Projeto Ciliar Cabeceiras
do Purus chega a Manoel Urbano
* Ecio Rodrigues
Os resultados das pesquisas e levantamentos
realizados no âmbito do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus serão apresentados
nas escolas e na Câmara de Vereadores de Manoel Urbano. Com o sugestivo slogan
“Conservando além das águas”, o projeto aplicou metodologia desenvolvida pela
Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre para o estudo sobre a
interação existente entre as matas ciliares e os rios.
Trata-se, de certa forma, de uma continuidade
do “Ciliar Só-Rio” – projeto que realizou amplo diagnóstico da mata ciliar
presente nos oito municípios cortados pelo rio Acre –, com um ingrediente
importante, porém: é que as três cidades do Acre cortadas pelo Purus (Santa
Rosa do Purus, na fronteira com o Peru; Manoel Urbano; e Sena Madureira, na
fronteira com o Amazonas) estão localizadas na área de influência da cabeceira
do rio.
Ora, o comprometimento das condições
ambientais na área de influência das cabeceiras acarreta um efeito cascata (sem
trocadilho), que, por sua vez, pode pôr em risco a qualidade e a quantidade da
água que chega às cidades localizadas a jusante, até a foz do Purus, no rio
Solimões. O Solimões, como se sabe, forma o rio Amazonas ao encontrar o rio
Negro, nas proximidades de Manaus.
Ou seja, o desmatamento nas cabeceiras do
Purus conduz a uma sucessão de consequências perigosas, que alcançam um dos
mais importantes rios do planeta – o Amazonas.
Por isso, a privilegiada localização geográfica das cidades cortadas
pelo rio Purus representa um adicional de responsabilidade para as
administrações locais.
É certo, contudo, que cuidar dessa extensa
área de influência da cabeceira do rio não é tarefa fácil. Além de demandar a
produção de um cabedal de informações passíveis de compreensão pelos técnicos
municipais, a empreitada depreca, ainda, um volume de investimentos financeiros
geralmente indisponível para essas municipalidades.
Contribuir para solucionar o primeiro
componente dessa difícil equação – ou seja, para a geração de informações
acessíveis pela sociedade local – foi o principal objetivo enfocado pelo
Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus.
O projeto foi apoiado com recursos do CNPq na
ordem de 100 mil reais, aplicados, primeiramente, num mapeamento efetuado com
imagens de satélite, que aferiu o tipo de floresta existente na mata ciliar e
seu grau de antropização – de desmatamento, para ser mais específico.
O segundo passo foi a realização de um amplo
inventário na mata ciliar, abrangendo os três municípios, a fim de assinalar as
espécies de árvores e arbustos presentes naquelas formações florestais e, o
principal, calcular as 20 espécies que podem ser consideradas mais importantes
para a restauração das áreas desmatadas.
Ante os resultados do mapeamento por satélite
e do inventário florestal foi possível definir os trechos de mata ciliar que
precisam ser restaurados, a largura ideal que a faixa de mata ciliar deve ter
em cada cidade e, finalmente, as espécies que devem ser usadas nos plantios de
restauração florestal.
O projeto se encontra, atualmente, em sua fase
de extensão, direcionada para conscientizar o público beneficiário a respeito
de duas constatações cruciais. Primeiro, que há forte relação entre a mata
ciliar e a quantidade e a qualidade da água que corre no rio. Segundo, que essa
relação é ainda mais intensa na área de influência da cabeceira.
Os municípios cortados pelo Purus devem se
voltar para as margens do rio. Num futuro cada vez mais próximo, serão cobrados
pelo que acontece ali – vale dizer, pelo descaso com suas matas ciliares e
pelas implicações que esse descaso trará a outras cidades e à bacia do
Amazonas.
Por outro lado, cabe aos governos estaduais e
às empresas que prestam serviços de abastecimento d’água pagar pela conservação
das matas existentes na região de influência das cabeceiras do Purus.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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