Do Acre a Puno
* Ecio Rodrigues
Na fronteira entre Assis Brasil e Iñapari, porta de
entrada para os brasileiros que se arriscam a ir de carro do Acre ao Peru,
deveria ter uma placa informando: “Este país está em obras, sem data para
terminar”.
Tudo indica que o aquecimento da economia, além de valorizar
a moeda peruana, diminuindo o nosso poder de compra (câmbio médio atual por lá:
1 real = 0,90 sol), também promoveu o investimento em obras públicas, sobretudo
abertura e pavimentação de rodovias.
Os transtornos são evidentes, principalmente no
trânsito urbano – que, diga-se de passagem, é caótico mesmo quando não tem
obra. Na pequena e intensa Puerto Maldonado, por exemplo, onde os brasileiros costumam
pernoitar antes de prosseguir para Cuzco ou Puno, percebem-se muitas vias
inacabadas, inclusive a principal delas, que corta toda a cidade.
Mas nada se compara a Juliaca.
Saindo de Puerto Maldonado, e depois de atravessar montanhas
nevadas que proporcionam uma paisagem natural de tirar o fôlego, chega-se a Juliaca.
O que não é agradável, diga-se.
A impressão que se tem é que a cidade está em
escombros: construções inacabadas, com vergalhões expostos (parece até que
foram bombardeadas), ruas sem nenhuma pavimentação, com muitos buracos e lama
(ou poeira, dependendo da época do ano), e muito lixo, muita gente, muitos
carros e motos, numa desordem assombrosa até para os latinos.
Aliás, prédios com vergalhões expostos e trânsito
desorganizado são características presentes em todo o país. Ao que parece, os
peruanos não terminam suas construções – e na esperança, talvez, de ampliá-las com
novas lages e pavimentos, deixam os ferros levantados e à vista.
Ao que parece, também, todo peruano possui licença
para transportar pessoas e cargas. Como a oferta de transporte é bem superior à
demanda e como não há regras, a conquista do cliente se dá na marra, ou melhor,
na buzina.
Provavelmente, em algum momento alguém teve a
infeliz ideia de importar da Ásia o tal “tuk-tuk”, uma espécie de riquixá motorizado, com cabine
para conduzir até 3 pessoas, mas que os peruanos conseguem transformar em
qualque coisa, até em trator.
Alerte-se que não há opções
razoáveis para hospedagem ou alimentação entre Puerto Maldonado e Puno. Portanto, o viajante tem que se aprovisionar
para enfrentar 10 horas de viagem pelos Andes. Significa que deve se preparar,
com remédios, chá de coca e até mesmo oxigênio, para o mal-estar causado pela
altitude, que pode chegar a 5.000 metros. Mas nada que não
seja contornável. E a estrada é um tapete.
Tal como Cusco e Arequipa, Puno
é marcada pela ocupação desordenada. Mas o centro histórico e a Plaza de Armas
valem a visita. Como atração principal, o Lago Titicaca, que fica na fronteira
entre o Peru e a Bolívia (Copacabana), certamente paga a viagem.
Situando-se a 3.812 metros acima do mar, o Titicaca detém o título de lago navegável mais alto do mundo. Com seus
8.300 km2 de espelho d’água, tornou-se referência para a produção agrícola e a distribuição demográfica
das cidades durante o Império Inca. Por sinal, reza a lenda que foi no Titicaca que surgiu essa
civilização pré-colombiana.
Enfim, visitar os monumentos incas
erguidos nas ilhas do Sol e da Lua fazem esquecer qualquer adversidade. No
final das contas, é uma grande aventura, inesquecível!
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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