segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Prometendo prioridade ao Acordo de Paris, Partido Democrata vence eleição nos EUA

 * Ecio Rodrigues

Diante da derrota da inépcia e do amadorismo político, representados na figura tosca de Donald Trump, os Estados Unidos voltam a se posicionar na condição de referência para agenda das mudanças climáticas e, por conseguinte, no apoio incondicional ao Acordo de Paris.

Joe Biden venceu uma eleição complexa, em meio a uma conjuntura de pandemia e quarentena, o que levou mais de 60 milhões de americanos a votar pelo correio.

Sem embargo, e ainda que estivesse enfrentando um adversário perigoso, que tentava um segundo mandato (sendo que por lá são raros os governantes que não conseguem) e que se elegeu presidente negando o aquecimento global, o democrata sempre fez questão de deixar claro que uma de suas prioridades seria o enfrentamento das mudanças climáticas.

Pode ser cedo ainda para afirmar, entretanto, um dos grandes vitoriosos nas eleições americanas de 2020 certamente foi o movimento ambientalista mundial, cuja principal bandeira, na atualidade, é a efetivação do Acordo de Paris.

Existe farta evidência científica quanto ao fato de que o planeta está aquecendo e que o aumento da temperatura acarreta alterações climáticas, degelo das calotas polares, elevação do nível dos oceanos e outros eventos calamitosos, como secas, alagações e tsunamis, para ficar nos mais noticiados.

Assinado em 2015, na cidade que lhe empresta o nome, o Acordo de Paris é considerado o mais amplo e representativo pacto político planetário direcionado à mitigação dos impactos do efeito estufa, causa principal do aquecimento do planeta.

Os países associados à Organização das Nações Unidas, ONU, assumiram metas de redução de carbono, a serem alcançadas até 2030. Embora não seja a única causa do efeito estufa, o carbono é considerado o inimigo número 1 por duas razões, basicamente: tempo de permanência na atmosfera e quantidade produzida pela humanidade.

Boa parte do carbono presente hoje na atmosfera foi lançado há mais de 100 anos, ou seja, ainda no início do século passado, quando a humanidade descobria o largo leque de aplicações do petróleo e começava a usar indiscriminadamente essa matéria-prima.

É aí que entra a segunda parte da equação que torna as mudanças climáticas prioridade para todos os países. Reduzir a emissão de carbono significa mudar a matriz energética, freando a expansão da indústria que usa petróleo em quase tudo e ampliando o uso de fontes de energia limpa.

Uma revolução ainda pouco percebida por estas bandas está acontecendo, com o emprego do motor elétrico no sistema mundial de transporte de pessoas e cargas. Em muitos países da Europa foram impostas restrições à queima de combustíveis fósseis em automóveis, e o motor a diesel foi praticamente banido de cidades como a própria Paris.

Motores elétricos vão demandar quantidade razoável de geração de energia elétrica – que, por sua vez, não poderá ser produzida pela queima de óleo diesel. A matriz de energia elétrica mundial se volta para as 4 fontes de energia limpa: água, sol, vento e biomassa.

Nesse contexto, o Brasil é privilegiado, já que pelo menos 70% da energia elétrica produzida aqui é energia limpa, originando-se principalmente da água dos rios. Não apenas, mas muito por isso, o país é considerado peça-chave no jogo de estratégias políticas da ONU para as mudanças climáticas.

Não à toa, o Acordo de Paris é sucedâneo da Convenção do Clima, assinada em 1992 no Rio de Janeiro. Depois vieram Rio + 10, em 2002; e Rio + 20, em 2012, sempre com a presença marcante da diplomacia brasileira e tornando o país um dos mais ativos para política mundial sobre clima.

Defenestrados os ineptos nos Estados Unidos, há muita expectativa que estadistas e profissionais da política internacional entrem em cena naquele país, a fim de ajudar a humanidade a superar esse que é o real desafio – dar início à era pós-petróleo, alavancando a economia de baixo carbono.

Lamentavelmente, por aqui, o governo anda a passos lentos, e ainda tem um pé na década de 1980, quando o problema das cidades era lixo e saneamento.

A realidade do Acordo de Paris exige profissionais da política. Não há espaço para amadores na construção de uma saída planetária para a emergência climática. 

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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