domingo, 10 de abril de 2011

Mata Ciliar não deve ser improdutiva
                                                                        
                                                                       Antonio Talysson Santos Oliveira *

Açaí, uma das várias alternativas econômicas da mata ciliar.
 Na segunda metade do século XIX, ocorreu uma enorme demanda por borracha natural (o látex) extraído de uma árvore típica da Amazônia, a seringueira (Hevea brasiliensis). Impulsionado pela demanda internacional da indústria automobilística, que se encontrava em ascensão, essa procura pelo produto foi o estopim para a migração em massa de nordestinos fugidos da seca para terras amazônicas com a ilusão de ficar rico facilmente.

Naquela época a única via de transporte na região eram os rios, o que tornou o transporte fluvial protagonista principal no processo de extração do látex. Seringais e colocações eram sempre situados às margens dos rios para facilitar o transporte da mercadoria.

Com o Rio Acre não foi diferente, tendo em vista que este percorre uma região que já foi rica em seringueiras. Pode-se classificar assim como primeira exploração econômica da mata ciliar do Rio Acre.

Enquanto a economia da borracha estava em alta a mata ciliar não sofreu alterações drásticas em sua fisionomia, porém, com o passar do tempo a proliferação dos cultivos, em nível internacional e mais recentemente em São Paulo, causou o colapso dos seringais nativos da Amazônia. A malásia começou a produzir borracha em grande escala em seus plantios de seringueira, a concorrência foi desleal, a diferença enorme no custo de produção praticado nos cultivos com mais de 1000 árvores por hectare enquanto que na Amazônia ocorrem no máximo 6, foi determinante para falência da produção amazônica de borracha.

Restaram apenas milhares de nordestinos, que sem alternativa partiram para a atividade que praticavam sem sucesso no nordeste, a agropecuária. E aí começam os problemas. Afinal foram nas margens dos rios que encontraram as condições perfeitas para plantio de grãos, terras férteis, água em abundância e clima favorável.

Com o avanço da agropecuária, primeiro de subsistência e depois comercial, sobre a mata ciliar, ocorreram os primeiros impactos sobre o rio e a vegetação que o protege. Iniciaram assim os desmatamentos e a tendência a partir desse momento foi cada vez mais aumentar a fragmentação nas matas ciliares.

Com o passar do tempo, mudaram-se as atividade econômicas nessas áreas, porém, nenhuma delas privilegiava a manutenção da cobertura vegetal da mata ciliar. As conseqüências foram imediatas, o Rio Acre que no apogeu da borracha permitiu trafegabilidade a grandes embarcações, já não permitia mais, a alta taxa de erosão de suas margens provocou seu rápido assoreamento, a conseqüência dessa mudança foi de caráter físico, o rio então perdeu profundidade e alargou-se.

         Toda essa mudança no padrão do rio causou sérias mudanças na qualidade da água. A ictiofauna quase desapareceu e a atividade pesqueira foi praticamente extinta no rio Acre, assim foi dizimada uma atividade econômica que se feito seu manejo adequado tornar-se-ia altamente sustentável.

Hoje depois de todas essas alterações na mata ciliar, o grande desafio do Projeto Ciliar Só-Rio Acre é fazer com que além dos benefícios ambientais proporcionados pela restauração florestal da mata ciliar, exista também uma saída econômica para o ribeirinho que depende da vegetação para sua sobrevivência.



*Antonio Talysson Santos Oliveira
                        Graduando em Eng. Florestal

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Livro Ciliar Só Rio Acre

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