Rio + 20, Código Florestal e Amazônia
* Ecio Rodrigues
Parafraseando-se
Shakespeare, algo de incoerente (para não dizer podre), acontece no reino.
Fácil de entender. Para o discurso da Conferencia Rio + 20, vale a cantilena de
que o país possui uma das maiores áreas de florestas do mundo; mas, para efeito
de aprovação do novo Código Florestal, vale a máxima de que a importância
econômica do agronegócio justifica a ampliação da área plantada nas margens dos
rios e igarapés.
E a
Amazônia não vai bem, e pode ficar pior, muito obrigado.
É
possível que ninguém tenha se dado conta disso, mas se as discussões em torno
das alterações no projeto do novo Código Florestal tivessem sido concluídas até
2010, a habitual incongruência tupiniquim passaria despercebida.
A despeito
de o país ter se sobressaído durante a Rio 92, a segunda Conferência da
Organização das Nações sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (a primeira
aconteceu em Estocolmo, em 1972), na condição de referência no quesito
preocupação ambiental, de lá (1992) prá cá (2012), a distancia entre o discurso
internacional e as ações internas tem assumido proporções, que, para dizer
pouco, beiram o disparate.
Enquanto
se assume, perante as outras nações, que se investe no controle do desmatamento,
a fim de garantir a manutenção das florestas (sobretudo na Amazônia), discute-se
um Código Florestal de orientação francamente desfavorável à conservação de
áreas florestais.
Sem
entrar no mérito do conteúdo do veto presidencial (ao projeto aprovado pela
Câmara) e da Medida Provisória (pela qual o governo tenta retomar o projeto
aprovado no Senado), o fato é que essa balbúrdia legislativa, essa bagunça de
procedimentos só evidencia ainda mais o que já se sabia: que a preocupação com
o destino da Amazônia e das nossas florestas é bem menor do que a preocupação
com o agronegócio.
E as
previsões são, no mínimo, inquietantes. Pois que, no frigir dos ovos, os
ruralistas vão conseguindo tudo o que pretendiam - anistia, impunidade, e mais:
a prerrogativa de invasão da mata ciliar, comprometendo a água que abastece a
área urbana, e a anexação de uma expressiva quantidade de hectares, antes
cobertos pelas florestas existentes nas áreas de reserva legal.
A
verdade é que, enquanto o Governo se fez de refém para aprovar a venda de álcool
nos estádios - o que (com toda a razão) a poderosa Fifa não quis nem discutir -,
os ruralistas demonstraram a sua força, tanto na esfera da Câmara dos
Deputados, quanto na do Senado. Mas, antes de tudo, o que esse setor demonstrou
mesmo foi uma grande leviandade em relação às graves implicações ambientais
advindas de sua respectiva atividade produtiva.
Não
obstante (já que isso não depende apenas do Brasil), não lograrão convencer o
mercado internacional de que a carne de boi ou os grãos de soja que produzem
não trazem comprometimento para a qualidade e a quantidade de água, não
aumentam a poluição do ar, ou não ampliam o desmatamento. Diferentemente do que
acontece com o Congresso Nacional, esse mercado está atento às questões
ambientais, e seguramente será influenciado pelas discussões e deliberações que
resultarão da Rio + 20.
Resta
saber, portanto, que postura política o país assumirá durante a Rio + 20,
prevista para junho.
Na
Rio + 20 não haverá espaço para a defesa de pontos de vista como o que prevalece
nas discussões sobre as propostas de no novo Código Florestal, contrárias à
tendência internacional que aponta para a consolidação de uma economia de baixo
carbono.
Tendência
essa que, diante da iminente crise ecológica, vem se fortalecendo cada vez
mais.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
Como é possível termos uma opinião tão diferente sobre o mesmo assunto (Floresta)? Quando estamos definindo nossas leis não nos preocupamos com a floresta, mais quando sediamos eventos internacionais, nosso discurso e embasado na proteção da floresta, das águas e da sustentabilidade. Afinal, o que queremos?
ResponderExcluir