Por
uma
nova governança florestal para a Amazônia
* Ecio Rodrigues
Constata-se,
no
Brasil, uma conjugação de fatores que justificam o surgimento de
uma nova governança florestal para o país. A ação pública
estatal voltada para o tema das florestas, na forma como atualmente é
praticada, além de tímida, depara-se com dificuldades insuperáveis.
O
Estado é tímido para lidar com as florestas, em primeiro lugar,
porque toda a política florestal nacional se encontra sob a chancela
do Ministério do Meio Ambiente – órgão que é cheio de
incoerências e passa por uma crise letal de identidade desde 2003.
Acontece
que, em geral, ambientalistas não se entusiasmam com a área da
produção – não gostam de produzir bens, e tampouco gostam que
outros produzam. Acreditam que a humanidade viveria bem melhor com
menos da metade de tudo o que se produz atualmente.
Como
as florestas, por sua própria natureza, e como acontece há milhares
de anos, têm como desígnio a produção de um variado leque de bens
e serviços (todos, diga-se, de primeira e absoluta necessidade para
a humanidade), a crise entre produzir e não produzir é manifesta.
No
cotidiano da governança florestal nacional, as coisas acontecem mais
ou menos assim: enquanto um grupo (pequeno) se esforça para
resolver, por exemplo, questões relacionadas à ampliação da área
de florestas plantadas, à inclusão de espécies nativas nos
plantios, ao acesso dos plantios ao pagamento por assimilação de
carbono, e assim por diante, outro grupo (grande) se volta, por
exemplo, para acabar com os plantios florestais de eucalipto.
Em
relação ao ecossistema florestal da Amazônia não é diferente.
Enquanto o mesmo pequeno grupo se debate para fazer com que o manejo
florestal de uso múltiplo se consolide como tecnologia apropriada de
exploração florestal, um grande grupo discute o fechamento das
serrarias que atuam na região e geram centenas de empregos na área
florestal.
Além
dessa antiga e permanente cantilena acerca do padrão de consumo da
humanidade, a governança florestal realizada pelo Ministério do
Meio Ambiente parece não conseguir suplantar
uma intrínseca aptidão para atuar como uma organização não
governamental.
Essa
vocação para ONG vem desde a criação da pasta, mas é inegável
que a partir de 2003 foi fortemente acentuada. Perdida na elaboração
de cartilhas (muitas cartilhas) e materiais direcionados para a
sensibilização pública, a governança florestal não se dá conta
da magnitude que tem sob a sua jurisdição, representada pela área
ocupada pelo ecossistema florestal da Amazônia.
Prefere
ater-se a algum projetinho para alguma pequena localidade que tem uma
pequena prefeitura, cujo prefeito - uma exceção, sempre - sonha em
instalar um aterro sanitário, já que não consegue realizar coleta
seletiva de lixo.
Vocação
para ONG significa mais que atuar no varejo, sob interesses
limitados; significa pequenez para discutir e pôr em prática uma
política florestal que responda aos anseios mundiais, tanto em
relação ao uso e não uso do ecossistema florestal da Amazônia,
quanto no que diz respeito à imprescindível ampliação da área
florestal plantada no país.
Voltando
às
dificuldades intransponíveis para a governança florestal nacional,
parece que jamais, em hipótese alguma, o país vai conseguir
consolidar um mercado para sementes florestais nativas, ou para carne
de animais silvestres. Nunca, no Brasil, um supermercado, ainda que
localizado em Manaus ou em Belém, poderá oferecer carne de paca,
queixada, cateto ou capivara.
Pior
ainda, jamais,
no Brasil, será possível comprar-se, legalmente, um papagaio. Por
sinal, eles, os papagaios, andam falando tudo quanto é língua por
aí, menos o português brasileiro.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro
Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília
(UnB).
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