Desmatamento
na Amazônia em 2018 constrange país na COP 24
* Ecio Rodrigues
Durante a 21ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou Cop 21, realizada
em 2015, os brasileiros se comprometeram perante o mundo a zerar o desmatamento
ilegal na Amazônia até 2030.
Mais de 195 países – praticamente a totalidade das
nações existentes no globo – assumiram um rol de obrigações, sempre levando em
conta o prazo-limite de 2030, com o propósito de reduzir a quantidade de carbono
anualmente lançada na atmosfera e impedir que a temperatura da Terra aumente
mais do que 2º Celsius.
Esses compromissos resultaram no “Acordo de Paris”,
reputado pela ONU como o mais amplo e representativo pacto global voltado para
mitigar os efeitos das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento do
planeta.
Considerado, novamente pela ONU, um ator
proeminente nos temas relacionados ao meio ambiente, o Brasil se empenhou para levar
os países do bloco da América do Sul e da África a se comprometerem com o
Acordo, tendo alcançado papel de liderança durante todo o processo de negociação.
Por sinal, o prestígio dos brasileiros no cenário
das mudanças climáticas já vem de algum tempo. Vantagens comparativas do país,
em especial a disponibilidade de terra para o agronegócio e a quantidade de
água doce, reforçam a tese da liderança nacional.
Não à toa, o Brasil foi escolhido para sediar a Convenção
da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio em 1992 – a
cúpula que originou a Convenção do Clima (ou COP) e, por conseguinte, todo o processo
de negociação que remonta ao Protocolo de Kyoto e que culminou na assinatura do
Acordo de Paris em 2015.
Agora, em 2018, novamente os representantes dos países
se reuniram na COP 24, que
aconteceu em Katowice, na Polônia, entre os dias 03 a 14 de dezembro.
O risco de ocorrência, em todo o mundo, de
tragédias como tsunamis, secas e alagações é fato – foi comprovado por mais de
3.000 cientistas ainda no final dos anos 2000. À vista disso, é inegável que as
COPs, realizadas anualmente desde 1992, se revestem de profundo significado
para a humanidade.
A COP 24 não foi diferente. Inclusive, a publicação
do documento Emissions Gap Report, por parte do Pnuma (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente), a duas semanas do encontro, elevou
significativamente as tensões que naturalmente acompanham essas conferências.
Segundo o Pnuma, diante do pico de emissões de
carbono atingido em 2017, quando a humanidade jogou 53,5 gigatoneladas do gás na
atmosfera, os países precisam, obrigatoriamente, reavaliar seus compromissos,
de forma a ampliar a meta de redução de temperatura.
Nesse contexto de pico de emissões, impossível deixar
de computar a contribuição do desmatamento na Amazônia, que cresceu 14% entre
agosto de 2017 e julho de 2018, período abarcado pelas estatísticas
assustadoras presentes no relatório do Pnuma.
Contudo, para os países presentes na COP 24, muito embora
a taxa de desmatamento anual da Amazônia em 2018 tenha sido preocupante, ela pode
ser explicada pela reversão da drástica crise econômica de 2014. Mais
preocupante é a postura do governo que vai assumir o comando do Brasil a partir
de 2019, e que parece desconhecer a urgência do Acordo de Paris.
É inconcebível, para os negociadores da ONU, que o
Brasil se distraia com a discussão sobre abandonar ou não o pacto mundial, num
momento de acirramento da temperatura planetária.
Além de servir como estímulo indireto para desmatar
a Amazônia, a dúvida quanto ao Acordo de Paris compromete a liderança global do
Brasil no tema do meio ambiente.
Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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