Políticos da Amazônia atenuam fiasco brasileiro na COP
25
* Ecio Rodrigues
Não
adianta esperar alguma liderança política por parte do governo (sobretudo em assuntos
relacionados ao meio ambiente e aquecimento global), mas a participação brasileira na COP 25 trouxe um
alento, já que alguns parlamentares e governadores da Amazônia assumiram sua
responsabilidade na condução de políticas regionais para reduzir os impactos
das mudanças climáticas.
Pelo
que se viu em Madri, até o encerramento, no sábado (14/12), e no decorrer da COP
25, a 25ª Conferência das Partes para a Convenção do Clima, a comitiva oficial
brasileira, comandada pelo Ministério do Meio Ambiente, não apresentou
propostas, tendo se limitado a obstruir negociações que requerem desfecho urgente.
Sob
o entendimento simplório e equivocado de que o Acordo de Paris privilegia as
nações mais industrializadas e cria barreiras não tarifárias para dificultar que
países em desenvolvimento exportem seus produtos, a equipe do MMA perdeu o foco
da discussão – a saber, a mitigação da crise ecológica.
Para
os poucos familiarizados, barreiras não tarifárias são obstáculos impostos pelos
compradores aos países exportadores, quando estes adotam práticas consideradas
inaceitáveis em seus processos produtivos.
Por
exemplo, quando o Brasil, que é o maior produtor e exportador de carne de boi,
é acusado de desmatar e plantar capim em áreas de florestas – o que, por óbvio,
contraria o esforço mundial para reduzir as emissões de carbono –, e os importadores,
sob o argumento de que a pecuária não pode destruir a floresta na Amazônia, deixam
de comprar a carne brasileira.
Ora,
se por um lado o comércio internacional de commodities se reveste de crucial importância
para o Brasil, que tem mais de 50% do PIB subordinado ao agronegócio, por
outro, é inegável que os países associados à ONU estão sendo pressionados a
adotar salvaguardas ambientais, no sentido de reduzir os efeitos do aquecimento
global.
Dessa
forma, as nações cuja economia é baseada no setor primário terão que investir
em aumento de produtividade. Significa dizer que o Brasil deve aumentar a
oferta de carne de boi e, ao mesmo tempo, reduzir a demanda por novas terras
com florestas para cultivo de soja e capim.
Por
seu turno, países em estágio avançado de industrialização, como os que integram
o G7, grupo das sete economias mais pujantes do planeta, terão que instalar
filtros nas chaminés de suas fábricas e financiar o plantio de florestas para
retirar o carbono que lançam na atmosfera.
Nenhum
país sairá imune, livre de obrigações e prejuízos, no processo de adaptação às
mudanças climáticas e mitigação da crise ecológica atual.
A
boa notícia é que a economia de baixo carbono, que pressupõe a substituição dos
combustíveis fósseis (leia-se: petróleo e carvão mineral) na geração de energia,
possibilita o surgimento de novos ofícios – que por sua vez são superiores, em termos
de quantidade e qualidade, às ocupações a serem extintas.
Resumindo:
no caso da Amazônia, os empregos e a renda advindos da exploração sustentável
da biodiversidade florestal, no modelo preconizado pela economia de baixo
carbono, irá, no médio prazo, produzir mais riqueza que o desmatamento para
criar boi.
Felizmente,
esse foi o ponto de vista defendido por deputados federais, senadores e governadores
presentes na COP 25, durante as negociações realizadas diretamente entre países
doadores e os 9 estados da Amazônia.
Os
políticos da Amazônia assumiram o vazio de liderança deixado pelos representantes
brasileiros.
Enfim,
o aquecimento do planeta é uma realidade, o Acordo de Paris vai resolver, e a
Amazônia poder ser a chave para a solução – pouco importando a estupidez e a
indiferença do governo federal.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.