Para TCU, a gestão das unidades
de conservação na Amazônia é um fracasso
* Ecio Rodrigues
Em auditoria realizada em 2013, cujo relatório
final foi aprovado em dezembro último, o Tribunal de Constas da União, TCU, órgão
superior de fiscalização, concluiu que a gestão das unidades de conservação na
Amazônia é precária e que – pasme-se! – a ampla maioria das áreas não se presta
para os fins que justificaram o investimento público na sua criação.
Um resultado chocante, embora poucos considerem
relevante. As conclusões do TCU assustam principalmente por duas razões. Primeiro,
porque decorrem de uma auditoria técnica – uma iniciativa muito louvável, por
sinal –, que visa não a velha e rotineira caça aos corruptos, mas, sim, identificar
fragilidades na administração estatal. A caça, nesse caso, tem como foco a
incompetência na gestão pública.
A segunda razão é que a criação de unidades de
conservação, sobretudo na Amazônia, se configura na mais importante ação
voltada para a manutenção do ecossistema florestal. Por conta disso, aliás, o
Brasil recebe vultosos recursos do apoio internacional; trata-se de dinheiro
dado, ou melhor, doado, destinado à instalação e consolidação dessas áreas.
Existe, inclusive, no âmbito federal, um
projeto chamado Arpa (sigla sofrível para Áreas Protegidas da Amazônia), voltado
justamente para canalizar parte desses recursos oriundos da cooperação
internacional, a fim de aplicá-los nas unidades de conservação.
Ora, se dinheiro não é, e nunca foi, um
problema, onde está o gargalo que impede que as unidades de conservação da
Amazônia suscitem benefícios econômicos, sociais e ecológicos para a sociedade?
A resposta do TCU é clara: o gargalo – insuperável, diga-se – está na gestão, no
gerenciamento, ou, simplesmente, na administração dessas áreas.
O quadro não poderia ser mais desanimador. De
acordo com uma ferramenta de avaliação de gestão, o denominado Índice de
Implementação e de Gestão das Áreas Protegidas (ou Indimapa), das 247 unidades
de conservação presentes na Amazônia, apenas 4% possuem uma gestão eficiente e
estão efetivamente implantadas.
Significa que uma expressiva área de um milhão
e cem mil quilômetros quadrados, equivalente a mais de 20% do território
amazônico, se encontra ociosa ou subutilizada, sem apresentar nenhum tipo de
retorno econômico ou ecológico.
Mas, por deficiências de gestão, como apontado
pelo TCU, entende-se o que, exatamente? É simples. Para os que não estão
habituados com a temática ambiental, esclareça-se que a responsabilidade pela implantação
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Snuc, é do Ministério do Meio
Ambiente, MMA – que, provavelmente, é o órgão do primeiro escalão do governo
federal com os piores indicadores operacionais.
Já a gestão das unidades de conservação instituídas
no âmbito do governo federal compete ao Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade, ICMBio, criado em 2007, e que provavelmente, se inclui entre
os órgãos federais de segundo escalão que apresentam os piores indicadores
operacionais.
Se nenhum dos órgãos superiores aos quais a
unidade se vincula consegue desenvolver e valorizar sistemas de gestão eficientes,
certamente que não será uma reserva extrativista isolada no Acre, por exemplo,
que terá condições de seguir um modelo administrativo eficiente. Os entraves
operacionais, ou deficiências graves de gestão (como afirmado pelo TCU) chegam
às unidades de conservação até por osmose.
Faltam técnicos ao ICMBio, mas esse não é o
problema. O anacronismo começa pelos concursos para ingresso na equipe técnica,
dirigidos a qualquer profissional com nível superior, e termina com a missão do
órgão, que se pauta não por um fim específico e determinado como a gestão e
funcionamento das unidades de conservação, mas, sim, por algo genérico e
indefinido como a conservação da biodiversidade.
A alteração desse quadro terminal, concernente
ao gerenciamento das unidades de conservação, deveria ser uma prioridade para todos
os governos. Mas a verdade é que ninguém se importa.
* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro
Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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