Rio + 20 não pode acabar em samba e feijoada
* Ecio Rodrigues
As
expectativas não atendidas nas Conferências das Partes (COP) - em especial as recentes
COP 10 e COP 17 - estão sendo canalizadas para a Rio + 20. Espera-se que os
países reunidos no Rio tenham condições de avançar no sentido de pôr em prática
os propósitos daqueles importantes eventos, realizados no âmbito da Convenção
do Clima e da Diversidade Biológica.
Conquanto
vez ou outra surja um afobado dizendo que o planeta vai resfriar, e não esquentar,
há um consenso, hoje – no que se refere às Mudanças Climáticas -, quanto à
comprovação científica das alterações que vêm ocorrendo no clima, decorrentes do
modelo de desenvolvimento adotado no planeta.
Ou
seja, não vem ao caso se vamos morrer queimados ou congelados. O problema é que,
mantido o ritmo de crescimento econômico mundial, é grande o risco de acontecerem
tragédias planetárias - e isso, com certeza, vem ao caso.
Depois
do reconhecimento de que as mudanças do clima são uma verdade científica, as nações
se voltam para a imposição de regras que mitiguem o risco de tragédia. Regras
que assumem dois rumos distintos e correlatos. O primeiro diz respeito à
redução do uso de combustíveis fósseis (leia-se petróleo); e o segundo, ao
estabelecimento de mecanismos voltados para o favorecimento de um novo ciclo
econômico, denominado de Economia de Baixo Carbono.
Já em
relação à Diversidade Biológica, há o consenso de que a ampliação da área de
ecossistemas naturais sob proteção legal é a maior garantia de conservação da
biodiversidade. Com metas definidas até 2020, os países terão que criar mais Unidades
de Conservação, e, o mais importante, fazer com que essas áreas protegidas
funcionem de fato.
Ou
seja, embora seja importante a criação de novas reservas extrativistas, parques
nacionais, florestas nacionais e outras categorias de unidades de conservação, não
adianta a sociedade assumir o elevado custo relativo ao assentamento dessas
unidades, se elas não desempenharem um papel preponderante naquele novo sistema
econômico, não baseado no carbono.
A
título de exemplo, pode-se dizer que os benefícios advindos com a instalação de
reservas extrativistas não serão alcançados, se a população tradicional que
reside em seu interior mantiver a pecuária como principal atividade produtiva.
Portanto,
um dos resultados esperados da Rio + 20 é a adoção de medidas que visem
introduzir as áreas legalmente protegidas na nova economia de baixo carbono. Para
o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, Ipea, órgão público vinculado à
Secretaria de Assuntos Estratégicos, os denominados serviços ecossistêmicos
prestados por essas áreas pode chegar a 10 bilhões de reais anuais.
Por
outro lado, deverá também dominar boa parte da Conferência a discussão sobre metas
precisas para a redução das emissões de carbono, bem como de outros elementos
químicos presentes na fumaça que se joga na atmosfera.
Enfim,
tudo o que, até agora, não se conseguiu avançar em relação ao clima e à
biodiversidade precisa ter uma resposta mais consistente dos governantes no Rio.
Um lugar, por sinal, que é célebre por seu contexto – digamos assim – de samba,
mulata e feijoada.
Diversos
setores da sociedade - no Brasil, e mundo afora - estão registrando suas
reivindicações em cartas, a serem entregues aos dirigentes no decorrer da
reunião. Pelo menos um pedido é reiterado em todas elas: a consumação de ações mais
eficazes para a mitigação das mudanças climáticas e para a conservação da
biodiversidade.
Será
um perigo, para a humanidade, se os países reunidos no Rio não lograrem instituir
novas regras que garantam um futuro com sustentabilidade. A próxima
oportunidade pode ser só daqui a 20 anos.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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