terça-feira, 15 de janeiro de 2019



Sobre o cluster de castanha-da-amazônia na Bolívia
* Ecio Rodrigues
Desde a última década do século passado que a Bolívia domina o mercado internacional de castanha-da-amazônia, ou castanha-do-brasil.
Os empresários bolivianos chegaram a esse patamar graças à organização de um aglomerado econômico, na forma de um cluster de castanha – que reúne, na região de Riberalta, mas de 30 empresas.
Contudo, como a Bolívia não possui castanhais suficientes para sustentar esse nível de produção, as amêndoas procedentes das castanheiras do Acre e de Rondônia são essenciais para o abastecimento do cluster boliviano.
Os extrativistas brasileiros podem enumerar uma série de razões para explicar porque preferem negociar com os bolivianos, e não com seus conterrâneos.   
Em primeiro lugar, o beneficiamento primário efetuado do lado de cá (que se limita a descascar e secar a castanha) sempre foi realizado por um oligopólio – ou seja, pouquíssimas empresas atuam no setor, sendo que apenas uma detinha 80% da comercialização.
Essa empresa, na tranquila e cômoda posição de líder do mercado nacional, ditava o preço pago ao extrativista, invariavelmente inferior ao valor desembolsado pelos bolivianos.
Não à toa, nos últimos anos, os empresários brasileiros passaram a denunciar a existência de um suposto contrabando de castanha, na tentativa de justificar o maior preço pago pelos bolivianos pela via da sonegação de impostos.
Em segundo lugar, os empresários bolivianos reconhecem que o produto castanha-da-Amazônia possui expressivo valor comercial e significativa importância econômica para as frágeis economias das cidades fronteiriças, mantendo regularidade na aquisição e assumindo compromissos de compra com mais de um ano de antecedência.
Na verdade, a despeito de a castanha ter permanecido como importante item da pauta de exportação nacional por mais de um século, é inegável a dificuldade das políticas públicas estaduais para promover a formação de aglomerados econômicos em torno desse produto.
Parece que os empresários brasileiros se acomodaram na situação de oligopólio e assumiram a equivocada estratégia comercial de pagar pouco ao extrativista, mesmo auferindo receita em dólares. Isto é, a moeda recebida na venda era mais importante que o produto ofertado.
Enquanto isso, os vizinhos bolivianos se aprimoraram, e hoje suas indústrias são exemplo de uma produção organizada num cluster de beneficiamento e manejo da amêndoa. O Departamento de Riberalta é reconhecido pela alta especialização na oferta de produtos à base de castanha-da-amazônia.
A melhor saída para os brasileiros é manter com os empresários da Bolívia uma relação comercial que logre ganhos tecnológicos no manejo da castanheira, de forma a ampliar a produção de castanha e a renda alcançada pelos extrativistas.
Com efeito, obtendo ganhos regulares e anuais com a safra da amêndoa, o produtor poderá ampliar a quantidade de árvores manejadas e a produtividade de seus castanhais.
Antes que o desmatamento para criar boi destrua os castanhais e cause o colapso da produção brasileira de castanha.

Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.




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