* Ecio Rodrigues
Com o instigante título “Equilíbrio Delicado para a
Amazônia Legal Brasileira: Um Memorando Econômico”, documento publicado pelo
Banco Mundial, em 2023, sob a responsabilidade editorial do economista sênior
Marek Hanusch, defende deslocar a outros setores o crédito público investido na
pecuária extensiva na Amazônia.
Colocando ênfase na máxima de que o desenvolvimento
da Amazônia depende do desmatamento zero, os economistas analisaram as
estatísticas sobre os benefícios trazidos pelo crédito rural subsidiado (gerido
pelo Basa e oriundos do FNO, Plano Safra e Pronaf) para a economia regional e o
impacto na taxa anual de desmatamento.
A conclusão não poderia ser diferente do que tem
sido reiterado em vários artigos publicados nesse espaço.
A fartura de capital anualmente emprestado ao
pequeno e grande produtor a juros reduzidos amplia a competitividade da
principal atividade responsável pela substituição da cobertura florestal, a
pecuária extensiva.
Com clareza e objetividade incomum os economistas
afirmam:
Nos estados da Amazônia Legal com grande cobertura
florestal remanescente, o principal programa de crédito rural, o Plano Safra,
tende a apoiar a pecuária, a qual está fortemente associada ao desmatamento.
A suspensão do crédito para pecuária, que por um período
de cinco anos poderia ser aplicado em atividades realizadas em área urbana com
maior produtividade, traria uma redução drástica e rápida no desmatamento da
Amazônia, mas essa alternativa sequer tem sido discutida por aqui.
E, na ausência de vontade política para o debate
raramente aqueles que possuem simpatia pela saída econômica com o boi solto no
pasto, se expõem em público pela, inevitável diga-se, defesa do desmatamento.
Diante do óbvio científico de que não se cria boi
embaixo da floresta a discussão descamba para o contraditório apoio à pecuária
extensiva e ao combate do desmatamento ilegal.
Insistindo na tosca ideia de que desmatamento
legalizado difere do ilegal, como se o primeiro mantivesse as árvores e o
segundo não, a caça aos produtores ilegais, aqueles que desmatam além do
permitido pelo Código Florestal, consegue reunir imprensa, ambientalistas e,
claro, os pecuaristas.
Todos no esforço de esquecer o impacto ecológico da
pecuária extensiva, legalizada ou não, onde antes havia floresta.
Finalmente, o documento do Banco Mundial aponta
alternativa para o desmatamento zero da Amazônia por meio do investimento em
unidades de conservação florestal de maneira a superar o tempo de criar boi.
Nesse momento é importante esmiuçar as opções de
política pública de desenvolvimento para Amazônia à exaustão: ou se desmata
para ampliar a pecuária extensiva ou se produz riqueza com a biodiversidade
florestal.
A boa notícia é que a maioria dos 198 países
associados à ONU concordam que a saída econômica pela biodiversidade florestal
da Amazônia prevalecerá!
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
Nenhum comentário:
Postar um comentário