Acre bate novo
recorde de queimadas, superando 2016
* Ecio Rodrigues
Os ambientalistas
que não gostam do governo atual porque eram amigos do anterior andam dizendo
que o Brasil vai ser duramente questionado na COP 23, conferência da ONU sobre
mudanças climáticas realizada na Alemanha, em função da pequena redução observada
no desmatamento da Amazônia em 2017.
Veja bem, a insatisfação dos ativistas
ambientais não decorre de majoração nos índices de desmatamento – como aconteceu
em 2016, por exemplo –, mas do fato de que consideram muito pequeno o decréscimo
(em torno de 19%) evidenciado na taxa medida em 2017 e anunciada no início
deste mês.
Ao
que parece, as cobranças feitas aos gestores ambientais são bem maiores agora do
que eram antes.
Mas, por falar em cobrança, o que têm a dizer
os ambientalistas a respeito dos dois recordes consecutivos de queimadas estabelecidos
no Acre em 2016 e 2017?
Para entender. Excetuando-se 2005 (por
conta do trágico incêndio que destruiu mais de 200.000 hectares de florestas), desde
1988, quando se iniciaram as medições, não se queimava tanto no território
estadual como nos últimos dois anos.
Importante destacar que o recorde de 2017
foi registrado no início de novembro, ou seja, faltando ainda quase 60 dias
para o término do ano.
Aos que preferem conferir os números:
em todo o ano de 2016 aconteceram 6.987 queimadas no Acre (esse total já foi recorde);
até 06 de novembro de 2017, a quantidade de queimadas alcançou a inacreditável cifra
de 7.031 focos, como demonstra o Programa de Monitoramento de Queimadas do
conceituado Inpe.
Por outro lado, em outubro de 2017 foram
detectadas 1.508 pontos de queimadas, o que representa recorde absoluto para esse
mês desde 1988 – nesse caso, mesmo incluindo os incêndios florestais de 2005.
O inédito pico em outubro aponta uma nova
dinâmica no contexto da produção agrícola do Acre. Desnecessário mencionar os
riscos trazidos pela introdução de um ciclo diferenciado para a nefasta prática
da queimada.
Alguns podem alegar, ingênua e defensivamente,
que, na Amazônia, os fenômenos climáticos (cujas causas, aliás, incluem o desmatamento
e as queimadas) tornaram o verão mais longo e o inverno mais curto – ou o
contrário, não importa.
O fato a ser considerado é que o produtor
adota a queimada como opção de investimento; em primeiro lugar, porque é
permitido pela legislação (mesmo que pareça absurdo); e, em segundo, porque
essa prática goza da tolerância dos gestores públicos, sempre preocupados com a
próxima eleição.
Não havendo argumento contrário à
constatação fartamente comprovada de que a motivação do produtor para queimar
tem origem na política do governo direcionada para a ampliação da agropecuária (bem
mais pecuária que agro), e no sentido de favorecer a pequena propriedade rural
no Acre, restaria arguir sobre as razões para se queimar tanto em outubro.
Perguntas inconvenientes não devem ser
feitas em época de eleição. Com a antecipação do calendário eleitoral e uma
ruma de pré-candidatos fazendo campanha à luz do dia, melhor se fazer de morto,
como dizem os produtores.
Sem resolver os entraves do desmatamento e
da queimada, o Acre vai permanecer sem rumo. Como era nas décadas de 1990 e de 2000,
e como continuará em 2020.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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