* Ecio Rodrigues
Diante da derrota da inépcia e do amadorismo
político, representados na figura tosca de Donald Trump, os Estados Unidos voltam
a se posicionar na condição de referência para agenda das mudanças climáticas
e, por conseguinte, no apoio incondicional ao Acordo de Paris.
Joe Biden venceu uma eleição complexa, em meio a uma
conjuntura de pandemia e quarentena, o que levou mais de 60 milhões de
americanos a votar pelo correio.
Sem embargo, e ainda que estivesse enfrentando um
adversário perigoso, que tentava um segundo mandato (sendo que por lá são raros
os governantes que não conseguem) e que se elegeu presidente negando o
aquecimento global, o democrata sempre fez questão de deixar claro que uma de
suas prioridades seria o enfrentamento das mudanças climáticas.
Pode ser cedo ainda para afirmar, entretanto, um
dos grandes vitoriosos nas eleições americanas de 2020 certamente foi o
movimento ambientalista mundial, cuja principal bandeira, na atualidade, é a efetivação
do Acordo de Paris.
Existe farta evidência científica quanto ao fato de
que o planeta está aquecendo e que o aumento da temperatura acarreta alterações
climáticas, degelo das calotas polares, elevação do nível dos oceanos e outros eventos
calamitosos, como secas, alagações e tsunamis, para ficar nos mais noticiados.
Assinado em 2015, na cidade que lhe empresta o
nome, o Acordo de Paris é considerado o mais amplo e representativo pacto político
planetário direcionado à mitigação dos impactos do efeito estufa, causa
principal do aquecimento do planeta.
Os países associados à Organização das Nações
Unidas, ONU, assumiram metas de redução de carbono, a serem alcançadas até
2030. Embora não seja a única causa do efeito estufa, o carbono é considerado o
inimigo número 1 por duas razões, basicamente: tempo de permanência na
atmosfera e quantidade produzida pela humanidade.
Boa parte do carbono presente hoje na atmosfera foi
lançado há mais de 100 anos, ou seja, ainda no início do século passado, quando
a humanidade descobria o largo leque de aplicações do petróleo e começava a
usar indiscriminadamente essa matéria-prima.
É aí que entra a segunda parte da equação que torna
as mudanças climáticas prioridade para todos os países. Reduzir a emissão de
carbono significa mudar a matriz energética, freando a expansão da indústria
que usa petróleo em quase tudo e ampliando o uso de fontes de energia limpa.
Uma revolução ainda pouco percebida por estas
bandas está acontecendo, com o emprego do motor elétrico no sistema mundial de
transporte de pessoas e cargas. Em muitos países da Europa foram impostas restrições
à queima de combustíveis fósseis em automóveis, e o motor a diesel foi
praticamente banido de cidades como a própria Paris.
Motores elétricos vão demandar quantidade razoável de
geração de energia elétrica – que, por sua vez, não poderá ser produzida pela
queima de óleo diesel. A matriz de energia elétrica mundial se volta para as 4
fontes de energia limpa: água, sol, vento e biomassa.
Nesse contexto, o Brasil é privilegiado, já que
pelo menos 70% da energia elétrica produzida aqui é energia limpa,
originando-se principalmente da água dos rios. Não apenas, mas muito por isso, o
país é considerado peça-chave no jogo de estratégias políticas da ONU para as
mudanças climáticas.
Não à toa, o Acordo de Paris é sucedâneo da
Convenção do Clima, assinada em 1992 no Rio de Janeiro. Depois vieram Rio + 10,
em 2002; e Rio + 20, em 2012, sempre com a presença marcante da diplomacia
brasileira e tornando o país um dos mais ativos para política mundial sobre clima.
Defenestrados os ineptos nos Estados Unidos, há
muita expectativa que estadistas e profissionais da política internacional
entrem em cena naquele país, a fim de ajudar a humanidade a superar esse que é
o real desafio – dar início à era pós-petróleo, alavancando a economia de baixo
carbono.
Lamentavelmente, por aqui, o governo anda a passos
lentos, e ainda tem um pé na década de 1980, quando o problema das cidades era
lixo e saneamento.
A realidade do Acordo de Paris exige profissionais
da política. Não há espaço para amadores na construção de uma saída planetária
para a emergência climática.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor
Nenhum comentário:
Postar um comentário