Rio + 20 é o principal evento internacional de 2012
* Ecio Rodrigues
Em
meio à enorme expectativa despertada pelo conjunto inédito de competições
esportivas (Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas
em 2016) a ser realizadas no Brasil, fica difícil perceber a importância de um
evento como a 3ª Conferência da ONU sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad, na sigla em português), que acontecerá em
junho de 2012 no Rio de Janeiro.
Trata-se
da denominada Rio + 20, uma reunião envolvendo os países associados às Nações
Unidas, cujo objetivo, em tese, é o de dar continuidade aos debates iniciados em
1992, durante a segunda Cnumad, que ficou conhecida como Rio 92, ou Eco 92.
A
primeira Cnumad ocorreu em Estocolmo, na Suécia, em 1972. Foram necessários 20
anos para que os países percebessem a urgência de voltar a discutir o tema da
crescente exploração de recursos naturais e as consequências dessa exploração
desenfreada para o equilíbrio ambiental do planeta.
Na
primeira conferência, debateu-se a mandatória necessidade de serem impostos limites
ao crescimento econômico - o que trouxe uma divergência acirrada entre as nações
participantes. De um lado, estavam os países que se encontravam num grau
avançado de desenvolvimento, o que lhes permitia níveis elevados de consumo; de
outro lado, as nações que almejavam chegar àquele mesmo estágio de
desenvolvimento, e que, por isso, não aceitavam limitar o seu crescimento.
Enquanto
que, em 1972, a discussão se deu em torno da limitação do crescimento - uma vez
que o planeta não aguentaria um padrão global de consumo equivalente, por exemplo,
ao do povo americano -, em 1992, os chefes de Estados se preocuparam em conceituar
a noção de desenvolvimento sustentável, bem como em definir as bases para o alcance
da sustentabilidade em âmbito mundial.
Obtendo-se
um resultado considerado excepcional, foram firmados na Rio 92 um conjunto de
três importantes Convenções, que mudariam, dali em diante, a percepção das
sociedades humanas, em todas as nações do Globo, sobre o seu modo de vida e a sua
rotina cotidiana.
Os
mais apressados e ansiosos (geralmente aqueles de mais tenra idade) costumam
afirmar que nada mudou, ainda que muito se tenha discutido. Não é bem assim. Detendo-se
num único aspecto das transformações trazidas pela Rio 92, o contexto de atuação de diversas profissões
foi profundamente alterado, depois da edição das convenções do Clima, da
Diversidade Biológica e da Agenda 21.
Os arquitetos
tiveram que rever concepções antigas de qualidade do ambiente construído, a fim
de se adequarem ao novo conceito de sustentabilidade que previa o
aproveitamento da luz natural, da água das chuvas, e de outros elementos
naturais. Os engenheiros civis, por sua vez, sofreram para se adaptar às novas
regras de licenciamento ambiental, de forma que suas obras se aproximassem do modelo
imposto pelo ideário do desenvolvimento sustentável.
Os
engenheiros florestais viram sua profissão renascer, sob uma nova e promissora
perspectiva, passando de plantadores de eucalipto e pinus - árvores destinadas
à confecção de papel e à oferta de madeira -, a uma atuação profissional cujas
referências principais são a formação da floresta cultivada e a manutenção da
floresta nativa. Aliás, se houve uma profissão afetada em sua quase totalidade
pelo novo ideário da sustentabilidade foi a Engenharia Florestal.
Não
há dúvida de que o mundo mudou sensivelmente, desde a realização da Rio 92, e
em razão dos resultados nela obtidos. Da mesma maneira de que não há dúvida de que
essa mudança havia sido discutida e de certa forma iniciada em 1972.
A Rio
+ 20, a despeito do fato de não lotar estádios, e de poucos se darem conta da sua
importância, certamente integrará essa pequena lista de eventos que mudam a
vida da humanidade.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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