Projeto Ciliar Só-Rio conclui pesquisas na mata ciliar do Rio Acre
* Ecio Rodrigues
Financiado com recursos do CNPq que somam R$ 200.000,00, o projeto Ciliar Só-Rio Acre, executado pela Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre, deu ensejo à realização de um conjunto de levantamentos sobre a mata ciliar do Rio Acre, os quais, pode-se dizer, supriram um hiato - a faixa de dois quilômetros de largura abrangida pelo projeto (nas margens esquerda e direita do rio) jamais havia sido objeto de estudos no volume de agora.
Ao focar-se a mata ciliar, foi possível detalhar-se o estágio de degradação atualmente ali observado, o que se fez mediante a elaboração de 16 mapas - sendo dois para cada um dos oito municípios cortados pelo Rio Acre; tais mapas possibilitaram diagnosticar-se as áreas antrópicas e identificar-se os trechos mais críticos, considerados emergenciais para a restauração florestal.
Mas, restaurar com quais espécies? A discussão, que parecia interminável, sobre quais espécies deveriam ser usadas na restauração das matas ciliares no país, há muito tempo vinha opondo os que endossavam o emprego de qualquer espécie embutida de valor econômico - inclusive algumas de ciclo curto, como milho, consorciada em sistemas agroflorestais - aos que defendiam o uso exclusivo de espécies florestais pertencentes ao ecossistema respectivo à mata sob restauro, independente do seu valor comercial.
A aprovação da Resolução 429, do Conama, em fevereiro último, que definiu as diretrizes para elaboração de projetos de restauração florestal de mata ciliar em todo o território nacional, pôs fim à controvérsia.
De fato, o Conama bateu o martelo, determinando que devem ser usadas apenas as espécies florestais que ocorrem na própria mata ciliar a ser restaurada. O Ciliar Só-Rio acertara em cheio, já que essa orientação fora assumida pelos pesquisadores envolvidos no projeto dois anos antes, quando se decidiu pela realização de amplo Inventário Florestal – que abrangeria o rio Acre, desde a sua foz até a nascente.
Mediante o inventário da mata ciliar foi possível definirem-se as 20 espécies florestais de maior Índice de Valor de Importância para a mata ciliar, as quais devem ser usadas na restauração florestal. O cálculo do respectivo IVI-Mata Ciliar envolveu a concepção dum novo indicador – já que até então inexistia, na literatura sobre o tema, alusão a esse índex específico.
Outra discussão interminável - que chegou à população por meio do alvoroço causado pela infausta aprovação, pela Câmara Federal, do novo Código Florestal - diz respeito à largura da faixa a ser coberta pela mata ciliar.
Ante à aleatoriedade do referencial existente – que incluía a largura de 30 metros fixada pelo Código antigo e, pasme-se!, os 7,5 metros da triste proposta aprovada pelos parlamentares -, o Ciliar Só-Rio optou por conceber uma metodologia específica para o cálculo da extensão ideal de mata ciliar, levando-se em conta não a largura do rio, mas as características de suas margens.
A inovação tecnológica desenvolvida pelo projeto procurou dar ênfase à relação entre largura da mata ciliar, qualidade da água do rio, e as características do solo e do relevo presente na margem. Suplantando a usual vinculação conceitual que estabelece a largura da mata ciliar em função da largura do rio, a nova metodologia reforça a tese de que quanto maior a largura da mata ciliar, menor será o custo da água que chega até a casa do consumidor urbano.
O projeto prevê ainda elaboração de uma lei municipal, com o fito de estabelecer a largura da mata ciliar e o procedimento para a sua respectiva restauração, em cada uma dos oito cidades abrangidas.
Este sim, um passo determinante para abordar-se a questão da mata ciliar com menos palanque, menos romantismo e mais pesquisa - da forma como merece ser tratado um tema de tão grande interesse para o país.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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