Taxar desmatamento
aumentaria o valor da floresta na Amazônia
* Ecio Rodrigues
Existem
duas fórmulas, reconhecidas pelos economistas, para alterar a realidade da
ocupação produtiva na Amazônia, em direção aos ideais de sustentabilidade
preconizados mundo afora: ou os governos locais incentivam o uso comercial da
biodiversidade ou taxam o desmatamento destinado à criação de boi.
Evidentemente
que, sob a perspectiva eleitoral, a primeira fórmula é mais aceitável que a
taxação dos pecuaristas, como prevê a segunda.
A
boa notícia é que o Inpa e a Embrapa, para ficar nas instituições de pesquisa
mais importantes, dominam há mais de 30 anos a tecnologia da exploração
sustentável da biodiversidade florestal amazônica.
O
incentivo à atividade florestal, por meio da isenção de impostos e oferta de
crédito subsidiado, possibilitaria que os produtos oriundos da inesgotável
diversidade biológica da Amazônia conquistassem mercados em todo o planeta.
Por
outro lado, a taxação do desmatamento afetaria substancialmente a viabilidade
econômica da criação de boi, reduzindo de maneira rápida e barata a destruição
da floresta na Amazônia.
Enfim,
por meio de um desses instrumentos, ou de ambos, seria possível ampliar, com
segurança e presteza, o valor econômico da produção florestal amazônica. Mas o
que significa isso, exatamente?
Grosso
modo, para ampliar o valor da floresta e, consequentemente, materializar esse
valor nos preços dos produtos oriundos da biodiversidade, é necessário que cada
governo, no papel de seletor das atividades produtivas prioritárias, fomente os
seguintes requisitos econômicos, no âmbito do setor florestal: competitividade,
atratividade e simplicidade.
Fomentar
a competitividade da exploração florestal significa estabelecer mecanismos que
fortaleçam o reconhecido potencial comercial dessa atividade. O que inclui
desde a criação de áreas destinadas exclusivamente ao uso florestal (p. ex.,
unidades de conservação como Florestas Estaduais) até a destinação de crédito
facilitado e acessível aos produtores florestais.
Indo
além, a competitividade da biodiversidade amazônica depende da existência de
instituições de apoio a esse segmento (nos moldes da extinta Secretaria de
Florestas no Acre), de forma a gerar ambiente propício ao desenvolvimento de
arranjos produtivos florestais.
Por
seu turno, o fomento à atratividade requer ações que tornem a produção
florestal mais interessante ao investidor privado – sob o ponto de vista
normativo e administrativo –, do que sua concorrente direta, a pecuária.
Como?
Primeiro, flexibilizando as regras em vigor para o manejo florestal. Depois, invertendo
o grau de dificuldade hoje imposto ao licenciamento ambiental das duas
atividades, até chegar ao ponto ideal em que o licenciamento do desmatamento exija
mais de 100 páginas de formulários, enquanto o licenciamento do manejo
florestal requeira apenas uma.
Finalmente,
por fomentar a simplicidade entenda-se massificar as técnicas de manejo
florestal, levando-as às comunidades que vivem no interior da floresta.
Claro
que se trata de uma mudança de paradigma que requer coragem para enfrentar o impacto
ambiental eventualmente resultante da exploração da biodiversidade – compreendendo-se
que esse impacto será sempre infinitamente inferior à substituição da floresta
por capim.
Resumindo,
há saída econômica para zerar a destruição anual da floresta na Amazônia. Essa
saída, porém, embute risco eleitoral.
Conclusão:
os políticos nunca toparam.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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