quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Em 2020, desmatamento põe sustentabilidade em risco na Amazônia

 * Ecio Rodrigues

De acordo com as medições efetuadas pelo reconhecido Inpe, 11.088 km² de florestas foram desmatadas na Amazônia entre agosto/2019 e julho/2020 – o que representa uma ampliação de 9,5% na destruição florestal, em relação ao ano passado.

À parte a reação leviana e insensata do governo, a preocupação mundial se volta para o fato de que os índices de 2020 confirmam a tendência de alta observada desde 2012 – e que poderá culminar em recordes de desmatamento como os registrados em décadas passadas.

Apenas para lembrar, em 1995, pela primeira e, felizmente, única vez, foram destruídos 29.059 km² de florestas, o que recrudesceu a pressão dos países associados à ONU por medidas severas, a fim de conter essa catástrofe considerada planetária.

A partir daí, por meio de um dispêndio público considerável em aparato fiscalizatório, foi possível manter as taxas em níveis “toleráveis” até 2004, quando foram devastados nada menos que 27.772 km² de biodiversidade florestal na Amazônia.

É insano que a destruição de certa quantidade de florestas por ano seja considerada “tolerável” pelos brasileiros. Todavia, e lamentavelmente, isso é o que se pode deduzir observando a série histórica. Por sinal, houve muita comemoração em 2012, único ano em que foram desmatados menos de 5.000 km².

Diferentemente do caso da taxa anterior, desta vez a medicação ocorreu integralmente sob a tutela dos gestores que assumiram o país em janeiro de 2019.  Portanto, é difícil – para não dizer impossível – deixar de responsabilizar o atual governo pela escalada do desmatamento

Não se pode desconsiderar, ademais, que o aumento do desmatamento acontece num momento em que o país passa por uma significativa retração econômica (que em parte se deve à pandemia, mas em última instância é resultado da incompetência do governo mesmo).

A conjugação entre aumento do desmatamento e redução da riqueza é o pior dos mundos. Com efeito, a economia em frangalhos não produz ganhos na renda da sociedade capazes de contrabalancear o sacrifício da perda na sustentabilidade.

Dessa forma, existem razões de sobra para preocupação.

Acontece que, a despeito da inação do governo, a economia certamente irá reagir no próximo ano, uma vez que a covid-19 será contida com a chegada da vacina, e a indústria deve começar a se recuperar, juntamente com o setor terciário, um dos mais atingidos pela pandemia – dando início a um período de certa prosperidade.

Ora, quando o PIB aumenta, a pressão pelo investimento na destruição florestal também sobe.

Em um ambiente de pressão pela substituição da floresta por plantio de capim para criação extensiva de gado, atividade prioritária para o investimento privado na Amazônia, a responsabilidade do governo federal em relação ao controle do desmatamento redobra.

Todavia, o governo já demonstrou sua inépcia política e técnica para lidar com a conservação da floresta na Amazônia. Exemplos dessa inépcia não faltam.

Assim, as perspectivas são desoladoras.

Nem tudo está perdido, porém. Alteração nesse cenário desditoso para 2021 poderá surgir com a ameaça de boicote por parte de investidores e de países compradores da carne oriunda da pecuária praticada onde antes havia biodiversidade florestal. É esperar para ver.

Por ora, o estrago está feito: a Amazônia segue se afastando da sustentabilidade, pois 11 mil km² de florestas foram destruídas em 2020.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

 

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