segunda-feira, 20 de agosto de 2012


Sustentabilidade do dia a dia
* Ecio Rodrigues

O conceito de Desenvolvimento Sustentável, cunhado durante a histórica conferencia da Organização das Nações Unidas, ONU, realizada no Rio em 1992, exigiu um esforço enorme da diplomacia internacional para a sua demarcação. Que o conceito não seria definido de maneira objetiva e sob alto grau de especificidade era evidente para todos os países participantes, mas esperava-se chegar ao mais próximo possível da realidade diária dos indivíduos, famílias, governos e empresas.
         Um primeiro passo importante para se chegar a um consenso foi a opção por relacionar-se a sustentabilidade à capacidade de o meio ambiente satisfazer as demandas da humanidade.
         Satisfazer as necessidades atuais da humanidade sem comprometer a capacidade de satisfação das necessidades das futuras gerações; foi esta a definição que situou o Desenvolvimento Sustentável no centro das discussões a respeito do compromisso que as pessoas podem assumir hoje, para que seus filhos e netos, as futuras gerações, não sejam privadas de ter casa, comida, carro, e roupa lavada.
Não obstante, o conceito de Desenvolvimento Sustentável é impreciso, inconcluso e incompreensível, o que faz com que o resultado de sua aplicação seja, para muitos, considerado imprevisível - da mesma forma que ninguém duvida de que essa aplicação é inadiável.
         O conceito é impreciso, devido à generalidade contida no termo “satisfação de necessidades”; é inconcluso, pois as negociações quanto ao seu detalhamento foram adiadas para futuras Convenções da ONU; e é incompreensível, uma vez que somente alguns poucos familiarizados com o tema da sustentabilidade conseguem explicá-lo, ou melhor, interpretá-lo.
Sob tamanha falta de clareza, não é difícil supor que a aplicação dos ideais de sustentabilidade pode trazer implicações imprevisíveis; com um adendo, porém: implicações menos preocupantes que a rota inexorável da crise ecológica advinda do processo atual de desenvolvimento praticado no mundo. Ou seja, imprevisível, sim, mas para melhor, e por isso, urgente.
         Inadiável, mesmo sendo imprevisível, e engana-se aquele que acha que nada tem acontecido. Uma série de ações de política pública tem sido desencadeada mundo afora, com o objetivo manifesto de avançar-se em direção à sustentabilidade. Até mesmo os incrédulos devem concordar que o mundo, hoje, nem de longe é igual ao que existia antes da Rio 92.
         A sensação de fracasso que toma conta da sociedade após cada conferência da ONU, como a recente Rio + 20, pode ser explicada, em boa medida, pela dificuldade em se fazer com que as diretrizes contidas no conceito de Desenvolvimento Sustentável cheguem, com clareza, ao cotidiano da humanidade.
Por outro lado, as interpretações desse conceito - que constam de uma gama variada de teses de doutorado e dissertações de mestrado -, embora logrem explicar a importância da sustentabilidade para o futuro do planeta, carecem de uma leitura concreta de suas implicações na vida das pessoas.
         A sustentabilidade do dia a dia, aquela que depende do que se faz na rotina, e que a maioria das pessoas conseguiu traduzir em iniciativas como separação do lixo, economia de água, bem como na busca de formas alternativas de energia elétrica - somente para ficar nos melhores exemplos -, ainda carece de maior delineamento.
         A sustentabilidade do dia a dia deve ir bem além do lixo, da água ou da eletricidade, deve compreender tudo o que se consome, desde o momento em que se acorda, até a hora em que se vai dormir.
         Em resumo, a sustentabilidade do dia a dia é um modo, menos complexo, diga-se, para se entender e praticar o conceito de Desenvolvimento Sustentável.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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