Expedição analisa
importância de Estação Ecológica para o rio Acre
* Ecio Rodrigues
Um grupo de 14 pesquisadores oriundos da Engenharia Florestal da
Universidade Federal do Acre irá subir o rio Acre, até próximo à nascente, na
fronteira com o Peru. A expedição, organizada por meio de uma inédita parceria com
o ICMBio, integra as atividades de um trabalho que, sob o apoio do CNPq, estuda
a interação entre água e floresta na Amazônia.
O principal desígnio da expedição, que terá uma segunda fase na época da
cheia (em meados de abril de 2013), é a coleta de informações para subsidiar o
manejo da Estação Ecológica do Rio Acre; por sua vez, o manejo poderá ser
direcionado para a melhoria da quantidade e da qualidade da água que corre no rio
Acre.
Trata-se, a estação ecológica,
de uma categoria de unidade de conservação, inserida no grupo de proteção integral,
de acordo com a definição da lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação (Snuc); nas unidades de proteção
integral, além da realização de pesquisas, só são permitidas algumas
atividades com fins recreativos.
O que motiva a equipe de pesquisadores é justamente a possibilidade de introduzir,
nas atividades da Estação Ecológica do Rio Acre, o serviço ambiental que a
floresta pode prestar, de produção e purificação da água. Para se chegar a uma
primeira avaliação sobre a importância da porção florestal ali presente para a manutenção
do equilíbrio hidrológico do rio, um rol de 08 projetos de pesquisa foi engendrado.
Todos os estudos serão realizados na área de influência da mata ciliar,
representada por uma faixa de 2 km de largura, paralela ao traçado do rio, em
cada margem, no perímetro da área da Estação Ecológica. Nessa formação
florestal serão medidas, por exemplo, unidades amostrais de Inventário Florestal,
a fim de se chegar às 20 espécies de maior Índice de Valor de Importância (ou
IVI-Mata Ciliar); essas espécies poderão ser empregadas em futuros projetos de
restauração florestal.
A contribuição da biomassa presente na mata ciliar (originária das
árvores, das palmeiras e da serapilheira) será analisada por estudos
específicos, que possibilitarão calcular-se a quantidade de carbono retida
nessa biomassa; da mesma forma, também será objeto de estudo o solo da beira do
rio, que fornece sustentação para a mata ciliar.
Uma vez que no tratamento da água que chega à população urbana, a
purificação representa o maior item de custo, um dos projetos de pesquisa irá
se deter na análise da turbidez da água no interior da Estação Ecológica, a fim
de detectar-se a influência da floresta sobre a pureza do recurso hídrico.
Por outro lado, como a quantidade de água que chega aos oito municípios
localizados à jusante da Estação Ecológica é influenciada pelas características
observadas na região da cabeceira do rio, também será quantificada a vazão
apresentada pelo rio Acre na área abrangida por essa unidade de conservação.
O pioneirismo dessa série de estudos reside no fato de que, embora haja
farta comprovação científica acerca da relação existente entre a quantidade e
qualidade da floresta presente na mata ciliar e a quantidade e qualidade da
água que corre no rio, essa interação entre água e floresta ainda precisa ser
esmiuçada.
Mediante o detalhamento e especificação dessa interação, ou seja, mediante
o cálculo de cada item de custo que envolve o serviço ambiental prestado pela
floresta, de produção e purificação da água, será possível estabelecerem-se
parâmetros para a precificação desse serviço.
Quando houver: (a) um preço a ser pago; (b) um pagador que se beneficia
com a qualidade da água (as operadoras do sistema de abastecimento); e (c) um
prestador desse serviço (que detém a área de floresta), haverá um mercado
consolidado.
E chegar-se à concretização desse mercado – no qual o produtor que possui
e mantém florestas recebe pela produção e purificação da água – é o que se espera
de um futuro cada vez mais próximo.
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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