Mais calor e menos chuva
na Amazônia. Será o caos?
* Ecio Rodrigues
Fotografia de Alana Chocorosqui Fernandes (Click para ampliar) |
No Brasil, os que gostam de desacreditar as
pesquisas científicas costumam obter seus quinze minutos de fama ao contestar
os resultados apresentados pelos cientistas que se dedicam ao estudo sobre o
aquecimento global e as consequentes mudanças no clima.
Na verdade, o expediente de pôr em xeque as
informações divulgadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC, na sigla em inglês) tem sido corriqueiro nesse país que cultua a
desconfiança: não à toa, a propalada existência de espiões e biopiratas
impregna o imaginário popular de maneira persistente e equívoca.
O IPCC, como se sabe, é formado por mais de 3.000
cientistas, que receberam mandato da ONU para estudar as mudanças climáticas e
publicar relatórios periódicos, cujo conteúdo chama a atenção dos países para a
existência de um processo de aquecimento do planeta, causado pelas atividades
produtivas vigentes e que sustentam os atuais níveis de consumo da humanidade.
Pois bem. A despeito das credenciais ostentadas pelo
IPCC, vez ou outra alguém ganha espaço na mídia nacional rebatendo os
resultados apresentados por esses cientistas e garantindo que o mundo –
incluindo-se o Brasil, obviamente – estaria sujeito a um processo de
resfriamento, e não de aquecimento.
Portanto, não haveria mudança no clima, nem tampouco
perspectiva de catástrofes, e todas os eventos climáticos que vêm ocorrendo não
passariam de uma transformação natural e previsível na história da existência
do planeta.
Não raro, para esses arautos da desconfiança, as
conclusões do IPCC seriam tendenciosas, uma vez que procedem de estudos levados
a cabo por estrangeiros. Vale dizer, como se trata de informações suscitadas
por cientistas a serviço de potências com interesses escusos em relação ao
Brasil, não mereceriam crédito.
Todavia, diante da publicação, em 09 de setembro
último, do relatório produzido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas –
formado, diga-se de passagem, exclusivamente por cientistas brasileiros – esse
argumento já não pode ser levantado.
O Painel nacional foi instituído pelo governo
brasileiro em 2009, com a missão de rever, analisar e aplicar as metodologias
empregadas pelo IPPC e que resultaram no diagnóstico de um processo permanente
e inexorável de aquecimento global. Depois de três anos de pesquisas, os
cientistas brasileiros concluíram que sim, o aquecimento global é uma realidade
científica também no Brasil.
Para a Amazônia, o cenário é, no mínimo,
estarrecedor. Os cientistas brasileiros preveem, até 2040, diminuição de 10% no
volume de chuvas, além de aumento na temperatura, estimado entre 1 e 1,5º C.
O quadro se agrava de 2041 a 2070, estando prevista
redução de 25% a 30% nas chuvas e ampliação da temperatura entre 3 e 3,5°C. De
2071 a 2100, a situação será ainda pior: redução de 40% a 45% nas chuvas e
temperatura mais alta entre 5 e 6°C.
Também foi objeto de análise pelo Painel brasileiro
as implicações do aquecimento global sobre as atividades produtivas exercidas
no país. E, embora os produtores envolvidos com o agronegócio não acreditem nas
tais mudanças climáticas, essa atividade, seguramente, será a mais afetada.
O fato é que as principais consequências do
aquecimento global são aumento da temperatura e redução da quantidade de
chuvas. Ora, considerando-se que a oferta de água e o equilíbrio na temperatura
são fatores cruciais para o sucesso do agronegócio, os descrentes, em algum
momento, terão que reavaliar suas posições.
Não há dúvida científica: se o país não zerar o desmatamento,
a crise ecológica será inevitável. Simplesmente, já não há mais tempo para
desconfianças.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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