Fauna
amazônica é bom negócio
* Ecio Rodrigues
Antropólogos,
sociólogos e outros profissionais envolvidos com a realidade socioeconômica presente
no interior da floresta amazônica, sobretudo nos antigos seringais
transformados em Reservas Extrativistas, costumavam afirmar, não sem certa presunção,
que não havia problemas na criação de “algumas vaquinhas” em uma Resex, que
isso não significava aumento do desmatamento.
Erraram
reiteradas vezes e muitos persistem, por teimosia, no erro. Não há dúvida
científica quanto ao fato de que o desmatamento para plantar capim e alimentar
a boiada – na pequena e na grande propriedade – configura a maior ameaça à
conservação da floresta amazônica.
Embora não
constituindo o eixo da discussão travada neste artigo, essa contextualização é
importante por razão outra, já que do mesmo jeito que os antropólogos defendem a
criação de boi pelo extrativista também endossam a caça de subsistência.
O
raciocínio é no sentido de que ambas as atividades são necessárias para aplacar
a fome do pequeno produtor rural, sendo que a vaquinha funcionaria como
poupança, uma reserva de valor, enquanto paca, queixada, cateto (animais silvestres
da fauna amazônica) – esses sim, seriam destinados à panela mesmo.
É
provável que esteja na valorização do gado como riqueza e da fauna amazônica
como despensa, ou estoque de proteína, o lado perverso desse raciocínio, que ajuda
a explicar boa parte da força da pecuária de gado como atividade econômica, diante
da falta de atratividade que caracteriza as atividades baseadas na exploração
da biodiversidade.
Enfim,
para concluir a análise: sob o ponto de vista técnico, há que se convir que deveria
ser bem mais lucrativo para o produtor comer o boi e vender carne de paca. Mas
não é o que acontece.
Por um
lado, a produção de carne de animais silvestres possui algumas vantagens
evidentes, tais como: tecnologia de criação reconhecida e de fácil aplicação; custo
de produção inferior ao valor da carne no mercado; oferta reduzida do produto frente
a uma demanda ascendente.
Por outro
lado, entretanto, essa produção é esmagada por uma normatização obstinadamente rigorosa,
a ponto de se tornar inaplicável (a começar pela Lei de Crimes Ambientais), e
ainda por cima intricada, abstrusa, dando margem a interpretações subjetivas,
tendenciosas e questionáveis – no fim das contas, os analistas ambientais do
Ibama se pretendem mais rígidos que as próprias normas.
Acontece que eles são, publicamente, contrários à
produção de carne de animais silvestres amazônicos, porque creem no absurdo de
que a consolidação do mercado legalizado pode servir de fachada para a ampliação
do mercado ilegal (que, pasme-se!, já é grande e continua crescendo cada vez
mais).
São apoiados,
nessa forma simplória e equivocada de encarar o problema, por um punhado de
ambientalistas adeptos do preservacionismo e que insistem que a solução está na
fiscalização estatal (muito embora essa saída venha sendo tentada nos últimos
30 anos sem nenhum resultado).
Experiências
levadas a cabo na Amazônia demonstram a importância comercial da fauna
silvestre, e a viabilidade ecológica, técnica e econômica dessa produção se
encontra comprovada há pelo menos 20 anos.
Houve um
tempo em que o mercado de carne de animais silvestres amazônicos era
responsável por considerável parcela da dinâmica econômica regional – e nenhuma
espécie foi extinta nesse mercado.
Está na
destruição da floresta a raiz dos males amazônicos, aquele mesmo desmatamento
causado pela vaquinha da poupança defendida por sociólogos e antropólogos...
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