Uma verdade amazônica bem inconveniente
* Ecio Rodrigues
Existe um preconceito
arraigado nos pesquisadores que atuam na Amazônia, no que diz respeito à
exploração do ecossistema florestal. Embora se reconheça que a saída para a
economia regional esteja no aproveitamento da biodiversidade, nega-se a
produção de madeira, por exemplo.
Mas não é só a madeira
que sofre rejeição. Nega-se também o potencial econômico das sementes, dos
animais silvestres, da produção de água, e assim por diante.
Muitos chegam, inclusive,
ao descalabro de justificar o desmatamento para criação de boi numa determinada
área, desde que, em compensação, uma área equivalente de floresta seja mantida
intocável, sem nenhum tipo de uso.
Essa, por sinal, foi a
diretriz empregada durante a era do ZEE (zoneamento ecológico-econômico), que perdurou
na Amazônia nos idos da década de 1990. Ainda bem que os documentos resultantes
do ZEE foram esquecidos nas prateleiras.
Voltando ao tema. A
rigor, poucos se aventuram a discutir o uso econômico da diversidade biológica
amazônica. Insiste-se na falsa ideia de vazio demográfico, que era comum na
década de 1970 e que se mantém mais atual do que se pensa, a despeito de ser um
erro colossal.
Importante repetir, até a
exaustão: um contingente elevado de produtores teima em se manter na floresta,
demandando por inovações na tecnologia de manejo florestal, de modo a ampliar a
diversidade dos produtos explorados.
Por meio das hoje
corriqueiras imagens de satélite, ferramenta antes indisponível, é possível constatar
que, em sua maior parte, a floresta na Amazônia se encontra habitada por produtores
extrativistas, a maioria considerada como posseiros.
Elevar os extrativistas à
categoria profissional de manejador florestal significa retirá-los do
isolamento econômico, condição bem mais grave que o antigo e superado
isolamento logístico – que perdurou na realidade dos seringais amazônicos até a
década de 1980.
Ainda que poucos produtos
florestais oriundos da Amazônia tenham alcançado êxito de mercado, como é o caso
da madeira e da borracha (no início do século XX), todos hão de concordar que a
lista de produtos florestais com valor de mercado é bastante extensa, quase
inesgotável.
Para que essa lista se converta
em empresas, empregos e renda – ou seja, em atividades produtivas –, é fundamental
a estruturação de aglomerados econômicos, que por sua vez devem ser organizados
num cluster florestal.
Para concluir, a verdade
inconveniente, que boa parte dos pesquisadores prefere não enxergar, poderia
ser resumida assim:
Somente por meio da estruturação de arranjos produtivos que aproveitem a
potencialidade da biodiversidade será possível gerar emprego e renda na
Amazônia de maneira adequada aos ideais de sustentabilidade preconizados pelo mundo.
A organização de um cluster
florestal, com empresas que explorem produtos de reconhecido valor de mercado,
como madeira e sementes de mogno, pode ser o caminho mais curto para tirar a
Amazônia da letargia econômica que é recorrente na região.
Por mais inconveniente
que possa parecer, é uma verdade científica. Simples assim!
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
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