A guerra
de canudos do Rio
* Ecio Rodrigues
Em 2003, a cidade do Rio de Janeiro impôs (a
estabelecimentos como lanchonetes e restaurantes) a obrigatoriedade do emprego de
canudos de plástico.
Em 2018, os canudos de plástico estão a ponto de
ser proibidos. Trata-se de um projeto de lei proposto por um vereador e já aprovado
na Câmara, à espera apenas da sanção do prefeito.
Há 15 anos, a justificativa para compelir o uso do
canudo foi de ordem sanitária: a intenção era proteger a saúde pública, evitando
o contato da boca do cliente com copos e garrafas.
Agora, o argumento dos vereadores cariocas para
banir do mercado o canudo de plástico, substituindo-o pelo de papelão, decerto
é mais inteligente; ademais, está em consonância com os ideais de sustentabilidade
preconizados no mundo – respaldando-se, inclusive, no adjetivo biodegradável, um termo muito caro aos
ambientalistas.
Diz-se que um produto é biodegradável quando ele
desparece da natureza num curto espaço de tempo. É o caso dos produtos confeccionados
à base de papel. Diversamente, o plástico pode permanecer por 5 mil anos no
ecossistema.
Pior, o destino final dos produtos de plástico acaba
sendo os oceanos, onde vão parar no estômago de animais marinhos, ou na famigerada
ilha de lixo do Pacífico, uma mancha de detritos com mais de 1 milhão de km² e que
continua crescendo. É tão grave a situação, que existe um movimento para transformar
a ilha num país-membro da ONU, como forma de atribuir responsabilidades e
buscar soluções.
Quanto ao papel, além de ser uma matéria-prima biodegradável,
também é renovável. Quer dizer, não precisa de reciclagem, como se tenta fazer
há muito tempo (e pouco sucesso) com artigos manufaturados com resíduos de
petróleo, como PVC e plástico.
Talvez resida aí o ponto mais importante da
louvável iniciativa dos vereadores – que, como dito, ainda depende de sanção.
Poucos conseguem entender a diferença entre as
matérias-primas renováveis e não renováveis, mas esse detalhe faz toda a
diferença na composição final do lixo produzido pela humanidade, e no impacto
ambiental dele decorrente.
Cabe destacar aqui que, no campo do cultivo de
árvores, em especial dos gêneros eucalipto e pinus, a Engenharia Florestal
brasileira é internacionalmente reconhecida, tendo logrado obter elevada produtividade
por hectare plantado e alta qualidade na madeira produzida.
Dadas as condições de solo e clima presentes em território
nacional, com superioridade comprovada das regiões Sudeste e Sul (nessa ordem
para os dois gêneros acima), atualmente é possível colher uma árvore adulta de
eucalipto com menos de 6 anos de idade, para fins de industrialização da celulose
e fabrico de papel de excelente qualidade.
Há quem questione a sustentabilidade da celulose – que,
para ser produzida, depende da derrubada de árvores. Um questionamento comum,
contudo, extremamente equivocado.
Compreender essa – digamos – equação da
sustentabilidade é a chave para definir a conveniência ou não do consumo de
quase tudo o que hoje se produz.
Acontece que o papel é uma matéria-prima renovável,
uma vez que a árvore de eucalipto colhida para a sua produção é substituída por
outra muda de eucalipto, a ser extraída em até 6 anos, quando uma nova muda de
eucalipto é plantada, e o ciclo se fecha, num sustentável processo de
renovação.
Não apenas os canudos devem ser de papelão/celulose,
a lista dos vereadores cariocas poderia ser ampliada com pratos, talheres, copos,
sachês de mostarda e ketchup, invólucros de balas e bombons, pazinhas de
sorvete... E assim por diante.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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