domingo, 7 de abril de 2013


Florestas para energia elétrica
* Ecio Rodrigues
Na Amazônia, a energia elétrica é a mais cara do país, e em estados como o Acre, a tarifa paga pela energia consumida pelas residências e empresas é a mais cara da Amazônia. A razão apontada pelas geradoras para essa diferença de preço era (e continua sendo) o custo de transporte do combustível necessário às termoelétricas movidas a óleo diesel.
A construção das primeiras hidrelétricas na região, na década de 1970, não resolveu o problema. Até bem pouco tempo, não mais que cinco anos, os envolvidos com a produção florestal na Amazônia, sobretudo a produção de madeira, viam-se às voltas com uma oferta de energia elétrica cara e instável para fazer funcionar a serra-fita que iniciaria o processo de produção de artigos em madeira serrada.
A instabilidade na oferta causava quedas constantes de fornecimento. Essas quedas, por sua vez, paralisavam a indústria por longos períodos e traziam risco para as máquinas – que quando queimavam deixavam a indústria parada por tempo indeterminado.
Encontrar uma solução para esses embaraços, atinentes ao alto custo e à instabilidade na oferta de energia elétrica, era prioridade para o empresário do setor florestal, que não queria ficar à mercê da esfera pública.
No final da década de 1990 vieram as necessárias privatizações, e em 2003 foi instituída a legislação que estabeleceu o marco legal do setor elétrico no país. Depois disso, mesmo as mais remotas regiões tiveram acesso ao Sistema Interligado Nacional – SIN, o popular “linhão”. Com a implantação do SIN, um contingente considerável de pessoas e empresas ficou em condições não só de consumir, mas também de gerar energia elétrica para o sistema.
Para o empresário que havia se adiantado na instalação de caldeiras (visando à queima dos resíduos de sua própria produção) surgiu, de imediato, uma nova oportunidade: mediante a queima do pó de serra, das aparas de madeira e de qualquer outro dos denominados subprodutos da produção madeireira, além de gerar a energia necessária para consumo próprio, ele poderia vender energia elétrica para o SIN.
Sem dúvida, trata-se de excelente oportunidade de negócio – que, por sinal, nunca chegou a ser cogitada pelos profissionais que apontam tendências para os segmentos de mercado. O problema é que essa oportunidade de negócio está restrita aos ramos empresariais envolvidos com o beneficiamento da madeira, como as serrarias e as fábricas de compensado.
Ocorre que esses ramos empresariais – mesmo chegando ao limite de sua capacidade de produção de combustíveis para queima – não conseguirão atender à crescente demanda pela geração de energia elétrica para o SIN. Dessa forma, uma oportunidade bem mais ampla de negócio surge no setor florestal: o plantio de florestas para geração de energia elétrica na Amazônia.
Um negócio que, além de lucrativo, pode ser considerado apropriado aos ideais de sustentabilidade – desde que os plantios fiquem restritos às áreas atualmente empregadas na criação de gado pela pecuária extensiva, atividade que é, comprovadamente, a pior alternativa, sob a ótica da sustentabilidade, para a ocupação de terras na Amazônia. Ou seja, não poderá ocorrer, sob nenhum pretexto, a substituição de florestas nativas por florestas plantadas para a produção de energia.
As dúvidas acerca das áreas e espécies florestais a serem usadas nos cultivos precisam ser respondidas com celeridade. Por outro lado, a resistência de setores ambientalistas com relação ao cultivo de espécies do gênero eucaliptus deve ser adequadamente enfrentada.
O futuro é mais que promissor para o setor florestal na Amazônia, que sempre viveu às turras com os ambientalistas. Mudanças profundas virão.
  
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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