ICMBio
acorda, segue São Paulo e privatiza gestão em parques nacionais
* Ecio Rodrigues
Acostumado a repetir a ladainha da falta dinheiro, de
servidores e de viaturas, o ICMBio, órgão federal criado em 2007 com atribuição
para gerir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Snuc, parece que
finalmente encontrou uma solução para a sua contumaz inoperância: privatizar o
gerenciamento dos serviços nos parques nacionais.
Decerto inspirado pela experiência da administração
municipal de São Paulo, que lançou edital anunciando a privatização (ou concessão,
ou terceirização, como preferem alguns) de um conjunto de parques municipais,
incluindo o Ibirapuera, o ICMBio decidiu privatizar serviços prestados em 7 parques
nacionais.
Longe de indicar apelo ideológico em defesa do
mercado – e longe de denotar alguma bobagem do tipo “entrega do patrimônio
nacional ao capital privado”, como gostam de repetir setores da esquerda
populista –, na verdade, a decisão se funda em constatações óbvias e irrefutáveis.
Em primeiro lugar, existe demanda exponencial por
visitação em parques nacionais, suscitada primordialmente por um público que
aceita pagar pelo direito de acessar, apreciar e passar algum tempo junto a exemplares
do ecossistema brasileiro.
Por outro lado, e independentemente da faixa de
renda, esse público não quer e não deve se submeter a grandes transtornos e
dificuldades para chegar ao parque ou para permanecer e se locomover dentro
dele.
Dessa forma, serviços como transporte para
deslocamento entre as atrações no interior do parque, alimentação, hospedagem, e
ainda passeios de aventura devem ser os primeiros a ser concedidos a particulares.
A enumeração desses serviços remete à terceira e definitiva
constatação que justifica a privatização. Ocorre que o turista que visita o
parque espera ser atendido sob um mínimo padrão de eficiência.
Todavia, tanto em termos de regularidade – isto é,
oferta ininterrupta, ao longo dos meses e anos – quanto em termos de qualidade,
os serviços prestados nos parques nacionais se mostraram tarefa impossível para
o deficitário gerenciamento estatal.
E não apenas durante os mais de 10 anos de existência
do ICMBio – na verdade, desde sempre, quando
as unidades de conservação ainda estavam sob a tutela do Ibama ou da Sema, nunca
houve constância ou competência na disponibilização desses serviços.
As estatísticas demonstram que mais de 10 milhões
de visitantes frequentam os parques nacionais, e que esse número poderá ser
ampliado no curto prazo, mediante o impulso deflagrado pelos novos
concessionários.
Além de garantir a conservação do ecossistema, a
concessão à iniciativa privada dos parques Pau-brasil (localizado na Bahia), Chapada
dos Veadeiros (Goiás), Lençóis Maranhenses (Maranhão), Itatiaia (Rio de Janeiro),
Caparaó (Minas Gerais), Jericoacoara (Ceará) e Serra da Bodoquena (Mato Grosso
do Sul) vai evidenciar o valor econômico desse patrimônio natural para as
cidades.
Diversos estudos dão conta do potencial dos parques
para gerar emprego e renda. Estimativa do ICMBio sugere que, durante a
concessão, as empresas farão investimentos superiores a 80 milhões de reais, o
que aumentará em quase 200 milhões a arrecadação de estados e municípios.
A despeito de ainda haver um pequeno grupo de ambientalistas
que hostiliza o governo atual, enquanto sonha com a volta do anterior, uma
coisa é certa: a política nacional de meio ambiente obteve ganhos expressivos
nos últimos 2 anos.
Pode estar aí, na privatização dos parques, a
comprovação definitiva da eficácia da gestão privada na área ambiental. É esperar
para ver.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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