Rodada de discussão sobre biomassa
florestal e energia elétrica na Amazônia
* Ecio Rodrigues
Desde que se iniciaram os debates acerca da construção das hidrelétricas no
rio Madeira, os envolvidos com o setor florestal no Acre estudam a
possibilidade de esse setor ingressar no influente mercado abrangido pela
geração e distribuição de energia elétrica na Amazônia.
Acontece que, num lugar como o Acre – onde, a despeito do calor que faz,
não há sol suficiente para a geração de energia solar; tampouco não há vento na
quantidade requerida pelos cata-ventos da energia eólica; e, por fim, os rios
não possuem vazão e queda altimétrica aceitáveis para a construção de
hidrelétricas –, o emprego da biomassa florestal surge com grande potencial
para a geração de energia elétrica.
Reforçam essa tese três constatações: o fato de que 86% do território
estadual possuem cobertura florestal nativa; a quantidade de solos precariamente
aproveitada pela produção pecuária; e, o mais importante, a característica
sustentável da produção de energia elétrica por biomassa florestal, decorrente
do balanço zero em relação ao carbono depositado na atmosfera.
A idéia é produzir energia elétrica mediante a queima de biomassa
florestal em caldeiras. Incluem-se no rol de matérias-primas ou subprodutos
denominados de biomassa florestal o pó de serra e as aparas de madeira que derivam
em grande quantidade do processo de industrialização da madeira. Esses materiais,
até bem pouco tempo, eram queimados a céu aberto – procedimento que, por sinal,
levava as empresas a serem invariavelmente autuadas pelos órgãos de fiscalização
ambiental.
O descarte dos materiais que eram considerados “resíduos da produção
florestal” sempre constituiu um verdadeiro transtorno para as empresas do ramo
do processamento da madeira. Mesmo com o reforço das atividades ceramistas, que
precisam das aparas de madeira para acender os fornos de secagem de tijolos, as
serrarias não conseguiam resolver o problema da destinação de todo o resíduo
produzido.
O termo biomassa florestal inclui também outros subprodutos madeireiros que
atualmente são desaproveitados. As galhadas das árvores exploradas, por
exemplo, que podem possuir mais metros cúbicos de madeira que a própria tora
levada para a indústria, são abandonadas nas unidades de produção, o que significa
desperdício e baixa produtividade.
Além da madeira, há ainda mais um importante produto florestal que pode
ser empregado na queima de biomassa em caldeiras: o ouriço da castanha-do-brasil.
A atividade de coleta das amêndoas deixa no interior da floresta uma quantidade
expressiva de ouriços que possuem alto poder calorífico, ou seja, são bons para
produzir calor.
Uma aritmética fácil permite uma ideia do desperdício. No Acre, as estatísticas
oficiais, que não contabilizam nem a castanha consumida pelas famílias no
interior da floresta e nos ramais, nem a produção vendida diretamente aos bolivianos
pelos rios e igarapés, dão conta de uma produção estimada em 14 mil toneladas
de castanha, apenas no ano de 2011.
Não há dúvida, portanto, de que a oferta do produto energia elétrica irá movimentar
o setor florestal na região pelos próximos 20 anos – em face, sobretudo, da
significativa participação dessa receita na composição do fluxo de caixa das
empresas.
Diante disso, um processo permanente de discussão sobre o tema vem sendo
organizado por um grupo de acadêmicos em Engenharia Florestal da Universidade
Federal do Acre, que pretende avaliar os impactos econômicos, ecológicos e
sociais advindos da geração de energia elétrica com o emprego de biomassa
florestal.
Por meio da realização de Rodadas de Discussão, pretende-se formular
estratégias para a entrada do Acre nesse novo e alvissareiro mercado.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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