Zoneamento Ecológico-Econômico
fracassou no Acre
* Ecio Rodrigues
Importando em custos extraordinários para as frágeis economias locais, a
realização de zoneamento ecológico e econômico (ZEE) nos estados amazônicos
sempre contou com a ajuda internacional. Ou por meio de financiamentos que
elevaram a dívida externa ao limite da capacidade de endividamento, como ocorreu
no Acre e no Amapá, ou mediante doações não reembolsáveis, a verdade é que sem
a cooperação de outros países o ZEE não seria uma realidade na Amazônia
contemporânea.
Mas nenhum país se esforçou tanto para a consecução do ZEE na Amazônia
como a Alemanha. Por meio de sua agência de cooperação internacional, a GIZ (da
sigla impronunciável em alemão), os alemães acompanharam de perto a execução
dos estudos e as decisões sobre as zonas em cada um dos estados amazônicos.
Por um lado, o empenho germânico é perfeitamente compreensível, já que os
alemães são famosos no mundo por suas técnicas de planejamento. É de lá que
vieram os métodos de planejamento por objetivos, como o conhecido ZOPP, a sigla
para Zielorientierte Projektplanung – do (novamente) impronunciável alemão.
Por outro lado, todavia, esse esforço não é assim tão compreensível
quando parece certo que – tratando-se de um modelo de macro planejamento, com
certo grau de generalização, que envolve custos elevadíssimos, realizado numa
região de grande complexidade como a Amazônia – haverá muita dificuldade para a
aplicação das conclusões técnicas, uma vez que o ambiente social e político não
é capaz de assimilá-las.
Em outras palavras, parece que os alemães e os planejadores que atuam na
alta esfera da tecnocracia estatal, em Brasília, em especial na área do Meio
Ambiente, não sabiam o que para os amazônidas é evidente: por aqui, ninguém
planeja nada, não.
Ou melhor, pode-se até planejar, mas ninguém vai levar a sério a execução
do que foi planejado. Isto é, haverá um monte de reuniões, muita consultoria
para peritos nacionais e internacionais, compra de centenas de caminhonetes com
cabine dupla, pagamento de milhares de diárias e, no final, alguns documentos ornamentarão
as estantes das salas de gestores de órgãos públicos.
No Acre, onde o ZEE foi vendido como tábua de salvação, não foi
diferente. A despeito de ter sido convertido em legislação estadual, O ZEE
fracassou no Acre. E três constatações demonstram esse fracasso.
Em primeiro lugar, a definição final das zonas de ocupação produtiva não
respeitou as conclusões resultantes dos custosos estudos realizados. No frigir
dos ovos, o resultado concreto foi a expansão das áreas destinadas à pecuária
nos locais de melhor logística, uma vez que a ampliação em 30% das áreas
cobertas por pastos (em face da redução da área de Reserva Legal de 80% para
50% da propriedade privada) ocorreu ao longo das rodovias pavimentadas.
Em segundo lugar, não se executou o zoneamento. Vale dizer, ainda que não
tenha havido descontinuidade na gestão política estadual, ainda que
praticamente a mesma equipe que contratou o ZEE continue desempenhando as
funções necessárias para levar adiante o seu implemento, ainda que nada tenha,
de efetivo, sido alterado, ainda que não tenha acontecido nenhum incidente de
percurso, ante a nossa capacidade espantosa de esquecer o que foi planejado, o
ZEE foi, sumariamente, esquecido.
Por fim, em terceiro lugar, passados cinco anos da conclusão do
zoneamento, encontrando-se a lei do ZEE em plena vigência, o desmatamento no
Acre aumentou de maneira surpreendente e perigosa. Esse talvez seja a mais
contundente e explícita evidência que comprova o fracasso do ZEE no Acre.
Reduzir a zero o desmatamento e ampliar as áreas de florestas manejadas
era o que pretendia o ZEE no Acre. Alguém viu isso acontecer?
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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