O estágio atual
da indústria da madeira no Acre
* Ecio Rodrigues
Não foi fácil, para a indústria madeireira do Acre, superar o estágio
caracterizado pelas chamadas serrarias de ramal. É provável que um importante divisor
de águas tenha sido o pacto firmado em 2001, entre o governo e os empresários
do setor, visando-se à promoção do manejo florestal.
Passados mais de 15 anos, os resultados podem ser facilmente
constatados. A ilegalidade no transporte de toras chegou a menos de 5% da
produção. Ou seja, pouquíssima madeira ainda é produzida e transportada de
forma ilegal. Tudo leva a crer que esses 5% de ilegalidade se devem à demanda das
movelarias e carpintarias de fundo de quintal.
A madeira manejada, por sua vez, bem mais valiosa
que aquela meramente legalizada, pode representar 85% de toda a produção madeireira
anual do estado. E um percentual pequeno, que não deve chegar a 10%, se refere
a um produto ainda mais valioso, a madeira certificada com o selo do FSC (Conselho
Internacional de Manejo Florestal).
A escala de produção de hoje também é bem diferente.
Se, antes, mais de 60 serrarias de ramal patinavam numa produção anual que
rondava os 200 mil m3 de toras (em 1999, foram produzidos 200.553 m3),
atualmente, superou-se a casa do milhão de metros cúbicos – em 2011, foram
produzidos 1.064.195 m3 de madeira em tora, por menos de 10
indústrias ativas.
Contudo, ainda que o avanço seja perceptível na
quantidade de empregos gerados, na qualidade da madeira produzida e, sobretudo,
na contribuição do setor para a arrecadação estadual, não se logrou superar os entraves
relacionados à estruturação de áreas florestais específicas para a produção de
madeira.
Mediante o instituto da concessão florestal, estabelecido
pela Lei de Gestão de Florestas Públicas, aprovada em 2006, o poder público pode
outorgar à iniciativa privada a exploração de madeira em áreas públicas de
florestas por um período de 40 anos. A concessão florestal é a garantia
jurídica que a indústria da madeira necessita para realizar seus
investimentos.
Todavia, e mesmo com a publicação do Plano Anual de
Outorga Florestal, tanto pelo Serviço Florestal Brasileiro (no caso das
florestas federais) como pela Secretaria de Desenvolvimento, Sedens (no caso das
florestas estaduais), nenhuma área de floresta foi colocada sob concessão no
Acre.
Falta também a estruturação de um processo
institucionalizado de formação de trabalhadores para a indústria da madeira,
que forneça maior dimensão às iniciativas desenvolvidas pela Funtac e pelo Cetemm
(vinculado ao Senai).
Com relação à qualificação de trabalhadores para
atuação no interior da floresta, a lacuna é mais expressiva. Enquanto a Ufac, por
meio do curso de Engenharia Florestal, criado em 2000, contribuiu significativamente,
despejando no mercado (até 2017) um contingente de 320 profissionais com
qualificação superior, a formação de técnicos de nível médio se restringe a iniciativas
isoladas de alguns órgãos estatais e entidades da sociedade civil.
A interessante proposta de criação de uma escola de mateiros,
que chegou a ser discutida em 2001, por ocasião da preparação da atual política
florestal, parece ter sido abandonada.
Sem embargo, esse tipo de qualificação é
fundamental, a fim de suprir a demanda por um especialista que, embora altamente
procurado, tem oferta cada vez mais reduzida: o taxonomista de campo, ou
mateiro.
Finalmente, a indústria da madeira deve ser
organizada num aglomerado que, em conjunto com outras empresas, venha a formar um
cluster florestal no Acre.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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