Caso do Ibama
comprova que juntar órgãos públicos nem sempre funciona
* Ecio Rodrigues
Ávidos por demonstrar preocupação com o dinheiro
público, gestores recém-eleitos no país se apressam em juntar e extinguir órgãos,
como forma de conter gastos e melhorar o serviço prestado à sociedade.
Mas, será que a extinção/fusão de órgãos é medida que
realmente traz eficiência à gestão pública, ou se trata de mera distração, destinada
apenas a liberar uma dose extra de populismo?
Para responder a essa pergunta, o caso do Ibama
parece bem didático e elucidativo.
Criado em 1989, o Ibama se originou da fusão de 4
outros órgãos: Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema); Superintendência da
Borracha (Sudhevea); Superintendência da Pesca (Sudepe) e Instituto Brasileiro
de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
Reunindo funções e formas de atuação específicas daqueles
órgãos, o Ibama consumiu uma quantidade razoável de recursos públicos, no
intuito de se adequar e lograr cumprir adequadamente seus abrangentes (e muitas
vezes conflitantes) objetivos.
Contudo, até hoje o órgão não se achou. Em 30 anos
de existência, o Ibama ainda não encontrou um modelo de funcionamento que
satisfaça a sociedade e atenda às demandas da gestão ambiental nacional.
Os estudos já realizados sobre o funcionamento e eficiência
do Ibama demonstram que a absorção de competências díspares está na origem das
dificuldades institucionais enfrentadas pelo órgão.
Com efeito, até o início da década de 2000, o Ibama
atuava em três âmbitos distintos: fiscalização e licenciamento; gerenciamento
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação; e ordenamento da produção de
recursos florestais.
É evidente a complexidade embutida na demarcação e
organização de um formato capaz de articular tal amplitude institucional. Trata-se,
obviamente, de algo muito difícil de funcionar.
Pior, nesse trâmite de órgãos extintos e novamente
reunidos no Ibama, alguns atores sociais, como os pequenos produtores
florestais, foram bastante penalizados.
Afinal, de uma maneira geral, bem ou mal, Sudhevea,
Sudepe e IBDF buscavam atender às demandas de seringueiros, castanheiros,
pescadores e outros coletores de produtos como carnaúba, erva mate e balata.
Atestada a ineficiência do Ibama, depois de mais de
10 anos da junção teve início o processo de desagregação. Primeiro, os assuntos
relacionados à pesca passaram à alçada de uma secretaria especial vinculada à Presidência
da República. Funções similares às da extinta Sudepe.
Mais tarde, em 2006, foi instituído o Serviço
Florestal Brasileiro, com a atribuição precípua de operacionalizar o procedimento
da concessão florestal, disponibilizando à iniciativa privada, por meio de
leilões, as florestas nacionais em condições de produzir madeira de maneira
tecnificada. Finalidade semelhante à do antigo IBDF.
Ainda havia a retirar do confuso Ibama a gestão do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Snuc – que foi instituído em 2000
e regulamentado em 2002.
Para esse fim, criou-se em 2007 o ICMBio, com a incumbência
de propor novas unidades de conservação e gerenciar as existentes. Muito
parecido com a obsoleta Sema.
Agora, falta um órgão para assumir o licenciamento
ambiental. No final das contas – pelo menos na área ambiental –, há demanda
social para mais, e não menos órgãos.
Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário