivo realizado há
séculos, no qual as árvores de sobreiro (Quercus
suber), que fornecem a cortiça, são consorciadas com outras espécies
florestais e alguns animais domesticados.
A cada nove anos, em média, o
produtor pode extrair do caule do sobreiro sua produção de cortiça – que é comercializada
praticamente da mesma maneira que sai da árvore. Ou seja, todo o processo
produtivo da cortiça é realizado sem a necessidade de aditivos químicos.
Ademais, o manejo florestal do sobreiro para produção de cortiça é pouco
complexo e não traz qualquer tipo de consequências para conservação da espécie.
Os portugueses são os maiores
produtores mundiais de rolha de cortiça, atendendo a mais de 50% da demanda
internacional. Eles têm se esforçado, numa campanha internacional, para
convencer quanto às vantagens ambientais do emprego de rolhas de cortiça pela
indústria do vinho – em relação às rolhas de plástico, cujo impacto dispensa
comentários.
Cada vez que uma pessoa, no
mundo, decide comprar um vinho em que a garrafa possui uma rolha de cortiça
contribui para a sustentabilidade do planeta.
Muito simples, não?
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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