Oitava Semana
Florestal do Acre
* Ecio Rodrigues
Todos os anos, desde o início da década de 1990, acontecem no Acre diversos
eventos, que, embora realizados de forma avulsa e desconexa, sempre têm como
foco, em síntese, ou a produção florestal oriunda da biodiversidade, ou o processo
de ocupação produtiva ancorado na expansão da agropecuária.
Esses temas estão relacionados, na medida em que são cruciais ao processo
de desenvolvimento do estado. Não obstante, trata-se de dois modelos econômicos
distintos, talvez até mesmo incompatíveis. O primeiro se refere à exploração da
diversidade biológica, que pode conduzir o Acre ao caminho da sustentabilidade;
o segundo diz respeito à consolidação da pecuária e do cultivo de grãos, que
pode levar à degradação ambiental e social.
Cientes quanto a essa incompatibilidade, e cientes, acima de tudo, quanto
à relevância do debate em torno da atividade produtiva baseada no ecossistema
florestal, os envolvidos com a Engenharia Florestal da Universidade Federal do
Acre, Ufac, se esforçam na realização de um evento anual, que já se tornou
referência no âmbito estadual: a Semana Florestal.
A Semana Florestal, que terá lugar no Auditório da Ufac, no período entre
12 a 16 de maio próximo, sempre se debruça sobre assuntos atuais e pertinentes para
o Acre e a Amazônia. Em suas edições anteriores, teve como tema: “Biodiversidade,
a floresta que existe além das árvores (primeira edição, 2007); “Alternativas Florestais
e Desafios Tecnológicos” (2008); “Manejo Florestal de Uso Múltiplo” (2009); “Reservas
Extrativistas” (2010); “Manejo Florestal Empresarial” (2011); “Biomassa Florestal
e Energia Elétrica (2012); e “Unidades de Conservação” (2013). Em 2014, na oitava
edição do evento, as discussões ocorrerão em torno do tópico “Florestas e Mudanças
no Clima”.
Acontece que, desde a realização, em 1992, no Rio de Janeiro, da Conferência
da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (a Rio 92), os países discutem a
estreita relação que existe entre as formações florestais (em especial as
nativas) e o equilíbrio do clima.
Já foi cientificamente comprovada a importância das florestas para a
manutenção do equilíbrio hidrológico dos rios (sobretudo no caso da mata ciliar),
bem como a efetiva ação das formações florestais na absorção do carbono presente
na atmosfera, na melhoria da qualidade do ar, na manutenção de encostas – em
suma, na mitigação dos impactos oriundos do efeito estufa e do conseqüente aquecimento
do planeta.
Significa afirmar que a existência ou a inexistência de florestas pode representar,
respectivamente, menor ou maior risco de ocorrência de tragédias associadas às
alterações no clima, como secas, alagações, desbarrancamentos, calor excessivo e
tsunamis.
Diante de tais constatações, um novo modelo de economia surge no mundo,
com o fito, em última análise, de frear e minimizar os impactos advindos das mudanças
climáticas. Chamada de economia de baixo carbono, numa referência explícita à
redução do uso do petróleo no padrão de consumo atualmente mantido pela
humanidade, esse promissor modelo econômico deverá priorizar o emprego de
matérias-primas renováveis, vale dizer, que podem ser produzidas – ou manejadas
– na floresta.
Nessa nova economia, o ecossistema florestal da Amazônia tem papel
preponderante. De fato, não há, para os cientistas, nenhum cenário ou
prognóstico para o clima e para a economia, num futuro cada vez mais próximo, em
que a Amazônia não apareça sob apreciável posição estratégica.
É nesse contexto que os atuais e futuros engenheiros florestais da Ufac
pretendem conduzir os debates, tendo por referência a “Floresta sob um novo clima”,
como assevera o slogan que venceu o concurso de lançamento do evento.
A saída – e ao que parece, não há quem duvide – está em aumentar a área
de florestas manejadas no mundo, com destaque para a Amazônia.
* Professor da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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