Florestas
para energia elétrica
* Ecio Rodrigues
Na
Amazônia, a energia elétrica é a mais cara do país, e em estados como o Acre, a
tarifa paga pela energia consumida pelas residências e empresas é a mais cara
da Amazônia. A razão apontada pelas geradoras para essa diferença de preço era
(e continua sendo) o custo de transporte do combustível necessário às
termoelétricas movidas a óleo diesel.
A
construção das primeiras hidrelétricas na região, na década de 1970, não
resolveu o problema. Até bem pouco tempo, não mais que cinco anos, os
envolvidos com a produção florestal na Amazônia, sobretudo a produção de
madeira, viam-se às voltas com uma oferta de energia elétrica cara e instável
para fazer funcionar a serra-fita que iniciaria o processo de produção de artigos
em madeira serrada.
A
instabilidade na oferta causava quedas constantes de fornecimento. Essas
quedas, por sua vez, paralisavam a indústria por longos períodos e traziam risco
para as máquinas – que quando queimavam deixavam a indústria parada por tempo
indeterminado.
Encontrar
uma solução para esses embaraços, atinentes ao alto custo e à instabilidade na
oferta de energia elétrica, era prioridade para o empresário do setor
florestal, que não queria ficar à mercê da esfera pública.
No
final da década de 1990 vieram as necessárias privatizações, e em 2003 foi instituída
a legislação que estabeleceu o marco legal do setor elétrico no país. Depois
disso, mesmo as mais remotas regiões tiveram acesso ao Sistema Interligado
Nacional – SIN, o popular “linhão”. Com a implantação do SIN, um contingente
considerável de pessoas e empresas ficou em condições não só de consumir, mas
também de gerar energia elétrica para o sistema.
Para
o empresário que havia se adiantado na instalação de caldeiras (visando à queima
dos resíduos de sua própria produção) surgiu, de imediato, uma nova
oportunidade: mediante a queima do pó de serra, das aparas de madeira e de
qualquer outro dos denominados subprodutos da produção madeireira, além de
gerar a energia necessária para consumo próprio, ele poderia vender energia
elétrica para o SIN.
Sem
dúvida, trata-se de excelente oportunidade de negócio – que, por sinal, nunca
chegou a ser cogitada pelos profissionais que apontam tendências para os segmentos
de mercado. O problema é que essa oportunidade de negócio está restrita aos ramos
empresariais envolvidos com o beneficiamento da madeira, como as serrarias e as
fábricas de compensado.
Ocorre
que esses ramos empresariais – mesmo chegando ao limite de sua capacidade de
produção de combustíveis para queima – não conseguirão atender à crescente demanda
pela geração de energia elétrica para o SIN. Dessa forma, uma oportunidade bem
mais ampla de negócio surge no setor florestal: o plantio de florestas para
geração de energia elétrica na Amazônia.
Um
negócio que, além de lucrativo, pode ser considerado apropriado aos ideais de
sustentabilidade – desde que os plantios fiquem restritos às áreas atualmente empregadas
na criação de gado pela pecuária extensiva, atividade que é, comprovadamente, a
pior alternativa, sob a ótica da sustentabilidade, para a ocupação de terras na
Amazônia. Ou seja, não poderá ocorrer, sob nenhum pretexto, a substituição de
florestas nativas por florestas plantadas para a produção de energia.
As
dúvidas acerca das áreas e espécies florestais a serem usadas nos cultivos precisam
ser respondidas com celeridade. Por outro lado, a resistência de setores
ambientalistas com relação ao cultivo de espécies do gênero eucaliptus deve ser
adequadamente enfrentada.
O
futuro é mais que promissor para o setor florestal na Amazônia, que sempre
viveu às turras com os ambientalistas. Mudanças profundas virão.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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