Pesquisa
comprova: desmatamento causa seca e alagação na Amazônia
* Ecio Rodrigues
O comprometimento do ciclo hidrológico da Amazônia,
a despeito de ser uma das consequências mais terríveis do desmatamento, até há
pouco tempo não era objeto de muita atenção por parte dos pesquisadores.
O que não é de se espantar.
Acontece que ao se analisarem as implicações
decorrentes das atividades inseridas no universo da agropecuária, que dependem
da substituição das florestas, como é o caso da criação de boi, chega-se a uma
lista extensa e inquietante.
A começar pela perda das características físicas da
terra – uma vez que a retirada das árvores leva à compactação do solo,
dificultando a penetração das raízes das plantas –, os problemas relacionados
ao desmatamento, além de gravíssimos, parecem intermináveis.
Diga-se que apenas nos últimos 15 anos foi detectada
e dimensionada a íntima associação existente entre a derrubada das florestas e
a produção de carbono, o principal gás causador do efeito estufa.
Como o aquecimento do planeta decorre do fenômeno
do efeito estufa, as consequentes mudanças climáticas saltaram para o topo da
lista das preocupações dos cientistas.
Não à toa, o Acordo de Paris, tratado assinado por
praticamente todos os países do mundo em dezembro de 2015 e considerado o mais
abrangente e representativo pacto global voltado para a redução do carbono da
atmosfera, assumiu como uma de suas prioridades zerar o desmatamento na
Amazônia.
Faltava direcionar as atenções para a inter-relação
presente entre florestas e água – o que parece estar acontecendo agora.
Ainda que as pesquisas realizadas por importantes instituições,
como Inpa e Embrapa, venham demonstrando desde a década de 1960 a importância
da mata ciliar para a qualidade e vazão da água nos rios e igarapés, a lacuna em
relação ao regime de chuvas sempre foi perceptível.
Mas estudos recentes, como o que foi publicado em
fevereiro último sob a autoria de Thomas Lovejoy, professor da George Mason
University (EUA), e de Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, alertam que a área já desmatada
na Amazônia compromete o regime hidrológico da região.
Apoiando-se nas pesquisas realizadas por Enéas
Salati ainda na década de 1970, e que concluíram que a Amazônia produz a metade
da água vertida nas precipitações – ou, em outas palavras, a floresta na
Amazônia gera quase metade de suas próprias chuvas –, os autores se propuseram
a estabelecer o limite do desmatamento, para não prejudicar de forma
irreversível a hidrografia.
Ou seja, assumindo que a alteração do regime
pluviométrico leva à ocorrência corriqueira de secas e alagações, os
pesquisadores questionaram até onde o desmatamento poderia chegar sem deteriorar
o ciclo das águas.
Muito embora tenham iniciado as medições testando
modelos matemáticos com 40% da área florestal desmatada, chegaram à conclusão
de que, devido a outros fatores, como aumento das queimadas e aquecimento
global, o comprometimento do balanço hidrológico e o início do processo de
savanização ocorreriam a partir de 20 a 25% de destruição florestal.
Mais que provar que a retirada da floresta é a
causa principal de secas e alagações, os pesquisadores definiram um prazo para
zerar o desmatamento – o legal e o ilegal.
Esse prazo já terminou.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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