Biomassa florestal
e a cara energia elétrica do Acre
* Ecio Rodrigues
No
Acre faz calor, mas não há luz suficiente durante todo o ano para produzir
energia solar. Às vezes venta tanto que parece até tornado, mas não com a
constância requerida para movimentar cata-ventos e gerar energia eólica.
Existe
uma imensidão de rios e igarapés, distribuídos em diversas bacias hidrográficas
pelo território estadual, mas nenhum apresenta diferença de cota suficiente a permitir
a construção de usinas hidrelétricas.
Sem
luz do sol, sem vento e sem quedas d’água, o Acre não pode empregar as
principais forças da natureza na geração de energia elétrica limpa – ou sustentável,
como preferem os ambientalistas.
Contudo,
há que se incluir nessa lista de fontes renováveis de energia elétrica a
biomassa que se origina da produção rural. Trata-se das sobras do
beneficiamento de produtos como milho, arroz, cana-de-açúcar – e também da madeira.
No
caso específico do Acre, onde não existe produção agrícola significativa, a
madeira extrapola todas as estatísticas relativas à produção de biomassa.
Seja
durante o manejo da floresta, quando as árvores derrubadas precisam ser
desgalhadas; seja durante o beneficiamento primário em serraria para
transformar a tora cilíndrica em peças esquadrejadas; seja ainda no
aproveitamento do pó e da maravalha que resultam da serragem, no Acre, a
madeira nativa é a única fonte renovável para geração de energia elétrica.
Cabe
destacar, de outra banda, que no Acre se paga a conta de luz mais cara do país.
Não à toa, a oferta de energia elétrica é apontada como empecilho insuperável à
instalação de indústrias e ampliação da tímida dinâmica econômica estadual.
Além
de ser um pesado item de custo para as empresas, a oferta de energia elétrica
se caracteriza por grande instabilidade, submetendo os empreendimentos a um
risco difícil de mensurar, todavia, suficiente para desanimar investidores.
Num contexto de
monopólio estatal – que vigora há mais de 50 anos e abrange a geração e a distribuição
de energia elétrica –, seria difícil vislumbrar uma luz (com o perdão do
trocadilho) no fim do túnel.
A redução do preço da
energia depende da introdução de uma nova fonte e, por meio dela, de uma cadeia
produtiva diferenciada.
A solução está na
biomassa florestal. Estudos comprovam a viabilidade técnica e econômica de
usinas de geração de energia elétrica em caldeiras, onde a água pode ser
fervida com o calor que sai da madeira.
Em aglomerados
urbanos de pequeno porte, como os municípios de Santa Rosa do Purus, Jordão, Manuel
Urbano e Assis Brasil, a biomassa oriunda da exploração das árvores pelo setor madeireiro
poderá atender, com facilidade, à demanda das residências e empresas ali
situadas.
Melhor ainda, os
restos de madeira que atualmente são queimados a céu aberto como lixo, ao serem
empregados na geração elétrica, podem reduzir o preço da energia e possibilitar
expressiva oferta de empregos.
Ou seja, por um
lado, a biomassa florestal atende a princípios de sustentabilidade, eis que a floresta
manejada se regenera depois de certo tempo; por outro, atende a princípios de
viabilidade econômica.
Organizar a cadeia
produtiva para a geração de energia com a queima de madeira é um caminho curto
para potencializar a vocação florestal do Acre. Simples assim!
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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