COP 18 pode ampliar Fundo Climático Verde
* Ecio Rodrigues
Festejando a menor taxa de desmatamento da história, desde que as
medições foram iniciadas em 1988, o Brasil chega à COP 18 com autoridade para
requerer maior empenho dos países desenvolvidos, no sentido de fazer com que o
planeta caminhe rumo a uma economia de baixo carbono.
Divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais, Inpe, os dados sobre
desmatamento são realmente animadores. Foram desmatados, no período entre
agosto de 2011 e julho de 2012, cerca de 4,6 mil quilômetros quadrados, uma
redução sensível frente aos 6,4 mil quilômetros quadrados do período anterior.
Pela primeira vez, o total anual desmatado na Amazônia brasileira foi inferior
a 5 mil quilômetros quadrados, o que é significativo e serve de parâmetro para
as futuras medições.
Essa redução do desmatamento está sendo considerada como uma das mais
alvissareiras notícias para a mitigação da crise ecológica planetária. Ocorre
que, segundo cálculos realizados pelo Inpe, essa redução significa uma queda de
76% na contribuição brasileira para o aquecimento global – algo, sem dúvida,
expressivo.
O desmatamento aumentou em três
estados apenas. No Tocantins, ampliou em 33%; no Amazonas, 29%; e, pasme-se, no
Acre, o desmatamento foi ampliado em 10%. É possível explicar as razões para a elevação
ocorrida no Tocantins e no Amazonas; mas o aumento no Acre, onde as taxas eram
inferiores nos últimos anos, está intrigando os técnicos do Inpe, que não
entendem o que aconteceu no estado.
Juntamente com diplomatas chineses e de outros países em desenvolvimento,
os diplomatas brasileiros apertam o cerco para que os países desenvolvidos
cumpram sua parte na redução das emissões de carbono, com um aviso claro: o
país conseguiu reduzir o desmatamento, mas isso tem um custo, que precisa e
deve ser repartido entre todas as nações do mundo.
Eles alertam que, se não houver um plano concreto e detalhado para a
implementação do Fundo Climático Verde – no qual as nações ricas prometeram
depositar US$ 100 bilhões anuais, a serem aplicados em investimentos para mitigação
dos efeitos econômicos gerados pelas reduções de carbono –, a COP 18 será um
grande fracasso.
Significa dizer que, independentemente das negociações sobre a validade
vencida do Protocolo de Quioto (que, ao que tudo indica, será substituído por
um novo acordo a entrar em vigor a partir de 2020), o subsídio financeiro dos
países que mais poluem para ajudar os países em desenvolvimento a poluírem
menos precisa ser acertado de imediato.
Não há, por parte dos países desenvolvidos, restrições políticas para a
estruturação do Fundo Climático Verde. O que emperra o avanço das negociações é
a situação econômica da Europa. Em resumo, parece que as discussões caminham
para o reconhecimento da importância do aporte de capital, adiando-se, todavia,
a realização dos depósitos para um período pós-crise.
Condição difícil de aceitar, uma vez que os agentes financeiros têm
alertado que não há previsão para o encerramento ou a superação da crise
econômica vivenciada na Europa.
Por outro lado, as organizações da sociedade civil e os ambientalistas em
geral conclamam os países a investirem no Fundo Climático Verde, sob a condição
de que esses recursos, ao invés de serem aplicados para comprar veículos para
controlar o desmatamento, por exemplo, sejam usados na geração de energia
limpa, sobretudo solar, eólica e de biomassa florestal.
Recursos financeiros que, uma vez investidos, possam fazer com que a
economia de baixo carbono se torne realidade.
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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