* Ecio Rodrigues
De
acordo com as medições efetuadas pelo reconhecido Inpe, 11.088 km² de florestas
foram desmatadas na Amazônia entre agosto/2019 e julho/2020 – o que representa
uma ampliação de 9,5% na destruição florestal, em relação ao ano passado.
À
parte a reação leviana e insensata do governo, a preocupação mundial se volta
para o fato de que os índices de 2020 confirmam a tendência de alta observada
desde 2012 – e que poderá culminar em recordes de desmatamento como os registrados
em décadas passadas.
Apenas
para lembrar, em 1995, pela primeira e, felizmente, única vez, foram destruídos
29.059 km² de florestas, o que recrudesceu a pressão dos países associados à
ONU por medidas severas, a fim de conter essa catástrofe considerada
planetária.
A
partir daí, por meio de um dispêndio público considerável em aparato fiscalizatório,
foi possível manter as taxas em níveis “toleráveis” até 2004, quando foram
devastados nada menos que 27.772 km² de biodiversidade florestal na Amazônia.
É
insano que a destruição de certa quantidade de florestas por ano seja
considerada “tolerável” pelos brasileiros. Todavia, e lamentavelmente, isso é o
que se pode deduzir observando a série histórica. Por sinal, houve muita comemoração
em 2012, único ano em que foram desmatados menos de 5.000 km².
Diferentemente
do caso da taxa anterior, desta vez a medicação ocorreu integralmente sob a
tutela dos gestores que assumiram o país em janeiro de 2019. Portanto, é difícil – para não dizer
impossível – deixar de responsabilizar o atual governo pela escalada do
desmatamento
Não
se pode desconsiderar, ademais, que o aumento do desmatamento acontece num
momento em que o país passa por uma significativa retração econômica (que em
parte se deve à pandemia, mas em última instância é resultado da incompetência do
governo mesmo).
A
conjugação entre aumento do desmatamento e redução da riqueza é o pior dos
mundos. Com efeito, a economia em frangalhos não produz ganhos na renda da
sociedade capazes de contrabalancear o sacrifício da perda na sustentabilidade.
Dessa
forma, existem razões de sobra para preocupação.
Acontece
que, a despeito da inação do governo, a economia certamente irá reagir no próximo
ano, uma vez que a covid-19 será contida com a chegada da vacina, e a indústria
deve começar a se recuperar, juntamente com o setor terciário, um dos mais
atingidos pela pandemia – dando início a um período de certa prosperidade.
Ora,
quando o PIB aumenta, a pressão pelo investimento na destruição florestal
também sobe.
Em
um ambiente de pressão pela substituição da floresta por plantio de capim para
criação extensiva de gado, atividade prioritária para o investimento privado na
Amazônia, a responsabilidade do governo federal em relação ao controle do desmatamento
redobra.
Todavia,
o governo já demonstrou sua inépcia política e técnica para lidar com a
conservação da floresta na Amazônia. Exemplos dessa inépcia não faltam.
Assim,
as perspectivas são desoladoras.
Nem tudo
está perdido, porém. Alteração nesse cenário desditoso para 2021 poderá surgir com
a ameaça de boicote por parte de investidores e de países compradores da carne oriunda
da pecuária praticada onde antes havia biodiversidade florestal. É esperar para
ver.
Por
ora, o estrago está feito: a Amazônia segue se afastando da sustentabilidade, pois
11 mil km² de florestas foram destruídas em 2020.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.