segunda-feira, 11 de março de 2013


A opção pela floresta é, e sempre foi, política
* Ecio Rodrigues
É rara a possibilidade de juntarem-se diversos tipos de atividades produtivas num mesmo território, sem que haja algum tipo de conflito gerado pela competição dos produtores na exploração dos recursos disponíveis. Essa possibilidade é ainda mais rara quando as atividades produtivas são, por sua natureza, excludentes, como no caso da pecuária e da atividade florestal.
Não há como desenvolver a pecuária sem comprometer a atividade florestal, pelo simples fato de que o recurso disponível (nesse caso, o solo) somente será passível de uso pela pecuária se a cobertura florestal for retirada. E como todo produtor sabe, terra ocupada pela pecuária não vira floresta novamente – pelo menos nos 50 anos subsequentes. Ou seja, não tem volta.
Embora exista a possibilidade da substituição do capim por outro cultivo, que pode ser até de árvores, o ecossistema florestal que existia não será regenerado no médio prazo. A rica biodiversidade estará perdida e só poderá recuperar toda a sua potencialidade no longo prazo, e desde que se invista nessa restauração, algo impossível para o produtor.
Sendo assim, a decisão privada de investir no desmatamento para o cultivo de capim ou de cana-de-açúcar é praticamente definitiva.
Por outro lado, a decisão privada de investimento é motivada por uma série de variáveis que fazem com que, aos olhos do produtor, a agropecuária seja mais atraente que qualquer outra atividade que se relacione com a exploração de algum produto florestal.
Sem qualificar o produtor de bom ou mau, de perdulário ou de aproveitador – um equívoco muito comum – as variáveis que influenciam na decisão privada de investir poderão ser alteradas se, e somente se, houver uma decisão política para isso.
A crença técnica, que embalou uma geração de engenheiros de vários matizes, mas especialmente os engenheiros florestais e os agrônomos, de que a realização de um zoneamento, dito econômico e ecológico (uma junção por sinal inusitada), poderia resolver a questão não se concretizou para a realidade amazônica, justamente porque os estudos técnicos carecem de decisão política para serem trazidos para a realidade.
Ocorre que além de embutir certo grau de generalização – uma vez que os levantamentos não afirmam categoricamente que tal terra é boa para atividade florestal e não para pecuária, e, no máximo, apontam as consequências que o desmatamento pode trazer para aquela região – a alternativa técnica é sempre interpretada pela decisão política.
A distribuição desordenada de unidades de conservação no Acre, o estado amazônico que proporcionalmente possui maior área ocupada por unidades de conservação, dá uma boa medida dessa constatação. No Acre, criaram-se reservas extrativistas, florestas nacionais etc. de maneira totalmente aleatória, sem que houvesse qualquer tipo de planejamento para a localização dessas unidades em território estadual.
Essa ausência de planejamento compromete o gerenciamento das unidades de conservação, que terminam implicadas na indecisão política entre a pecuária e a floresta. As unidades de uso sustentável criadas no Acre, como as reservas extrativistas, florestas nacionais e as florestas estaduais, ante suas características de produção florestal (comunitária no primeiro caso e empresarial nas duas últimas) deveriam fazer parte de um sistema interligado, que tivesse uma gestão unificada e, o mais importante, que possibilitasse a comercialização conjunta da produção e a obtenção de melhores preços. Mas isso não ocorre.
Não ocorre porque a decisão por consolidar uma economia florestal forte e superior à da pecuária é política. E isso, sim, falta na Amazônia.

* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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