Florestas na Amazônia e mudanças no clima
*
Ecio Rodrigues
Embora muitos discordem, duas constatações
podem ser retiradas dos recentes episódios envolvendo a alagação no rio Madeira,
as cheias no rio Acre e a seca no rio Negro: a primeira é que os eventos climáticos
extremos ocorrem com frequência cada vez mais maior; a segunda, que a responsabilidade
é nossa.
Esta segunda constatação, por sinal, causou
polêmica em 2007, quando foi publicado o relatório elaborado pelo Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), dando
conta que o aquecimento do planeta é uma verdade científica, sendo causado por um
conjunto de gases presentes na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono
(CO2).
A relevância do carbono está associada ao tempo
de permanência, já que esse gás pode ficar imobilizado na atmosfera por um
período de até cem anos, antes de ser devolvido à natureza.
A determinação da procedência do carbono lançado
na atmosfera exigiu o esforço de muitos cientistas nos últimos 20 anos. Chegou-se
à conclusão (e isso também é uma verdade científica) de que a maior parte provém
de apenas duas fontes: da fumaça dos motores movidos a combustão e do desmatamento
das florestas.
Significa afirmar que a fumaça expelida pelos automóveis,
pelas indústrias e pelos motores que movem os geradores das usinas
termoelétricas a diesel, bem como os gases desprendidos das árvores quando cada
hectare de floresta é transformado em pastagem na Amazônia são as principais
fontes do carbono que causa o efeito estufa, o aquecimento do planeta e as
mudanças no clima.
A adoção de medidas no intuito de se restringirem
a produção de carbono tornou-se uma prioridade. Os países associados ao sistema
das Nações Unidas se reuniram num esforço planetário para encontrar fontes
alternativas de energia elétrica e reduzir a zero o desmatamento das florestas em
todo o mundo, sobretudo na Amazônia.
Existe relativo consenso no sentido de que a
humanidade levará ainda muito tempo para chegar a uma transformação radical nas
formas de geração de energia elétrica. Um tempo precioso e talvez longo demais.
Para os países que têm a possibilidade de
dispor da força das águas e que tomaram a acertada decisão de investir na
construção de hidrelétricas, essa transformação será mais fácil. E embora esses
países sejam minoria, o Brasil, felizmente, é um deles.
Por outro lado, a meta de zerar o desmatamento
nas florestas nativas é menos ambiciosa e mais factível. Obviamente que, em
última análise, a decisão é sempre política, e depende dos países que ainda
possuem porções de florestas em seus territórios.
No entanto, a decisão (também política) pela
criação de um fundo internacional, com o fito de custear a manutenção das
florestas, já foi tomada pela maioria das nações. Algumas, como é o caso da
Noruega, têm realizado doações consideráveis para o Fundo Amazônia brasileiro,
com o propósito único de se frear o processo de desmatamento na maior floresta
tropical do mundo.
Esse movimento internacional contrário ao
desmatamento sugere, no mínimo, a seguinte questão: não havendo dúvida
científica quanto ao processo de aquecimento do planeta e quanto ao fato de que
a elevação da temperatura causará mudanças sensíveis no clima, trazendo como
consequência a ocorrência cada vez mais frequente de alagações e secas
extremas, resta a nós, amazônidas, discutir a melhor maneira de minimizar os
efeitos do aquecimento global sobre o ecossistema florestal.
A relação entre a existência ou não de
florestas e o risco de mudança ou não no clima é uma verdade científica. Melhor
decidir pela floresta.
* Professor da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário