Será o fim do
inverno amazônico?
* Ecio Rodrigues
Pesquisadores
que atuam com climatologia e meteorologia na Amazônia vêm alertando, com mais
veemência nos últimos 10 anos, para um fenômeno climático que pode alterar – de
forma radical, advirta-se – o cotidiano de quem vive na região: o fim da
estacionalidade.
Por
estacionalidade entenda-se a divisão do ano em períodos distintos,
caracterizados por condições específicas de clima, que vão provocar reações igualmente
específicas por parte das plantas e dos animais.
Não
é segredo para ninguém que a primavera é a estação das flores; significa que, no
ano corrente de 2016, no caso do Brasil, país situado abaixo da linha do
equador, a maior parte das plantas deverá florir entre 22 de setembro e 21 de
dezembro.
A primavera
é a estação que começa após o inverno e cujo término dá início ao verão. O
outono, por outro lado, marca o interstício entre o verão e o inverno.
Nas zonas
temperadas, onde as estações climáticas são bem definidas, como acontece no Sul
do Brasil, o cotidiano é moldado a partir dos impactos causados pelo calor,
pelo frio, pela floração das árvores, pela queda das folhas – só para fazer referência
a alguma característica marcante de cada estação.
Na
Amazônia, todavia, isso não acontece. Como dizem os mais experientes, na
Amazônia só há duas estações, a seca e a chuva.
No
tempo da completa ausência de infraestrutura, quando a pavimentação de ruas era
um luxo desfrutado apenas em metrópoles como Manaus e Belém, dizia-se que essas
duas estações eram a da lama e a da poeira.
Mas,
a presença de lama e de atoleiros representa apenas uma das faces da “estação das
chuvas” – a outra se refere ao aumento da vazão dos rios, que, por sua vez,
leva à fartura das cheias, além de importar em melhoria expressiva na beleza
cênica da paisagem.
As
chuvas também sempre foram associadas à ocorrência de temperaturas mais amenas
– por isso, o período das chuvas corresponde ao chamado inverno amazônico.
Seguindo
à risca as efemérides das estações do ano, diga-se que em 21 de março último teve
início o outono, assinalando-se o fim do verão. Na Amazônia, contudo, esse
período costumava marcar o fim do “inverno”, ou seja, a ocasião em que começavam
a rarear as chuvas e iniciava-se o “verão”, a época da seca, cujo auge
acontecia ente agosto e setembro.
Mas
já não é bem assim. Para os cientistas que monitoram as curvas de pluviosidade
e a temperatura (para ficar nas principais variáveis), o fim da estacionalidade
pode ser uma realidade. Significa afirmar que a distribuição anual das chuvas
pode deixar de apresentar as variações que justificavam tanto o inverno quanto o
verão amazônicos.
A se
confirmar essa hipótese, o que certamente requer a continuidade das pesquisas
envolvendo clima, meteorologia e interação entre água e mata ciliar, a vida na região
terá que se adequar a alterações que dizem respeito a temperatura,
disponibilidade de água, quantidade e intensidade de luz. Tudo agravado por ambiente
e clima rigorosos, que não se compadecem dos que moram por aqui.
Será
o fim do inverno amazônico? Pode ser. Mas a adaptação às novas condições do
clima não será fácil.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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