segunda-feira, 1 de abril de 2013


Biomassa florestal para produção de energia elétrica
* Ecio Rodrigues
O crescimento do consumo no país, em especial ante o surgimento da chamada nova classe média, permitiu o aquecimento da produção industrial. Não obstante, a economia como um todo se vê amarrada por uma série de gargalos relacionados à infraestrutura, dos quais se destacam a deficiente logística de transporte de cargas e de pessoas, e a limitada oferta de energia elétrica.
Faltam hidrovias, ferrovias e rodovias para transportar a soja e o ferro produzidos. Da mesma forma, faltam portos e aeroportos para exportar uma produção primária que é responsável por quase 50% do Produto Interno Bruto nacional.
Parece haver uma incapacidade insuperável para ampliar-se a malha logística e, ao mesmo tempo, efetuar-se a manutenção da malha existente. Normas licitatórias impraticáveis associadas a casos de corrupção recorrentes levam a eficiência estatal para o fundo do poço. As regras impedem a eficiência, mas não evitam a corrupção – o que é inusitado, diga-se.
Supondo-se, contudo, que os entraves de logísticas fossem superados e que a economia crescesse a um PIB de 5% ao ano (o mínimo que se espera de um país como o Brasil), o colapso viria da oferta de energia elétrica.
Ocorre que não há capacidade instalada para a geração de energia elétrica, de forma a garantir-se uma ampliação anual da oferta a taxas de 5%.
Significa dizer que há uma demanda elevada e permanente para a geração de energia elétrica por todos meios possíveis. Sendo assim, o país irá pagar (um bom preço, por sinal) por toda a energia elétrica produzida nos próximos 20 anos – seja essa energia gerada por novas hidrelétricas, por termoelétricas à diesel, por parques eólicos, por painéis fotovoltaicos para captação de energia solar. Enfim, seja ou não essa energia oriunda de fontes renováveis, o país irá pagar por ela.
Esse quadro no mercado de produção de energia, ao mesmo tempo em que pode ser vantajoso, também pode ser uma grave ameaça para uma região como a Amazônia. Se por um lado, as tarifas regionais de energia elétrica são as mais caras do país, por outro, constata-se uma perigosa e contumaz ausência de prioridade para o setor elétrico.
Enquanto a construção de hidrelétricas – comprovadamente a fonte de energia com menor impacto ambiental e a mais adequada aos padrões de sustentabilidade – encontra grandes resistências (vide o caso de Belo Monte), outras possibilidades de geração energética não possuem escala suficiente para abastecer a demanda das cidades e das populações amazônicas.
A despeito da oposição de um movimento ambiental que consegue arregimentar muitos aliados, inclusive no interior das universidades e institutos de pesquisas (o que é um grande contracenso), a hidrelétrica ainda é uma saída para as localidades cujos rios apresentam diferenças altimétricas satisfatórias para a geração de energia. Mas, nos casos em que as hidrelétricas não são possíveis, a saída é bem menos evidente.
No Acre, por exemplo, onde não existe a força das águas, onde o vento não sopra na intensidade exigida pelos cataventos, e o sol, por mais calor que faça, não aparece durante todo o ano e na abundância demandada pelos painéis que captam energia solar, resta uma opção: a produção de energia elétrica por meio de biomassa florestal.
Na verdade, qualquer biomassa – seja de origem agrícola, como é o caso da palha de arroz e do bagaço de cana-de-açúcar, produzidos em pequena quantidade no âmbito do estado, seja de origem florestal, como o são o pó de serra, a lasca de madeira e o ouriço de castanha-do-brasil, produzidos em grande quantidade – pode mover caldeiras e gerar energia elétrica na escala desejada.
No Acre, a geração de energia elétrica com biomassa florestal é uma oportunidade única para melhorar-se a dinâmica da frágil economia local. Mas, para que essa oportunidade seja aproveitada, ela precisa ser priorizada.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).



                                                                                       

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