Sustentabilidade do dia a dia
* Ecio Rodrigues
O conceito de Desenvolvimento Sustentável, cunhado durante a histórica
conferencia da Organização das Nações Unidas, ONU, realizada no Rio em 1992,
exigiu um esforço enorme da diplomacia internacional para a sua demarcação. Que
o conceito não seria definido de maneira objetiva e sob alto grau de
especificidade era evidente para todos os países participantes, mas esperava-se
chegar ao mais próximo possível da realidade diária dos indivíduos, famílias,
governos e empresas.
Um primeiro passo
importante para se chegar a um consenso foi a opção por relacionar-se a
sustentabilidade à capacidade de o meio ambiente satisfazer as demandas da
humanidade.
Satisfazer as necessidades
atuais da humanidade sem comprometer a capacidade de satisfação das necessidades
das futuras gerações; foi esta a definição que situou o Desenvolvimento
Sustentável no centro das discussões a respeito do compromisso que as pessoas
podem assumir hoje, para que seus filhos e netos, as futuras gerações, não
sejam privadas de ter casa, comida, carro, e roupa lavada.
Não obstante, o conceito de Desenvolvimento Sustentável é impreciso,
inconcluso e incompreensível, o que faz com que o resultado de sua aplicação
seja, para muitos, considerado imprevisível - da mesma forma que ninguém duvida
de que essa aplicação é inadiável.
O conceito é impreciso,
devido à generalidade contida no termo “satisfação de necessidades”; é
inconcluso, pois as negociações quanto ao seu detalhamento foram adiadas para
futuras Convenções da ONU; e é incompreensível, uma vez que somente alguns
poucos familiarizados com o tema da sustentabilidade conseguem explicá-lo, ou
melhor, interpretá-lo.
Sob tamanha falta de clareza, não é difícil supor que a aplicação dos
ideais de sustentabilidade pode trazer implicações imprevisíveis; com um
adendo, porém: implicações menos preocupantes que a rota inexorável da crise
ecológica advinda do processo atual de desenvolvimento praticado no mundo. Ou
seja, imprevisível, sim, mas para melhor, e por isso, urgente.
Inadiável, mesmo sendo
imprevisível, e engana-se aquele que acha que nada tem acontecido. Uma série de
ações de política pública tem sido desencadeada mundo afora, com o objetivo manifesto
de avançar-se em direção à sustentabilidade. Até mesmo os incrédulos devem
concordar que o mundo, hoje, nem de longe é igual ao que existia antes da Rio
92.
A sensação de fracasso que
toma conta da sociedade após cada conferência da ONU, como a recente Rio + 20,
pode ser explicada, em boa medida, pela dificuldade em se fazer com que as
diretrizes contidas no conceito de Desenvolvimento Sustentável cheguem, com
clareza, ao cotidiano da humanidade.
Por outro lado, as interpretações desse conceito - que constam de uma
gama variada de teses de doutorado e dissertações de mestrado -, embora logrem
explicar a importância da sustentabilidade para o futuro do planeta, carecem de
uma leitura concreta de suas implicações na vida das pessoas.
A sustentabilidade do dia a
dia, aquela que depende do que se faz na rotina, e que a maioria das pessoas
conseguiu traduzir em iniciativas como separação do lixo, economia de água, bem
como na busca de formas alternativas de energia elétrica - somente para ficar
nos melhores exemplos -, ainda carece de maior delineamento.
A sustentabilidade do dia a
dia deve ir bem além do lixo, da água ou da eletricidade, deve compreender tudo
o que se consome, desde o momento em que se acorda, até a hora em que se vai dormir.
Em resumo, a
sustentabilidade do dia a dia é um modo, menos complexo, diga-se, para se entender
e praticar o conceito de Desenvolvimento Sustentável.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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