Para
comemorar a nova década que está iniciando em 2020, e como forma de apresentar
uma mostra da realidade vivenciada entre 2010 e 2019 – no que respeita à
sustentabilidade da Amazônia –, foram selecionados e serão novamente postados,
neste blog, artigos considerados representativos, entre os 48 publicados
semanalmente, todos os anos, no site da Oscip Andiroba (http://www.andiroba.org.br/).
Dessa
forma, um total de 10 artigos, um para cada ano da década passada, serão
republicados, durante 10 semanas, a partir de 05 de janeiro.
Segue
o quarto artigo da série, publicado originalmente em 30/06/2013:
Centro de Biotecnologia da Amazônia deveria
ser prioridade
* Ecio Rodrigues
Erram
os parlamentares que representam os interesses da Amazônia no Congresso quando
tentam, sem sucesso, associar a Zona Franca de Manaus aos ideais de
sustentabilidade preconizados para a região.
No
limite do equívoco e do desespero para defender esse modelo de ocupação,
sustentam que a industrialização trazida pela zona franca impediu o avanço do
desmatamento no Amazonas.
Pífio
argumento, uma vez que não existe vínculo direto entre desmatamento e
industrialização. Esse vínculo só poderia ser invocado se houvesse comprovação
de que os lucros gerados no processo industrial são investidos em ativos
fundiários – condição que levaria à ampliação da pecuária e, portanto, ao
aumento do desmatamento.
Ou
seja, desmatamento tem, na verdade, relação direta com a pecuária, e todas as
ações que promovem essa atividade produtiva levam, inexoravelmente, à
destruição da floresta para dar lugar ao capim. Os efeitos decorrentes da
pecuária na Amazônia estão fartamente comprovados na literatura científica
sobre o tema da ocupação produtiva da região.
Por
outro lado, toda atividade produtiva que pressupõe o aproveitamento dos
recursos florestais promove a manutenção e a conservação do ecossistema
florestal.
O
caminho para alcançar algum tipo de sustentabilidade na Amazônia, incluindo-se
aí as dimensões econômicas, ecológicas e sociais atribuídas ao termo,
encontra-se no desenvolvimento de tecnologias e no estabelecimento de ambiente
de negócios favorável ao manejo florestal de uso múltiplo da biodiversidade.
Foi
justamente em face dessa constatação que, na segunda metade da década de 1990,
foi elaborada a Política Nacional Integrada para a Amazônia Legal, conhecida
pelo acrônimo Pnial. A Pnial chamou a atenção para a importância de iniciativas
levadas a cabo sob a tutela do Estado e financiamento público, direcionadas
para a estruturação de modelos de ocupação ancorados na exploração (por meio do
manejo florestal, obviamente) da diversidade biológica presente na região.
Um
grande esforço de política pública levou à concepção do Centro de Biotecnologia
da Amazônia, CBA, um empreendimento que associaria a realização de pesquisas à
formação de uma nova cadeia produtiva com base no aproveitamento florestal.
A
ideia era que o CBA realizasse intensa prospecção de princípios ativos, a serem
empregados na farmacologia e na indústria de pigmentos e de tinturas (para
ficar nos usos mais promissores).
Parecia
então evidente que, atuando num meio que envolve muita informação e, mais que
isso, inteligência de mercado – algo de difícil assimilação em vista da
insipiência da indústria biotecnológica no país –, o CBA não poderia operar sob
as amarras e a costumeira ineficiência da gestão estatal, como acontece no caso
das pesquisas desenvolvidas pelas universidades federais.
Para
resolver o impasse, foi criada em 1997 a Bioamazônia, uma organização social
que seria responsável pela gestão do CBA.
Mas,
cometeu-se o erro capital de vincular-se a Bioamazônia ao Ministério do Meio
Ambiente, famoso por sua incompetência em gerir processos produtivos,
circunstância que se agravou no período pós-2003.
Bastou
o questionamento dos termos de um acordo comercial celebrado entre a
Bioamazônia e uma multinacional do ramo de biotecnologia, no final da década de
1990, para que tudo fosse por água abaixo. Não apenas o acordo foi cancelado,
como foi deflagrado o processo de extinção da organização social.
Conclusão:
passados mais de 15 anos, o CBA se arrasta, com (aproximadamente) meros 30% de
sua estrutura em funcionamento e sem um modelo de gestão definido.
A
prioridade para os políticos que se preocupam com a sustentabilidade da
Amazônia deveria ser o CBA, única alternativa para a dita “zona franca verde”.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), engenheiro florestal,
especialista em Manejo Florestal e mestre em Economia e Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília (UnB).