Biomassa florestal para produção de energia
elétrica
* Ecio Rodrigues
O crescimento do consumo no país, em especial ante o
surgimento da chamada nova classe média, permitiu o aquecimento da produção
industrial. Não obstante, a economia como um todo se vê amarrada por uma série
de gargalos relacionados à infraestrutura, dos quais se destacam a deficiente
logística de transporte de cargas e de pessoas, e a limitada oferta de energia
elétrica.
Faltam hidrovias, ferrovias e rodovias para
transportar a soja e o ferro produzidos. Da mesma forma, faltam portos e aeroportos
para exportar uma produção primária que é responsável por quase 50% do Produto
Interno Bruto nacional.
Parece haver uma incapacidade insuperável para ampliar-se
a malha logística e, ao mesmo tempo, efetuar-se a manutenção da malha
existente. Normas licitatórias impraticáveis associadas a casos de corrupção recorrentes
levam a eficiência estatal para o fundo do poço. As regras impedem a eficiência,
mas não evitam a corrupção – o que é inusitado, diga-se.
Supondo-se, contudo, que os entraves de logísticas fossem
superados e que a economia crescesse a um PIB de 5% ao ano (o mínimo que se
espera de um país como o Brasil), o colapso viria da oferta de energia
elétrica.
Ocorre que não há capacidade instalada para a geração
de energia elétrica, de forma a garantir-se uma ampliação anual da oferta a
taxas de 5%.
Significa dizer que há uma demanda elevada e
permanente para a geração de energia elétrica por todos meios possíveis. Sendo
assim, o país irá pagar (um bom preço, por sinal) por toda a energia elétrica
produzida nos próximos 20 anos – seja essa energia gerada por novas
hidrelétricas, por termoelétricas à diesel, por parques eólicos, por painéis
fotovoltaicos para captação de energia solar. Enfim, seja ou não essa energia
oriunda de fontes renováveis, o país irá pagar por ela.
Esse quadro no mercado de produção de energia, ao
mesmo tempo em que pode ser vantajoso, também pode ser uma grave ameaça para uma
região como a Amazônia. Se por um lado, as tarifas regionais de energia
elétrica são as mais caras do país, por outro, constata-se uma perigosa e contumaz
ausência de prioridade para o setor elétrico.
Enquanto a construção de hidrelétricas – comprovadamente
a fonte de energia com menor impacto ambiental e a mais adequada aos padrões de
sustentabilidade – encontra grandes resistências (vide o caso de Belo Monte),
outras possibilidades de geração energética não possuem escala suficiente para
abastecer a demanda das cidades e das populações amazônicas.
A despeito da oposição de um movimento ambiental que
consegue arregimentar muitos aliados, inclusive no interior das universidades e
institutos de pesquisas (o que é um grande contracenso), a hidrelétrica ainda é
uma saída para as localidades cujos rios apresentam diferenças altimétricas satisfatórias
para a geração de energia. Mas, nos casos em que as hidrelétricas não são
possíveis, a saída é bem menos evidente.
No Acre, por exemplo, onde não existe a força das
águas, onde o vento não sopra na intensidade exigida pelos cataventos, e o sol,
por mais calor que faça, não aparece durante todo o ano e na abundância
demandada pelos painéis que captam energia solar, resta uma opção: a produção
de energia elétrica por meio de biomassa florestal.
Na verdade, qualquer biomassa – seja de origem
agrícola, como é o caso da palha de arroz e do bagaço de cana-de-açúcar,
produzidos em pequena quantidade no âmbito do estado, seja de origem florestal,
como o são o pó de serra, a lasca de madeira e o ouriço de castanha-do-brasil, produzidos
em grande quantidade – pode mover caldeiras e gerar energia elétrica na escala
desejada.
No Acre, a geração de energia elétrica com biomassa
florestal é uma oportunidade única para melhorar-se a dinâmica da frágil
economia local. Mas, para que essa oportunidade seja aproveitada, ela precisa ser
priorizada.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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