Na COP 23, ONU
alerta: aquecimento do planeta é catastrófico
* Ecio Rodrigues
Quando
um total 195 países, ou seja, o mundo inteiro, assinou o Acordo de Paris,
durante a Conferência do Clima em 2015 (COP 21), ficou convencionado que o ano
de 2030 seria referência para a realização de novos cálculos e a assinatura de novo
pacto em torno da mitigação do aquecimento do planeta.
Agora,
por ocasião da realização da COP 23, vigésima terceira conferência sobre o
clima (desde a Rio 92), cujas discussões presenciais acontecem em Bonn, na
Alemanha, entre os dias 06 e 17 deste mês, o relatório de monitoramento do
clima, publicado pela ONU, faz um dramática advertência: a temperatura da Terra
vai atingir níveis catastróficos antes de 2030.
Para
explicar melhor as implicações dessa constatação. Uma das inovações introduzidas
no complexo processo de negociação que levou ao Acordo de Paris (e que, por
sinal, possibilitou o êxito desse pacto) foi a chamada “Pretendida Contribuição
Nacionalmente Determinada”, ou INDC, na sigla em inglês.
Por
meio da INDC, cada país se comprometeu a executar um conjunto de medidas, destinadas
a evitar a ampliação do aquecimento global, tendo por referência o ano de 2030.
Assim,
quando a soma de todas as INDCs se mostrasse suficiente para atingir a meta de
redução da temperatura mundial, o pacto poderia ser selado, evitando discussões
intermináveis quanto à responsabilidade de cada país em relação ao carbono que
já se encontra na atmosfera.
No
caso brasileiro, de maneira acertada, a INDC deu ênfase à geração de energia
por meio da força das águas, bem como ao combate ao desmatamento na maior
floresta tropical do mundo, a Amazônia.
O
Brasil prometeu construir mais hidrelétricas de grande porte – que, somadas às 130
usinas que já se encontram em operação, vão elevar para mais de 80% a participação
da hidroeletricidade na matriz elétrica nacional.
De
outra banda, os brasileiros também se comprometeram a zerar o desmatamento na
Amazônia (ainda que apenas o ilegal) e a conduzir o reflorestamento de mais de
30 milhões de hectares de florestas especiais – como as presentes na mata
ciliar dos rios.
Enfim,
a estratégia da INDC deu resultado, e o Acordo de Paris se tornou um grande
sucesso da diplomacia internacional, representando um passo significativo em direção
à sustentabilidade do planeta. Até aí, tudo
bem.
Ocorre
que, embora a imensa maioria dos países esteja honrando os compromissos
assumidos, a Organização Meteorológica Mundial alertou que a concentração de
carbono na atmosfera bateu recorde em 2017.
Significa
dizer que a INDC ajustada por cada país não será suficiente para chegar à meta
de redução da temperatura até 2030. Adicione-se ainda a disposição dos Estados
Unidos de abandonar o Acordo de Paris e promover a ampliação da geração de
energia elétrica mediante a queima de carvão mineral.
O
alerta da ONU tem endereço certo. Os países devem antecipar o cumprimento de suas
INDCs, não sendo mais possível esperar até 2030; os americanos, por seu turno, devem
permanecer no Acordo de Paris e esquecer de vez o carvão.
No
que diz respeito ao Brasil, o recado pode ser considerado igualmente explícito:
a tolerância zero para com o desmatamento na Amazônia, tanto o ilegal quanto o
legalizado, deve ser assumida até 2020.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário