Desmatamento na
Amazônia não é pauta política
* Ecio Rodrigues
Desde
a década de 1980 que o debate acerca dos destinos da maior floresta tropical do
planeta se intensificou em toda a Amazônia.
Se, por
um lado, os produtores rurais – em especial os criadores de gado, que chegaram
à região motivados pelas facilidades para obtenção de terras e crédito – passaram
a exigir novas áreas para ampliar seus plantios, por outro lado, as consequências
da substituição da floresta por capim começaram a assombrar o mundo.
Como
as medições do Inpe tiveram início apenas em 1988 (revelando a dimensão da
destruição florestal na Amazônia), até então a especulação sobre o tamanho do desmatamento
e os riscos para a fauna e a flora vinha carregada de histeria e, mais que tudo,
medo.
Em
1995, quando foi atingido o recorde anual de 29 mil km2 de florestas
destruídas, pesquisadores alertaram quanto ao risco de ocorrência de chuva
ácida na Europa e de alagações na Ásia.
O
pânico com o fim da floresta amazônica se alastrou, tomou conta do mundo.
Advertências
caíram sobre o Brasil, na tentativa de forçar uma atitude enérgica do governo. Os
países ricos ameaçaram boicotar a compra dos produtos do agronegócio nacional,
sobretudo a soja, e também retrair seus investimentos na carente indústria
nacional.
Essa
reação mundial foi, por suposto, decisiva para a proteção da floresta na
Amazônia: as taxas anuais de desmatamento baixaram a níveis considerados
aceitáveis para aquele momento, ou seja, a década de 1990.
Um
novo e preocupante ciclo de destruição deu origem ao segundo recorde em 2004, quando
foram devastadas mais de 27 mil km2 de terras cobertas por florestas.
De novo, a reação mundial foi categórica. A pressão de países compradores da soja
e da carne brasileiras levou, mais uma vez, à diminuição das taxas anuais de
desmatamento.
Sem
embargo, só depois de 2009 que o nível de desmatamento anual possibilitou maior
racionalidade nas discussões. Ao conseguir reduzir a um dígito a quantidade de
florestas destruídas por ano, o Brasil se comprometeu, perante o mundo, a acabar
com o desmatamento ilegal, isto é, o desmatamento não autorizado pelo Código
Florestal.
Com
efeito, em 2015, durante as negociações do Acordo de Paris, que foi subscrito pelos
192 países associados às Nações Unidas, o Brasil pactuou a meta de, até 2030,
banir o desmatamento ilegal na Amazônia.
Todos
aplaudiram a iniciativa e o empenho dos brasileiros no propósito de zerar o
desmatamento ilegal. Contudo, o compromisso fez levantar duas questões óbvias. Primeiro,
em relação à própria existência do desmatamento legalizado; segundo, sobre a participação
desse desmatamento na destruição anual das florestas na Amazônia.
Fácil
entender “a pulga atrás da orelha”, como diziam nossas avós. Se o desmatamento ilegal
pode ser coibido de forma convencional – por meio de fiscalização, por exemplo
–, no caso do desmatamento legalizado esse tipo de medida não tem serventia.
A
tarefa de zerar o desmatamento legalizado é bem mais complexa, por exigir ações
de política pública que tornem mais lucrativo para o produtor o investimento na
produção florestal, em detrimento da criação de gado.
Resumindo,
além de exigir maior esforço intelectual, o fim do desmatamento legalizado expõe
as contradições da atividade predominante na Amazônia: a pecuária.
Mas
só a cobrança do eleitor pode trazer o tema para a pauta política.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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